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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

SER OU ESTAR, OUTRA QUESTÃO.


Bastou compartilhar com alguns amigos e parentes que iria fazer o curso de filosofia clinica para começar a ouvir a expressão ícone da obra de Shakespeare "Hamlet" em um tom irônico e provocativo: "Ser ou não ser, eis a questão..."  Entendi ser esta a maneira do interlocutor interagir comigo num tema onde os assuntos parecem ser insólitos e de pouca relevância, e para quem vive em uma era onde para se somar 4 + 3 precisa-se de pelo menos uma calculadora de açougueiro, tamanha a preguiça que nossa geração tem de usar seus neurônios. Pensar e estudar sobre o homem suas origens e historia, parece ser coisa de pessoas desconectadas, "viajonas", que não são claras, que são subjetivas e pouco contribuem para as questões práticas do dia-a-dia das empresas e das pessoas. Porém, eu acho interessante quando estou fazendo uma entrevista de emprego: Questiono porque o entrevistado quer sair de onde está trabalhando, e não é raro ouvir a resposta: "Porque não concordo com a filosofia de trabalho do fulano..."  Ou: Por que você quer trabalhar nesta empresa? "Ha... Vocês tem uma filosofia empresarial vencedora..." Bolas! Na hora de 'estilizar' o discurso a palavra filosofia aparece como que permeando as letrinhas, lustrando o intelecto, passando uma 'cerinha' nas frases de efeito para tentar seduzir o entrevistador ou algum ouvinte desavisado. Não eu!  É legal ver os tagarelas opiniosos que para tudo tem um comentário pronto para repetir, escorregando em assuntos que sequer leram dois parágrafos de uma obra filosófica e já saem emitindo opiniões empacotadas, típicas de uma geração acostumada a se alimentar de enlatados, inclusive os literários. Que fique claro, não tenho nada contra enlatados, apenas prefiro a comida caseira da minha esposa!
 
 
Volto ao recorte da obra para contextualizar: "Ser ou não ser" aparece na obra no 3º Ato, 1ª Cena, quando Hamlet  precisa tomar certa decisão: Lançar-se sobre a realidade dura do conhecimento ou permanecer na proteção da ignorância, na sombra do não conhecer:

Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e setas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja; Ou insurgir-nos contra um mar de provações e em luta pôr-lhes fim? Morrer... Dormir: não mais.

Erroneamente algumas pessoas usam a expressão para vincular a situação a um pensamento existencial de alguém que está a pensar sobre si, sua origem ou futuro destino. Engano: Hamlet precisa tomar uma decisão entre ter determinada consciência e assumir os riscos pelo conhecimento adquirido, ou não, “dormir” e apenas deixar o mundo decidir por si. Na imaginação popular a fala é pronunciada por Hamlet segurando a caveira de Yorick, embora as duas ações estejam longe de si no texto da peça. Também é importante dizer  que Hamlet não está sozinho no palco: Ofélia, Polônio e o Rei, outros personagens estão escondidos na cena, e ainda existe a dúvida debatida por diversos editores sobre o fato de Hamlet ver ou não o Rei e Polônio. Caso ele realmente o esteja vendo, talvez tenha pronunciado "indiretas" através de suas metáforas.

Por este motivo trago ao momento uma situação cotidiana que me desconcertou dia destes: Depois que publiquei no blog o artigo “O Silencio do Diretor”, texto em que abordo a redução do "eu" em papéis existenciais como “gerente”, “diretor”, o profissional de sucesso, recebi uma crítica de um amigo próximo. Ele perguntou-me: “Por que quando tu mandas o email pra mim tu assinas com teu cargo embaixo?” Respondi dizendo que aquela identificação é padrão dos e-mails da empresa e ela aparece assim que começamos a digitar o email. Ele continuou me provocando: “Cuida, porque como tu mesmo escreveste dia destes, você não é só aquilo que você se identifica no email.” Então... Entendi que eu não sou o tal coordenador de RH que me identificava no email. Na verdade hoje eu “estou” coordenador, por tomar uma decisão de junto com outras pessoas fazer parte daquele determinado time. Amanhã ou num futuro próximo posso deixar a empresa. Exemplo de que apenas "estamos" ocorre quando algumas pessoas são demitidas e sentem que perderam o sobrenome. É comum quando liga-se para algum estabelecimento comercial e depois da identificação do nome, a telefonista questiona: "seu fulando" da onde?... Fica então aquele silêncio... A empresa passou a ser o sobrenome do "fulano". Será que eu "sou" este que se identifica pelo cargo?

 
Observando um pouco mais Hamlet, penso que nossas decisões podem não definir quem somos, mas influencirá consideravelmente em como estaremos e o que viveremos numa determinada etapa da vida, seja logo amanhã ou num futuro mais distante. Em uma época de mudanças constantes e intensas, a insegurança e a dúvida sobre o amanhã e o futuro são sentimentos bem presentes quando tratamos dos processos de mudanças. Este princípio pode ser observado à luz do que Heráclito de Éfeso diz, quando fala da impermanência do homem. Heráclito foi o pensador dialético mais radical da Grécia antiga. Para ele o homem não tem estabilidade alguma, está em constante movimento, modificando-se, mudando. É dele a famosa frase “um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”, porque nem o homem nem o rio serão os mesmos. Por vezes sentimos uma sensação de nostalgia quando voltamos a um lugar onde vivemos bons momentos e desejamos  reviver aqueles momentos. Talvez o sentimento da nostalgia seja um estágio anterior ao da frustração, porque certamente não voltaremos a sentir àquela sensação vivenciada outrora, na mesma medida e intensidade. Para não ser acometido constantemente pela nostalgia, denunciadas pelo uso de expressões como:  “naquela empresa eu fazia assim”, “quando fui promovido há 10 anos atrás”, olhando para o passado e achando que somos os mesmos, é importante se reposicionar: É sábio entender que o “ser” pode mudar e esta condição depende também do onde ele pode “estar”. Voltar à pizzaria onde costumava-se namorar, não quer dizer que o casal sempre sentirá o mesmo “friozinho” na barriga de 30 anos atrás. Isto pode acontecer se talvez o par atualize seus discursos, reposicione suas ideias de mundo, do outro e de si mesmo, pois o momento é outro, o “outro” também mudou, e até a pizza não será a mesma. O sabor poderá ser o mesmo ou até melhor, se a boca não estiver dormente pelas reclamações de que não se fazem mais dias como àqueles que se passaram. Passaram meu amigo! Nós estamos em outro dia. Para mim, vale a pena "estar" vivendo o aqui hoje, sem o compromisso do para sempre assim, para poder quem sabe, a vir "ser" um alguém melhor amanhã. Pense nisto!
 
Força e virtude amigos!
 
 
 
Por André Topanotti,  Criciúma/SC,  28/08/2012.

sábado, 25 de agosto de 2012

A palavra feia

Olá...

Guardei este texto por alguns meses e resolvi publicá-lo pois terminei fazem algumas semanas, de "reler" um livro do Pondé: Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. Sinceramente a escrita dele não é nada simpática, mas o mundo está abarrotado de tanta gente simpática que por causa da tal praga "PC", se torna tão sem sal que diferenciar esta gente de um pé de chuchu se torna tarefa difícil. Olha tem salada de chuchu bem mais interessante e saudável! Por isso, acho que precisamos de vez enquando ler 'caras' como Pondé e Nietzsche para "temperar" algumas conversas, caso contrário corremos o risco de dormir no meio do monólogo. No texto abaixo, Pondé indiretamente classifica boa parte da sociedade de "narcisistas", e traz um viés filosófico ao seu estilo, que nos faz pensar sobre a cultura que estamos produzindo. Por isso, para entender qual é a palavra feia, vale a pena ler este artigo.

Tenha e faça um ótimo final de semana!

André Topanotti, Criciúma/SC, 25/08/2012.



Por: Luiz Felipe Pondé

A primeira causa do impulso eugênico é o fato de que a vida é um escândalo de sofrimento Anos atrás, tive o prazer de conhecer o filósofo alemão Peter Sloterdijk. Encontrei com ele algumas vezes em sua casa em Karlsruhe, Alemanha. Partilhamos o gosto pelo charuto cubano, pelo vinho branco em grandes quantidades, pelo frango que sua esposa faz, pela visão trágica de mundo, pela heresia cristã pessimista conhecida por gnosticismo e pela pré-história. E também por usar palavras feias na filosofia e no debate público. Cheguei a entrevistá-lo para esta Folha duas vezes. Em uma delas, em 1999, a pauta era a acusação que outro filósofo alemão, Jürgen Habermas, fazia a ele de retomar a palavra "eugenia" em solo alemão. Eugenia quer dizer criar jovens belos, bons e perfeitos. Esta controvérsia chegou até nós e ficou conhecida com o título do livro causador dela, "Regras para o Parque Humano", publicado entre nós pela editora Estação Liberdade. "Parque Humano" aqui significa parque num sentido quase zoológico. Nesta peça filosófica, Sloterdijk dizia que o projeto eugênico ocidental é filho de Platão ("A República", por exemplo), e que se ele não deu certo nas engenharias político-sociais utópicas modernas, nem na educação formal propriamente, estava dando certo na biotecnologia e nas tecnologias de otimização da saúde. Alguém duvida que academias de ginástica, consultoras em nutrição, espiritualidades narcísicas ao portador (como a Nova Era e sua salada de budismo, decoração de interiores e física quântica), cirurgias e tratamentos estéticos, checkups anuais, ambulatórios de qualidade de vida, pré-natal genético e interrupção aconselhada da gravidez de fetos indesejáveis sejam eugenia? E a primeira causa do impulso eugênico é o fato de que a vida é um escândalo de sofrimento, miséria física e mental.




Mas, a reação a Sloterdijk na época não foi propriamente uma negação de seus postulados (difíceis de serem negados), mas sim uma reação pautada pela covardia filosófica e política diante da palavra feia que ele falava. Esta palavra feia era sua recusa em negar nossa natureza eugênica e a opção contemporânea pós-nazismo por realizar a eugenia no silêncio de uma razão cínica que nega suas motivações morais: tornar a vida perfeita sem dizer que está fazendo isso. Ao tentar por "na conta do nazismo" a fala de Sloterdijk, Habermas e seus discípulos fugiam do debate, negando a fuga da agonia humana diante do sofrimento via nossa decisão (silenciosa) de tornar a vida perfeita a qualquer custo, mesmo que esta decisão venha empacotada em conceitos baratos como "qualidade de vida", "felicidade interna bruta" ou "direito a autoestima". Mas, engana-se quem pensar que Sloterdijk está querendo "aliviar" a intenção eugênica ao remetê-la a miséria estrutural da vida. Sloterdijk é um filósofo trágico, e por isso ele parte da aporia (impasse) da condição humana para pensar sua história, sua moral, sua política. Sua intenção é trazer à luz aquilo que não se quer trazer à luz, ou seja, que nossa cultura e nossa ciência são eugênicas apesar de dizer que não são. A palavra feia aqui é um grito contra o cinismo dos que negam a intenção eugênica. Mesmo que alguns intelectuais de esquerda tentem afirmar que o projeto político utópico revive nas mãos dos árabes e suas eleições islamitas, ou da crise do Euro, ou de desocupados que ocupam os espaços públicos dos que têm o que fazer, intelectuais estes que se apropriam de modo quase oportunista das constantes crises que acometem o mundo, sejam elas capitalistas, sejam elas de qualquer outra natureza, a verdadeira "esquerda" hoje é a afirmação do direito humano a ser mestre do seu destino através das ciências biotecnológicas e seu inegável impacto sobre as condições imediatas da vida cotidiana: longevidade, cirurgias transformadoras do corpo "original", vacinas, antibióticos, psicofármacos, contraceptivos, Viagras, terapias genéticas preventivas. Diante do cinismo, Sloterdijk me disse uma vez que nos restava o "terrorismo pedagógico": dizer palavras feias que as pessoas não querem ouvir em seu sono dogmático.

Por: Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 30/04/2012.

domingo, 19 de agosto de 2012

Meu coração me traiu!

Olá...
O texto que seleciono e compartilho com vocês é de autoria de meu colega e amigo de caminhada na filosofia clínica, Profº Rosemiro Selfstron. Trata de algumas das bases de um determinado relacionamento entre as pessoas, e a maneira como cada um encara e dá significado a estas relações: Através da emoção e também da razão. Pode isto? Se você tem dúvidas, vale a pena ler este artigo.

Faça uma ótima semana!

André Topanotti, 19/08/2012, Criciúma/SC


Por Rosemiro Selfstron:
Cada pessoa ao se conectar a uma outra, ou, como se diz em Filosofia Clinica, ao construir uma interseção com a outra, põe uma série de conteúdos em comum. Algumas pessoas colocam mais conteúdos nessa interseção, outras muito menos, de modo que se constrói um espaço que forma a relação. A essa construção compartilhada chamamos de relação, conexão, amor e outras milhares de palavras que apontam a interseção entre duas pessoas. Mas, há um problema, como saber se a pessoa com quem estou conectado é a pessoa certa? Como saber se numa relação em que dedico o meu amor a outra pessoa está interessada em continuar comigo? 



Um relacionamento pode se iniciar por vários motivos, basta ver nos filmes: alguns começam porque a moça ou moço é bonito, rico, inteligente, esperto, engraçado, mas isso pode ser apenas um termo de passagem de um encontro em um relacionamento. Depois de um primeiro contato, o casal começa a construção da interseção, de modo que cada um põe os conteúdos em comum e partilha os conteúdos do outro. É ilusão achar que os relacionamentos começam ou duram e até mesmo acabam por causa de amor. Para muitas pessoas o amor é apenas uma sombra, sem cor, sem forma, elas sabem que até pode existir, mas não estão interessadas. Cada relacionamento tem suas peculiaridades, tanto a literatura quanto a vida são ricos em exemplos. Tenho certeza que não sou o único que conhece um casal que vive de aparências, isso segundo os vizinhos. Se a aparência faz o casal estar junto, vivem bem assim, o que há de errado? Ou será que a maior parte dos homens e mulheres quando vão para a balada estão em busca só de uma mente brilhante? Mas, existem muitos casos nos quais é realmente o amor que faz a relação acontecer. A menina ou o menino realmente ama seu par, faz juras e espera que essa sensação boa dure tanto quanto possível. Quando isso não acontece, às vezes a decepção é muito grande, porque a pessoa depositou todo o seu amor em uma pessoa que não era a certa. Mas como saber? O coração simplesmente diz, aponta para a pessoa e nada se pode fazer contra ele, mas ele, assim como razão, também erra. Mas vamos fazer ainda pior, digamos que uma moça tenha plena certeza de que aquele menino não é para ela, mas ainda assim se apaixona. O coração traiu.


Para a pessoa que vive o dilema, não parece tão simples quanto as palavras que escrevo, porque para ela a razão aponta um caminho e o coração outro. Quando a razão tem mais força, facilmente o problema é resolvido, mas algumas vezes o coração tem mais força. São aqueles casos em que, contra todas as possibilidades, a menina ou menino se apaixona pela pessoa errada. Uma situação ainda mais dura acontece quando tanto a emoção quanto a razão tem força, nestes casos a dúvida é o que fica evidente. O caso mais interessante acontece quando as emoções não conversam com a razão, parece estranho, mas acontece. É o caso de uma pessoa que não tem a menor ideia do porque, mas tem uma vontade louca de estar com a outra. Nesse caso a razão e a emoção não se conversam. Para não ser traída ou traído pelo coração observe em sua história as vezes em que seu coração indicou o caminho e se esse caminho foi bom. Assim como o coração, nossa razão também pode errar. Não há como dizer quem é melhor, razão ou emoção, mas cada um deve pesquisar em sua história de vida quando usou um ou outro para decidir. Quando perceber o uso da razão, preste atenção nos resultados da decisão, quando for o caso da emoção, a mesma coisa. Você pode ser enganado pela emoção, mas também pode tentar conhecê-la e, quem sabe, tornar-se um pouco mais independente.

Artigo publicado em 16/08/2012 no site do Instituto Sul Catarinense de Filosofia Clínica por Rosemiro Selfstron

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A difícil arte de se manter motivado

Olá...

Compartilho com você este texto de meu colega e amigo de caminhada 'pedagógica" Profº Paulo de Tarso Ferreira, sobre "Motivação" na profissão. Texto bem objetivo, de fácil compreensão e de leitura cativante, que para mim como profissional, vale a pena investir alguns minutos e refletir um pouco, antes de ir para mais um final de semana.

Um abraço encorajador pra você!


André Topanotti, 17/08/2012, Criciúma/SC

Por: Profº Paulo de Tarso Ferreira
Motivação é um assunto em alta no momento. O que nos motiva a trabalhar? O que motiva os atletas? O que nos motiva a buscar novos rumos? O que motiva os funcionário a produzirem mais? Fala-se em motivar, em palestrantes motivadores, em atividades motivacionais. Mas onde está a motivação? Mudanças. Empresas passam constantemente por mudanças para se adequar aos altos e baixos do mercado, das exigências do mundo. E nesta montanha russa, devemos nos manter motivados, e motivar aqueles ao nosso redor. Mas como fazer isso? Existe uma fórmula mágica? Um elixir motivacional. Muito fácil, não teria graça.. Temos que enfrentar o desafio.. Isso por si já é um ponto motivacional.


Acordar, enfrentar a segunda feira passar pelos primeiros momentos do dia com o sorriso no rosto de quem é vitorioso. Espalhar carisma e afeto. Dar bom dia para o espelho, e para todos os demais que encontrar. Pequenos gestos que mantém e reforçam a motivação. Mas, se este é o caminho, por que.. O titulo de "a difícil arte de se manter motivado"?? Simples.. Pelo motivo de que é muito mais fácil e rápido se desmotivar, do que se motivar. Talvez seja por isso que em épocas de eleições, seja tão comum se escutar que tal partido vai trazer o "fulano" para uma palestra motivacional.. Manter um grupo unido não é tarefa fácil, principalmente quando os interesses individuais são maiores dos que os interesses coletivos. E ai voltamos novamente no tema.. Como manter um grupo motivado.. É possível? A resposta é sim.. Fácil? Não!  Devemos entender que as pessoas pensam de formas diferentes, e por tanto, tem interesses diferentes. Isto é um desafio para manter um grupo motivado, achar o ponto de equilíbrio, o ponto de união. E ai então, utilizar este ponto quase que diariamente para criar a manutenção desta motivação. Motivar é uma tarefa árdua e particular, e deve ser "alimentada" diversas vezes por dia. Encontre a sua forma, cumprimente o espelho pela manhã.. Faça um elogio.. E vamos ver onde isso vai parar.



terça-feira, 7 de agosto de 2012

TCHAU PAPAI

Olá!

Eu me peguei dia destes contemplando minha filha se despedindo de mim. Eu no hall central da escola: Ela de mãos dadas com a coleguinha, e por ser a grandona da turma era a última da fila. Naquele dia tínhamos nos atrasado um pouco, pois a noite foi fria e a briga com a cama, o travesseiro e o cobertor foi uma covardia! Três contra um não vale! Ela, pequeno projetinho de realeza, não ofereceu nenhuma resistência aos adversários daquela manha fria de abril. Roncava bem suave, parecia uma gatinha manhosa ronronando gostoso no nosso meio. Que inveja eu tenho dela. Quer ver o tamanho da inveja que a mãe dela tem dela! Este é um dos diversos pontos de concordância que eu e minha esposa temos: Que privilegio ela tem de ser criança numa época em que muita gente se cansa de ser adulta em pouco tempo. Lembro-me que levou uns bons anos para eu ouvir: “... se tivesse a tua idade não teria feito isso, não teria feito aquilo..." Será que nossos pais, tios e avós eram mais turrões e se arrependeram muito tarde dos seus erros, ou nós é que começamos a errar muito cedo? Eu não acho nada, prefiro acreditar que alguém em algum lugar trocou a pilha do relógio do 'Seu' Pedro. E devem ter trocado a pilha de marca duvidosa e desconhecida pela do ursinho, aquela que rima com 'céu'. Ah deve ser por isso que o 'home' lá de cima mandou trocar de fornecedor. Acho que é por essa causa que este bendito relógio está girando tão rápido. Estou ficando tonto com toda esta correria. Será que podemos tirar a pilha dele por alguns dias ou meses? Volto àquela manhã fria e lembro quanta coisa fiz, e continuo a fazer todo santo dia no 'automático': Banho, dentes, perfume, roupa, café, cachorro, pasta, mochila, celular, tênis dela, sapato meu, casaco pra noite, pra ela e pra 'eu', se voltar meio tarde, separa mais uma fruta para o lanche, garagem, porta, portão, carro, radio, transito, buraco, lombada, buzina, semáforo, lombada, semáforo de novo e de novo a buzina... Baahh! Isso que eu só preciso deixar ela na escola. Metade do roteiro a mãe dela já fez antes de sair. Santa Mulher!


Chegamos à escola e ela de novo estava rendida, praticamente nocauteada no banco de trás. Mas como pode? Os adversários já não tinham ficado em casa!? A luta aqui era contra aquela cola que o inimigo do relógio coloca nas pálpebras dos olhos das criancinhas de manhã cedo. Num dia semelhante a este, minha priminha inspirada e sonolenta definiu muito bem: “... Não ri de mim... ´tô´ com 'grudu' no olho...". Sensacional a espontaneidade das crianças. Ainda no carro, na tentativa de despertá-la do sono persistente, testei minha mão fria, quase gelada, na barriga quentinha da menina, que não hesitou em resmungar alto em resposta a minha impiedosa e covarde alvorada. Mas funcionou. La estávamos, ou melhor, lá estava eu com aquela "bebezona" marmanja no colo e a mochila na mão, e me perguntando se alguma vez meus pais me levaram no colo assim pra aula. Acho que sim, talvez... Não me lembro. Mas que seja! O que importa é que se fosse hoje eles fariam. Vivem me dizendo: "Curte ela agora, porque o tempo voa"! Está bom, acho que deve ser assim mesmo. Ouvi de uma grande e mui sabia amiga, Ana Lucia Luz, alguns anos atrás: “Passamos a ser melhores filhos quando nos tornamos pais, e melhores pais quando somos avós."  É assim para Ana, e está sendo para mim também.



Chegando ao hall da escola sua turma já estava formando a fila para o café da manhã. Metade da turma 'mexeu' com ela dando bom dia ou cobrando que ela estava atrasada. Sua atenção rapidamente se dividiu entre os coleguinhas que a chamavam e o meu colo. Percebi que a preguiça tinha dado lugar a um 'dengo' que dizia: “Não vai, fica aqui um pouquinho mais só ate eu acordar.” Na hora eu pensei ter ouvido isto, mas agora enquanto escrevo, percebo que este significado pode ter sido muito mais meu do que dela. Ganhamos mais uns segundos juntos levando a mochila na sua sala de aula e no rápido retorno ao hall vivencio a expressão mais marcante daquela manhã: Eu praticamente a posiciono na fila, dou um beijo nela e a deixo de mãos dadas com sua coleguinha da frente. Saio sem manter o contato visual pois sei que seria o sinal para ela correr atrás de mim e começar a chorar para não ficar na escola. Eu e ela precisávamos acordar naquele dia, ir para a realidade do dito mundo 'factual' que se não acordamos, nos traga como um tubarão faminto. Eu não queria ir, ela não queria ficar. Eu queria ficar “no ninho” com ela aquele dia, e parecia que ela também. Tive a certeza disto quando depois de uns 30 segundos, antes de tomar o corredor de saída da escola, olho um pouco para trás e indiretamente procuro ver se a turma dela já tinha descido a escada, e surpreso a pego me fitando fixa com os olhos marejados, denunciando que a todo o momento ela me olhava saindo. Só ela estava lá, no ultimo degrau da escada, me esperando olha-la para então acenar com sua mão meiga e romper nosso silêncio com um 'tchau papai'. Foi então que eu percebi: Ela já entende que a vida é assim, feita de encontros e também de despedidas, e que nas despedidas, quem ama sempre quer dar um último 'tchau'.
 

Abrace seu pai esta semana. Pode valer a pena!
 

Por:  André Topanotti – Criciúma/SC – 08/08/2012.

sábado, 4 de agosto de 2012

Fora de Contexto

Olá

Hoje pela manhã, na aula da pós graduação em filosofia clínica, a profª Marisa Niederauer trabalhou com a turma o texto "Fora de contexto", de autoria de Martha Medeiros publicado em 01-08-2012 na coluna que leva seu nome no Jornal Zero Hora de Porto Alegre/RS. O tema em discussão era ética e a filosofia clínica, e a idéia central é orientar nossas ponderações sempre a partir de um contexto amplo, evitando os "recortes" que por vezes nos levam a interpretações equivocadas. Muito bom, e para mim vale a pena a reflexão.

Força e virtude amigos!


André Topanotti, Criciúma 04 de Agosto de 2012. 



Por: Martha Medeiros


A grande maioria de jornais e revistas traz hoje uma sessão que é das mais populares: são as frases destacadas de políticos, artistas, empresários e demais notáveis. A pessoa deu uma longa entrevista e dela é pinçada uma pequena declaração que vai para o hall das “frases da semana”. Quem não lê? Todo mundo lê e adora.

Algumas frases são fortes, outras divertidas, há as ridículas, as burras, as geniais. Mas todas, absolutamente todas correm o risco de estar descaracterizadas. Porque aquilo que é subtraído do contexto ganha projeção, para o bem ou para o mal. E isso, por si só, é uma forma sutil de manipular o leitor.

Em tudo há um contexto. No seu pedido de demissão, na sua defesa dos animais, na sua confissão para o padre, no seu desabafo para o analista, na sua briga de casal, na sua campanha política, até na escolha da roupa que você vai vestir pela manhã. Cada atitude, cada escolha, cada argumentação, cada lamúria está vinculada a uma série de outras coisas que orbitam em volta do assunto principal. Não existe “não vem ao caso”. Tudo vem ao caso.

A namorada, depois de aprontar muito, diz que você é o homem da vida dela. Essa frase, sozinha, reconstitui relações, mas e o contexto todo, onde fica? Seu chefe considera você um ingrato por desligar-se da empresa de uma hora para a outra, mas e a quantidade de sapos que você engoliu por meses, não explica?
  

Você é considerado um sequelado por descer pelo elevador do prédio de calça laranja, blusão pink e óculos de lentes verdes, mas alguém levará em consideração que você é um artista performático? Você diz para o analista que seu pai a ignora, e o analista precisa acreditar em você, mas jamais lhe dará alta até que descubra o contexto. O contexto é soberano, o contexto é revelador, o contexto não pode ser ignorado, assim na vida, assim na imprensa. Como destacar uma ironia sem contextualizá-la? A ironia soará grosseira. E aquele que ao ser entrevistado para a TV estava visivelmente brincando, mas que por escrito pareceu estar falando sério? E o comentário dito no entusiasmo do momento, sem compromisso, que ganha ares de profetização? Falou, imprimiu, já era.

Explicar o contexto exige tempo, exige dedicação, exige compromisso, e está tudo em falta: tempo, dedicação, compromisso. Quer-se o bombástico de deglutição fácil. Quer-se o vexame público, o mico, a constatação constrangedora, a genialidade de pronta-entrega, quer-se o impacto imediato, sem olhar para os lados. O contexto são os lados ignorados.

Eu leio essas “frases da semana”, você também lê. Mas, na falta da contextualização, não percamos o critério. Acreditemos com um olho fechado e outro bem arregalado.


Texto de autoria de Martha Medeiros, publicado no ZH de 01-08-2012.



quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Conversa Teológica


Olá!
Hoje a noite estava vasculhando no blog do Beto Colombo a procura de um artigo sobre teologia que ouvi já há um bom tempo sobre religião e teologia. Para mim um dos mais lúcidos, simples e objetivo texto que li sobre o tema, que compartilho com vocês, pois para mim, valeu a pena a leitura.

Não disse?!? O mês do "Augusto" já chegou!

Siga firme seu caminho!

André Topanotti

 
Por Beto Colombo.
Encontrei o Jorge de Lucca, um colega de colégio, e hoje colega de trabalho. Disse-me ele:

- Como explicar para meu filho a existência de Deus? Tudo é uma confusão. A ciência diz que viemos do macaco; a religião diz que Javé fez um boneco de argila, soprou e deu vida, logo somos filhos de Deus. Já ouvi dizer que viemos do mar, logo somos filhos da água. Noutro dia, li sobre Darwin que fala da teoria da evolução. Já ouvi falar do big bang. O que eu digo para meu filho, Beto?

Às vezes Jorge, a melhor resposta é “não sei”; ou então dar um forte abraço e ficar em silêncio. As religiões são tagarelas demais, talvez por isso acabam nos confundindo.

Olha, há tantas respostas. Poderíamos passar uma manhã falando sobre Anaximandro, que disse que o princípio (arché) de tudo é o ar. Talles de Mileto diz que o princípio é a água. Heráclito disse que o (archê) princípio é o fogo e provavelmente ficaríamos dias nesse dilema.

Por hora Jorge, mesmo Darwin que escreveu sobre a evolução das espécies não se propõe a negar a existência de Deus. Ele apenas tenta explicar a grande diversidade das espécies no mundo com base meramente no que é observado na natureza.

Darwin concluiu sua obra “A Origem das Espécies” com o seguinte texto: “Há uma grandeza nessa visão da vida, com seus vários poderes, tendo ela sido lançada como sopro da vida originalmente pelo Criador em poucas formas e elas foram evoluindo”.

Darwin expressou acreditar na origem divina, Aristóteles e Sócrates estavam convencidos da necessidade da existência de Deus, juntamente com Nicolau Copérnico. Galileu Galilei, Rene Descartes, Isac Newton, Joannes Kepler, entre tantos outros. Diante de tudo isso Jorge, e independente das convicções, quase todos os cientistas atuais nunca demonstraram a existência ou inexistência de Deus.

E a resposta para teu filho? Pois é, voltamos ao começo. E se tiver uma explicação, uma resposta, para você, qual seria?

  


Rubem Alves, em seu livro “O que é Religião”, pergunta: Será que Deus existe? A vida tem sentido? O universo tem uma face? A morte é minha irmã? A estas perguntas a alma religiosa só pode responder “não sei, não sei, mas desejo ardentemente que assim seja e me lanço inteiro, porque é mais belo o risco ao lado da esperança que a certeza ao lado de um universo frio e sem sentido...”

E eu? Se eu creio em Deus? É claro que sim, porém, perante a tantas religiões tagarelas e outras com o monopólio das palavras, a melhor resposta é eu me calar.

É assim como o mundo me parece hoje. E você, o que pensa sobre Deus?

Artigo veiculado na Rádio Som Maior em 15/07/2011 e publicado no Jornal A Tribuna em 16/07/2011