Quem sou eu

Minha foto
O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Você tem Experiência?

Olá!

Recebi alguns meses atrás este texto de autor desconhecido, compartilhado por Suzete Teza Batista, seguidora companheira de trabalho. É bem oportuno para quem trabalha com equipes e gestão de pessoas: "Você tem experiência?" Para responder esta pergunta, leia o texto, e reflita um pouco. Para mim, vale a pena amigos.

Coragem, agosto está às portas!

André Topanotti - Içara/SC - 30/08/2012






Num processo de seleção da Volkswagen, os candidatos deveriam responder a seguinte pergunta:  "Você tem experiência?"

A redação abaixo foi desenvolvida por um dos candidatos. Ele foi aprovado e seu texto
está fazendo sucesso, e ele com certeza será sempre lembrado por sua criatividade,
sua poesia, e acima de tudo por sua alma.

REDAÇÃO VENCEDORA:

Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto, já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone. Já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já confundi sentimentos. Peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado, já chorei ouvindo música no ônibus. Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda. 
 

Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro, já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já corri pra não deixar alguém chorando, já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um "para sempre" pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol, já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.

Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú, chamado coração. E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: "Qual sua experiência?"
Essa pergunta ecoa no meu cérebro: experiência...experiência...

Será que ser "plantador de sorrisos" é uma boa experiência? Não!!!
Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
Agora gostaria de indagar uma pequena coisa para quem formulou esta pergunta:

Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova?"



Autor desconhecido - Texto sugerido por Suzete Teza Batista - Içara/SC - 30/08/2012.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

LIDERANÇA PELO EXEMPLO

No artigo 'O Discurso Indesejável' abordamos a importância do líder desenvolver uma competente capacidade de comunicação. Entendo que outras técnicas e ferramentas são também relevantes para o exercício da liderança eficaz. Por isto gostaria de manter-me neste tema abordando o que em minha opinião e a técnica mais poderosa com que um líder pode "ganhar" seus liderados: "O Exemplo". Existe hoje uma demanda não só das organizações, mas fundamentalmente de nossos liderados, muito maior do que tínhamos épocas atrás. Precisa-se hoje de lideres realmente capacitados e que possam ir além do simples comandar, que inspirem suas equipes. Ouvi de Rogerio Cher no Congresso Catarinense de RH: "Os lideres de hoje precisam saber 'convocar a alma' de seus liderados para o negocio da organização." Fantástico! Digo ainda que esta capacidade é muito relevante, porque em décadas passadas o titulo do cargo muitas vezes era o bastante para que as pessoas obedecessem, em alguns casos talvez por temor de uma demissão; por uma pressão baseada na autoridade, como popularmente conhecemos como liderar "no grito". Hoje é inaceitável tal postura em empresas com uma gestão profissional e moderna. Entretanto ainda existe sim 'chefes' com este estilo de comando, isto sem mencionar que existem outras formas do ‘chefe’ oprimir e humilhar um subordinado sem precisar gritar com ele. É o que a legislação define como 'assedio moral'.

Esta necessidade tão presente e visível em nossas empresas deve-se por alguns fatores, porém percebo que um em especial, de caráter sistêmico relevante, desencadeia alguns efeitos peculiares:
- O IBGE já constatou uma mudança importante na curva etária da população brasileira, como podemos ver na imagem abaixo, extraída da página 22 do relatório do Banco Mundial, disponível em http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-1302102548192/Envelhecendo_Brasil_Sumario_Executivo.pdf

- Aliado a este motivo, temos uma crescente necessidade de profissionais por conta de um aquecimento econômico nunca antes visto na historia deste país, segundo muito já ouvimos em pronunciamentos e anedotas, porém pouco há de anedota nesta constatação;
- Acrescenta-se a este cenário as mudanças na lei da aposentadoria em 1994 que através do fator previdenciário, pressionam os profissionais a permanecerem por mais tempo em atividade para que possam se aposentar usufruindo de melhor rendimento deste benefício do INSS. 


Com todos estes ingredientes juntos temos como resultado o encontro no mesmo local de trabalho quatro gerações de características bem diferentes e peculiares: Tradicionais, Baby Boomers, Geração X e Geração Y. E o quadro é este: Todos estes profissionais precisando ser liderados. É um desafio e tanto. Dias atrás vinculei na coluna de noticias do blog, texto que trás a informação que segundo os profissionais da geração X e Y os lideres da geração 'X' foram escolhidos dentre vários estilos de lideres como aqueles que melhor conseguem lidar com as diferenças destas gerações. Penso que esta qualidade possivelmente tenha se consolidado porque foi a geração que vivenciou a transição das maiores mudanças tecnológicas e sociais dos últimos 20 anos, precisando desta maneira desenvolver grande flexibilidade e adaptabilidade sem abrir mão da ética e dos valores em suas relações.

Voltando ao centro do tema proposto, atrevo-me a pensar em voz alta: Acredito muito na eficiência da linguagem lúdica, semelhante às parábolas que eram usadas por Jesus através de seus ensinamentos. Na filosofia clínica este é um sub-modo que se dá o nome de “vice-conceito”. Usando desta técnica Jesus falava a multidões com um publico de característica bem diferenciada e muitos recebiam e entendiam sua mensagem. Mais próximo a ele, seus discípulos, também tinham características bem distintas: Pescadores, cobradores de impostos, médicos, financistas. Uma equipe bem eclética. Em diversas oportunidades, após seus ensinamentos por parábolas, Jesus chamava seus discípulos em particular e explicava-lhes o significado das parábolas, realizando assim o treinamento 'no local de trabalho'. Eis um exemplo de liderança prática, que não só 'manda', mas que explica, ensina e realiza no dia a dia, com postura eficiente e eficaz. Prova desta eficácia é que mais de 2000 anos depois, cá estamos nós falando de seus ensinamentos e suas técnicas.


Penso que estamos frente a uma situação organizacional onde a prática da liderança pelo exemplo pode ser um eficiente método de convocar o coração, a alma como disse Rogério Cher, seja de um profissional da geração baby boomers, tradicionais, 'X' ou 'Y'. Digo por percepção cotidiana que esta ultima geração citada, a 'Y', por dispor de muita informação será a que menos precisará ser 'ensinada', mas a que mais necessita ser conquistada pelo 'coração'. É uma geração ávida por heróis, por exemplos que os conquiste. Sinal desta provavel constatação é que muitos dos heróis que foram sugeridos a esta geração foram resgatados de décadas passadas.


Encaminho-me para o findar deste artigo lembrando de uma breve história, onde numa pequena cidade, religiosos da localidade instituíram uma lei para que nenhuma pessoa cruzasse a frente de um sacerdote no horário das orações, pois onde o sacerdote estivesse, dado o badalar do sino, estes sacerdotes deveriam parar e realizar suas orações, não podendo neste momento nenhuma pessoa cruzar a frente do sacerdote, pois este deve estar 100% concentrado em suas orações naquele momento. Certa feita, uma turista desavisada percebeu o toque do sino, porém não viu que logo a sua frente ia um sacerdote. A turista não conhecendo a lei do local continuou calmamente sua caminhada. Passou pelo sacerdote, foi até uma banca de jornal que estava a sua frente e retornando pelo mesmo caminho, quando novamente cruzou pelo sacerdote, que desta vez a interpelou muito indignado: “Não conheces nossas regras e nossa lei? Não sabes que nós sacerdotes não podemos ser cruzados pelo caminho para que possamos cumprir nosso dever de ficarmos concentrados 100% em nossas orações?” Desculpando-se respondeu a turista: “Mil desculpas, mas realmente não conhecia a lei deste lugar, senão não a teria infringido, mas permita-me pergunta-lo: Se é dever sacerdotal ficar concentrado 100% nas orações, como o senhor sacerdote me percebeu cruzando em sua frente?”

Pode parecer inofensivo o detalhe desta história extraída do Talmude, contada por Shalom Rosenberg em uma de nossas aulas da pós-graduação, mas para mim, revela dois aspectos riquíssimos da liderança pelo exemplo: Primeiro é a prática e  a vivência que efetiva qualquer regra, teoria ou lei. A prática e o exercício dos fundamentos e valores que acreditamos nos creditam falar e defender tais práticas frente à nossas equipes. Discursos emocionados e sermões moralistas, sem a base vivencial referendada pelo exemplo, para os liderados destas novas gerações, que não temem mais a demissão, não passará de conversa fiada e terá grande chance de ser motivo de piadinha em corredores e no cafezinho. E o segundo ensinamento desta “parábola”: Líder que dá exemplo nunca precisa achar alguém para colocar a culpa por suas falhas. A prática de seus valores leva o líder não só a excelência da execução, mas também o ensina na humildade, pois praticando, o líder entende que sempre poderá fazer melhor, e se errar, reconhecer a falha o fará mais forte ainda.

Pense nisto, e faça uma ótima semana!

Por André Topanotti – Criciúma/SC – 22/07/2012.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Nossos Velhos Heróis

Olá!

Separei para leitura um texto de Martha Medeiros, compartlhado por Beto Colombo dias atrás e que guardei em meu arquivo no blog para uma ocasião especial. Bem, creio que chegou esta ocasião. O texto é de profundo conteúdo existencial, que vale a pena ler, refletir e depois ir dar um abraço em "seus velhos".

Pai e mãe: Te amo! Saudades!




Querido leitor, aceite o meu fraternal abraço. Nosso tema hoje é sobre nossos velhos, nossos pais.

Li recentemente um artigo da escritora Martha Medeiros, cujo título é o mesmo que o meu: “Nossos velhos”, que julguei ser importante que mais gente pudesse refletir.

Pais heróis e mães heroínas do lar, escreve Marta Medeiros, lembrando que muitos de nós passa boa parte da nossa existência cultivando estes estereótipos. Mas, chega o dia em que o pai herói começa a passar o tempo todo sentado, resmunga baixinho e puxa uns assuntos sem pé nem cabeça. Além do pai herói, também a heroína do lar começa a ter dificuldade de concluir as frases e dá de implicar com a empregada. “O que papai e mamãe fizeram para caducar de uma hora para outra?”, pergunta ela. A resposta é implacável e inadiável: Envelheceram... Nossos pais envelhecem. Ninguém havia nos preparado para isso.



Boa lembrança da escritora gaúcha, ninguém nos ensinou e nem falou a sério que nossos pais iriam envelhecer. “Um belo dia eles perdem o garbo, ficam mais vulneráveis e adquirem umas manias bobas”, enraíza ela.

Chega um tempo em que nossos pais se cansam de cuidar dos outros e de servir de exemplo: agora chegou a vez de eles serem cuidados e mimados por nós, nem que para isso recorram a uma chantagenzinha emocional. Afinal de contas, eles têm muita quilometragem rodada e sabem tudo, e o que não sabem eles inventam, escreve Martha Medeiros.

Nossos heróis, agora, não fazem mais planos a longo prazo, dedicam-se a pequenas aventuras, como comer escondido tudo o que o médico proibiu. Estão com manchas na pele. Ficam tristes de repente. Mas, ressalta Martha Medeiros, não estão caducos: caducos ficam os filhos, que relutam em aceitar o ciclo da vida.

Todos sabemos que é complicado aceitar que nossos heróis e heroínas já não estão no controle da situação. Estão frágeis e um pouco esquecidos, têm este direito, mas seguimos exigindo deles a energia de uma usina. Não admitimos suas fraquezas, seu desânimo. Ficamos irritados e alguns chegam a gritar se eles se atrapalham com o celular ou outro equipamento e ainda não temos paciência para ouvir pela milésima vez a mesma história que contam como se acabassem de tê-la vivido.

Em vez de aceitarmos com serenidade o fato de que as pessoas adotam um ritmo mais lento com o passar dos anos, simplesmente ficamos irritados por eles terem traído nossa confiança, a confiança de que seriam indestrutíveis como os super-heróis. Provocamos discussões inúteis e os enervamos com nossa insistência para que tudo siga como sempre foi.

Essa nossa intolerância provavelmente só pode ser medo. Medo de perdê-los e medo de perdermos a nós mesmos, medo de também deixarmos de ser lúcidos e joviais. Com todas as nossas irritações, só provocamos mais tristeza àqueles que um dia só procuraram nos dar alegrias.

Por que não conseguimos ser um pouco do que eles foram para nós? - pergunta a escritora. Quantas noites estes heróis e heroínas passaram ao lado de nossa cama, medicando, cuidando e medindo febres! E nós ficamos irritados quando eles esquecem de tomar seus remédios, e ao brigar com eles, os deixamos chorando, tal qual crianças que fomos um dia.



É uma enrascada essa tal de passagem do tempo. Ensinam-nos a tirar proveito de cada etapa da vida, mas é difícil aceitar as etapas dos outros... Ainda mais quando os outros são nossos alicerces, aqueles para quem sempre podíamos voltar e sabíamos que estariam com seus braços abertos, e que agora estão dando sinais de que um dia irão partir sem nós.

Façamos por eles hoje o melhor, o máximo que pudermos, para que amanhã quando eles já não estiverem mais aqui conosco possamos lembrar deles com carinho, de seus sorrisos de alegria e não das lágrimas de tristeza que eles tenham derramado por nossa causa.

Afinal, nossos heróis de ontem... Serão nossos heróis eternamente...

É assim como nossos heróis se apresentam à Martha Medeiros e para mim hoje. E você, o que pensa sobre nossos velhos heróis?

Artigo veiculado na Rádio Som Maior FM no dia 14/05/2012 e no Jornal A Tribuna no dia 15/05/2012.

domingo, 8 de julho de 2012

DISSIMULAÇÃO DEMOCRÁTICA


Não costumo ser negativo em meus textos e considerações, mas peço licença desta vez para manifestar uma de minhas decepções. O que me aborrece em ano de eleição é o tal modelo de democracia que vivemos. Nada contra a democracia, mas ela também parece não estar muito aí pra nós. Nem sei se deveria continuar escrevendo sobre esse tema, mas como eu tenho um submodo significativo em minha forma de agir, que na filosofia clínica chamamos 'em direção ao desfecho', já que comecei a escrever agora então vou até o fim. Funciona popularmente como: 'Um boi pra não entrar na peleia; A boiada pra não sair dela'. Antes de propor no blog a enquete sobre eleições, tive a ideia de mobilizar alguns parentes e amigos a fazermos um protesto ácido porém silencioso, e penso eu diferente, nas eleições municipais deste ano: Pintar a cara de palhaço e ir votar. Alguns concordaram outros não. Outros ainda me perguntaram: Para quê, adiantará algo? Será que irão te entender? Bem, o fato é que nessa encenação circense de democracia me sinto fazendo o papel de palhacinho de picadeiro. Mensalões, cuecões de dinheiro, oração abençoando propina, 'Joana D'Arc' de mãos dadas com seus inquisitores; a caça e o caçador fazendo ‘parzinho’, a chapeuzinho vermelho ficando amiguinha do lobo mau para dominar o castelo de Grayskull’ e expulsar ‘Darth Vader’ de lá porque ele é do lado negro da força. Olhe amigo, se você não entendeu nada, melhor assim sabe. Sigamos.


O fato é que algumas questões históricas nos mostram que todo tipo de revolução é no mínimo questionável o destino para onde o caminho da revolução nos leva. E outra: A história será  contada por quem vence a revolução. Na verdade grande parte do movimento democrático nos tempos de eleições, tenta nos vender a ideia que algo vai mudar; Parte significativa da massa popular não acredita muito que algo mude de fato, mas não fala nada, fica 'quietinha na moita'. Estes para mim são os medianos, os medíocres. Sem ofensas, pois mediocre significa aqueles que são criados para viver 'no meio'. E não existe nada de mal nisto, apenas não chega a ser de todo um bem. Outra minoria um pouco mais esclarecida tem a ‘certeza’ e sabe o porquê nada vai mudar ‘muito’. Mas 'ai' destes se abrirem a boca e criticarem os defeitos e as mazelas da democracia. Como li em uma das obras de Luiz Felipe Pondé, Guia Politicamente Incorreto da Filosofia, a comunidade democrática geralmente é muito 'dodói' quando é colocada na parede e cobrada de forma veemente por mudança. Sua reação é como de uma criança chorona que não aceita ser contrariada, faz vexame e envergonha os pais na frente das visitas. Se tenho vergonha dela? E como! Olhem, nossa democracia perdeu a vergonha. Seria muito mais nobre reconhecermos que realmente precisamos de um 'pé no traseiro' para realizar uma Copa por exemplo. Mudei de assunto? Não mudei não, espere! Alguns dirão que os europeus arrogantes veem aqui e nos ofendem. Estes são os ‘espinhados’ democráticos. Letargia, digo eu!! O Brasil é uma democracia lenta e precisamos de um sistema digestivo muito bom pra conviver com tudo isto. Anos e mais anos pra julgar um mensalão gente!... Mensalão? O que é isso? Que ano foi mesmo? Ah André, esquece vai, não seja tão pessimista... Dirão os medianos. Quem aí pode dar um pé no traseiro da justiça? Para as obras da Copa tivemos o corajoso Sr. Jérôme Valcke secretário geral da FIFA, que em certa feita foi muito criticado... Mas agora parece que aquilo que ele disse estava certo: É estamos atrasados. Não vai dar tempo mesmo! Disse um democrático de plantão que pediu o afastamento do corajoso secretário. Mas e para nossa BR 101 SUL-SC? Chamem por favor, o Sr. Valcke pra dizer também que precisamos dar um pé nas nádegas da turma do DNIT, do Ministério dos Transportes e dos nossos representantes. Que pena, lá os democráticos da FIFA acataram o conselho dos democráticos brasileiros e o afastaram porque ele foi “sincero demais”. Seria uma piada se não fosse um desastre conceitual. Acaso podemos graduar uma virtude?


Renomado jornalista e radialista de nossa região, inquieto como eu talvez, questionava por que a maioria das pessoas não aceita a corrupção em esferas federais, mais distantes da nossa realidade, porém aceitam ou se posicionam de forma mais compassiva com a corrupção local justificando-se atrás daquela máxima conhecida: apronta mas faz. Em minha opinião respondo a questão do competente jornalista da seguinte maneira: 'Quanto mais perto, mais as pessoas se envolvem e deixam de perceber que são bem parecidas 'talvez' com aquele que elas criticam e que estão 'lá encima', distantes. Ou não. Percebem que também tem tudo haver com a corrupção de lá, mas como 'aqui' não é conveniente ficar falando, fiquemos quietos. Daí então é que eu digo que a comunidade democrática é muito dodói, porque quando alguém no meio da multidão levanta e grita que cada povo tem o governo que merece, saltam rapida e provavelmente outros dez democráticos tentando esganar o pescoço do corajoso, sentenciando-o a um herege antidemocrático! Pois então, cadê a democracia e a liberdade de expressão?! Percebo que terrível coisa é cair nas mãos do povo. Ser pego pelas garras da impiedosa e pseudo-esclarecida maioria mediana. Mas a Voz do Povo, não é a voz de Deus!?... diria um democrático religioso. Certa vez li num pequeno e inteligente artigo produzido por alunos e professores da Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro que esta expressão veio do latim vox populi, vox Dei, traduzida quase literalmente. Há milênios o povo simples considera que o julgamento popular é a voz de Deus. Mas de onde vêm a origem do termo? Tal crença tem raízes na cultura Acaia, no Peloponeso, onde o deus  Hermes se manifestava em seu templo do seguinte modo: a pessoa que desejava uma orientação ou resposta entrava, fazia a pergunta ao oráculo, e ao sair do recinto do templo tapava as orelhas com as mãos. As palavras errantes ditas pelos primeiros transeuntes na rua seriam as respostas divinas. Perguntava-se a um deus, mas era o povo quem respondia. Interessante não!? Nada haver com democracia!  Aqui no Brasil um famoso instituto de pesquisa de opinião pública, o Vox Populi foi um dos primeiros a prever a vitória de Fernando Collor nas eleições presidências de 1989 por larga margem. Curiosamente, não previu seu afastamento. Teria faltado a vox Dei?
 





Não pretendo desmerecer o modelo democrático, nem defender ditaduras ou monarquias. Gostaria apenas de provocar o pensamento crítico sem que tentem tapar minha boca ou cortarem meus dedos, sob a alegação de que sou antidemocrático. Só não quero ser como aquela maioria mediana muito homogênea e quase sem identidade, que assume o que os outros dizem sem um pingo de critério e análise. Não quero ficar no morno. Também não quero ser aquele papai bobão que vê seu filho marchando errado na parada de 7 de setembro, e critica os demais dizendo que só seu filhinho está certo. Não quero responder, quero poder perguntar sem ser julgado e condenado por isto. Pensemos, reflitamos, ouçamos mais e falemos menos! Continuando a provocar você que leu até aqui, e quem sabe o nosso competente jornalista: Na verdade não vejo na prática nenhum problema ou diferença entre os "de longe" e os "de perto". Vejo agora também que não há nenhum problema em nosso sistema democrático. Que os defensores incondicionais da democracia não se justifiquem dizendo que o problema está naqueles que nos representam ou naqueles que escolhem o que está a representar. A maioria de nossos representantes "de lá" é bem parecida, muito parecida também com os que estão "aqui" perto de nós, em nossa região. E todos eles, bem semelhantes também com aqueles que os elegeram (nós), pois a democracia é um sistema baseado na representação da maioria popular, e foi bem daqui, do meio do povo, que todos eles saíram. Em minha opinião, esta é a grande mazela da democracia.

Isto provocou você? Quer então deixar de representar e assumir seu papel como eleitor? Vamos com nossa verdadeira cara votar este ano? Pense nisto! Se vai valer a pena eu não sei, mas pelo menos eu não gostaria de ficar na ‘medianidade’.



Por: André Topanotti - Criciúma/SC - 08/07/2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Cristianismo e Catolicismo

Um forte abraço aos seguidores deste Blog.

Como este tema para mim é como arranhar as unhas numa lousa negra, traduzindo: Me provoca de alguma forma, não há como passar despercebido; Separo-o para sua "especial" leitura. Ótimo texto para quem curte história, religião, política e filosofia.

Não é um texto em si espiritualista como o do Beto Colombo, que também está publicado no blog e indico:  Deus não é Cristão. Neste artigo em especial  Aloysio Tiscoski, companheiro de caminhada na filosofia clínica,  faz uma reconstrução histórica bem objetiva e comentada, além de um paralelo crítico com nossa sociedade contemporânea muito legal. Para mim, valeu a pena todos os minutos investidos na leitura do texto.

Força e coragem amigos!



Por: Aloysio Tiscoski - 01/07/2012 - Florianópolis/SC
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) divulga que a Igreja Católica teve redução de 1,7 milhão de fiéis, uma redução de 12,2%. De 1970 para 2010 a redução de católicos brasileiros, foi de 91.8% para 64,6%. Na contramão, os evangélicos crescem e no mesmo período subiu de 5,2% para 22,2% O aumento desse segmento foi puxado pelos pentecostais, que se disseminaram pelo país na esteira das migrações internas. A população que se deslocou era, predominantemente de pobres que se instalaram nas periferias das grandes cidades. Com fraca presença da igreja católica nestes locais, as igrejas pentecostais se aproveitaram da situação e construíram suas igrejas e tiveram a preferência desta população. Previsão dos demógrafos é o fim da maioria católica no Brasil a partir de 2030. Como isto é apenas uma previsão com base na evolução recente, tudo pode ser diferente. 

O que é ser católico? É ser batizado? Ir à missa? Levar os filhos na catequese? Católico, significa universal. Ser católico poderia ser todo aquele que assim se declara? Esta é sim a definição sociológica dada pelos pesquisadores.  A culta Europa tem como católicos, segundo pesquisa da própria Igreja Católica, apenas 25% de sua população.  Como sempre ocorre quando de trata da história, o passado nos ajuda a entender o presente, nos leva a compreender os desafios contemporâneos que a Igreja Católica e o catolicismo enfrentam. O cristianismo se originou a 2 mil anos como uma seita judaica marcada por uma obsessão: o fim do mundo e o julgamento final dos homens, o apocalipse, que é também o título do último livro do chamado Novo Testamento. A Palestina judaica de então era uma colcha de retalhos de movimentos políticos e religiosos com tendências beligerantes e fanáticas. A grande maioria dos judeus recusava o carpinteiro Jesus como Messias, por ter fracassado em realizar a esperada libertação do seu povo do domínio romano. Grande polêmica ao redor da cristologia é sobre quem é Cristo? Homem? Deus? Homem e Deus? Como se relacionam nele essas duas naturezas, a divina e humana. Onde termina uma e começa a outra? Quando Jesus chora no jardim da oliveiras ou se desespera na cruz, é o homem ou Deus? Como pode Deus agonizar? São questões de grande profundidade que esta identidade teológica de Jesus impõe para pensarmos os desafios do catolicismo na atualidade.  Qual o impacto disso no necessário diálogo inter-religioso, bem como nas próprias polêmicas internas do catolicismo romano? As controvérsias históricas e teológicas são infindáveis, e o número de documentos e suas interpretações são mais que um oceano de possibilidades. Quem eram os primeiros cristãos? Judeus pobres, em sua maioria. Em seguida judeus helenizados e romanizados, já de maior poder aquisitivo. 200 anos após, o cristianismo era uma religião dos povos mediterrâneos, helenizados e romanizados, agora já atingido camadas sociais mas abastadas. 

Eruditos cristãos que dominavam o grego e o latim realizaram a fusão entre uma seita judaica primordial e o que veio a ser, um corpo cultural razoavelmente sólido e dominante no Império Romano e no ocidente medieval. A tradição filosófica grega foi assimilada, tal como a ideia da alma, psicologia, política, ética e moral, entre outros.  O Cristianismo nunca foi em sua história uma unidade. Sempre houve, assim como hoje, várias formas de cristianismo, sendo o catolicismo romano, assim como conhecemos, apenas uma delas, embora a mais importante e com maior número de seguidores, com grande importância simbólica e histórica. Se o cristianismo nunca foi um só, nos dias atuais vemos que esta multiplicidade de denominações cristãs esta amplificada. Entre os exemplos mais significativos, podemos citar os seguintes: catolicismo romano, ortodoxia bizantina, protestantismo histórico, pentecostalismo, neopentecostalismo, testemunhas de Jeová, o espiritismo de origem kardecista e a umbanda caracterizado pelo sincretismo religioso.  Historicamente, teologia e política sempre estiveram unidas, como quando da permissão do culto da religião cristã no império romano pelo imperador Constantino no inicio do século IV , e quando dá oficialização do cristianismo pelo imperador Teodósio já ao final do mesmo século.  De sua raiz judaica o cristianismo trouxe uma marca que será bem importante para o catolicismo do final do século XX, que é a crítica ética, social e política. A vocação de crítica ética e política, também chamada de profetismo hebraico, ao encontrar as utopias políticas modernas, descendentes de Jean-Jacques Rousseau e karl Marx, geraram um dos fenômenos teológicos mais importantes da história do catolicismo romano da segunda metade do século XX, a Teologia da Libertação. 

O domínio da Igreja Católica na Europa ocidental entre os séculos V e XV é quase pleno. A idade média, mais conhecida como a idade das trevas, mito este criado pelos iluministas franceses do século XVIII. A idade média é essencial na história do catolicismo porque nela a Igreja Católica quase realizou sua vocação de herdeira do espólio do Império Romano, para legislar sobre toda a Europa. Além das pressões internas e externas com o crescimento do islamismo e das cruzadas, o renascimento, movimento iniciado na Itália, esta tendência levou ao racha protestante com Lutero e Calvino. Lutero foi protagonista de um fenômeno que marcou definitivamente a história do cristianismo, com a quebra da unidade ocidental e a perda definitiva de Roma sobre todo o ambiente cristão. Este também foi o evento que dá inicio a separação da Igreja e do Estado, daí a expressão Estado laico. 

É comum dizer que a ciência a partir do século XVII matou Deus. Isto nada tem de científico. Deus não é uma variável passível de ser testada em laboratório. O que a ciência fez foi dar ao homem um método para construir teorias sobre o mundo que fossem passíveis de alguma medida, de teste em laboratório.  A partir das teorias de Renê Descartes, a ciência avançou muito e uma vida racional acaba assumindo contornos de um confronto crescente entre verdades religiosas e verdades científicas, republicanas e democráticas. O próprio crescimento das sociedades modernas e sua multiplicidade cultural e religiosas, dentro do convívio republicano, fará surgir uma série de impasses que o catolicismo romano terá de enfrentar nos dias atuais. O movimento conservador vê na religião um fato essencial da vida psicológica e social, sem o qual a moral entraria em decadência, segundo estes. Esta defesa poderia ser religiosa em si ou apenas estratégica, tendo a religião como aliada necessária na defesa do tecido moral e político de uma sociedade em vias de destruição pelo processo modernizador. 


A modernidade é muitas vezes vivida como um trauma histórico, cheio de emoções, amor e ódio. Época inaugurada pelas revoluções sociais, pelo protestantismo, pela ciência e pelo secularismo, o que resume as agonias do catolicismo desde então: perda da hegemonia da cultura cristã, perda do monopólio da verdade para a ciência, perda do poder público para o estado laico. Estas são as agonias de toda a cultura ocidental que é judaico-greco-romana. 


Na filosofia, é sabido que as religiões sempre tiveram papel preponderante naquilo que os povos compreendem como fundamento dos valores morais. Religiões são definidas como sistemas de sentido para a vida das pessoas neste mundo e no mundo vindouro que elas acreditam existir. Originalmente moral e ética são sinônimos. Com o tempo a moral acabou por constituir-se no estudo dos hábitos e costumes, e a ética passou a designar a disciplina filosófica específica que busca estabelecer as normas para esses comportamentos de modo reflexivo e racional. A ciência e sua filha a tecnologia se aceleram constantemente e a igreja católica com sua hierarquia rígida é marcada por uma grande lentidão decisória. Enquanto isto as igrejas pentecostais são ágeis, bastando encontrar um espaço abandonado, uma bíblia e alguém que fale bem, microfone e algumas cadeiras, para abrir uma nova igreja, via de regra nas periferias onde a igreja católica está ausente.

Enquanto a Igreja Católica se perdeu numa pastoral política, os pentecostais trabalham o cotidiano concreto da vida das pessoas, onde ter casa própria, casamento estável, dinheiro, emprego etc. são resumidas na formula da abundância de bênçãos. Max Weber imortalizou essa ideia na relação que fez entre espírito do capitalismo e burguesia protestante do norte europeu em sua obra clássica A Ética protestante e o espírito do capitalismo. Seria o fato de o Brasil ter predominância de pobres e iletrados que leva a ganhos pastorais de propostas como estas? 


A filha da ciência, a tecnologia, trás através das redes sociais e a comunicação rápida entre os jovens, desafios e oportunidades adicionais a todas as correntes religiosas, somando-se ainda temas como homossexualidade, novos modelos de família, ambientalismo e sustentabilidade. O que podemos dizer é que o catolicismo, apesar de todos os desafios, permanece sendo uma das denominações cristãs de maior apelo como sistema cotidiano de sentido, e eternidade. Tem ainda uma enorme elasticidade e capacidade de adaptação às transformações históricas, mesmo depois de muita gente afirmar sua morte, sucumbindo às ideias de Freud, Nietzsche, Marx e Darwin. A igreja tem a seu favor 2 mil anos de experiência com a psicologia do humano e suas mazelas, através da observação empírica e do enfrentamento delas. O foco de sua atenção tem sido identificar no que a modernidade fracassaria como agente doador de sentido para homens e mulheres contemporâneos. 

O catolicismo continua a encantar muita gente.