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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

terça-feira, 26 de março de 2013

RETÓRICA E "FAZETÓRICA"

A palavra retórica pode ser encontrada em latim como rhetorica, mas sua origem é grega sendo originária do grego ῥητορικὴ τέχνη. Seu significado pode ser traduzido como a arte ou técnica de bem falar. De maneira mais completa, pode-se dizer que a retórica é a arte de usar as palavras para dizer o que se quer de forma eficaz e persuasiva. Esta arte era bem conhecida dos filósofos que discutiam desde o período grego com Sócrates sobre a falsidade do conhecimento ensinado pelos sofistas no uso da retórica. A estes profissionais não interessava a verdade ou falsidade nos seus ensinamentos desde que conseguissem com as palavras derrubar seu oponente. 

 Nas organizações, na política, nas igrejas não é muito diferente: existem muitas pessoas que fazem uso da arte de bem falar para convencer. Não há para algumas destas pessoas o compromisso com o que dizem, desde que convençam os ouvintes de que suas palavras são verdadeiras. Numa organização, existem muitos que têm teorias e receitas para tudo, que na hora de se posicionar são firmes, convencendo até aos mais experientes, mas é só. Muitas destas pessoas conseguem fazer tudo o que dizem somente nos seus pensamentos, na prática nada disso se concretizará. Não há nada de mais nisso, dependendo do local onde estiverem na empresa, ou seja, se estiverem em setores que precisam de teoria, ideias, divagações, perfeito, o problema é quando são alocadas em setores que precisam da “fazetórica”.

 

Diferentes daqueles que usam a retórica existem outros que são os ditos da “fazetórica”. Trago este termo de um ditado de um amigo que diz: “É muita retórica e pouca fazetórica”. Neste ditado ele expressa a opinião que não adianta teoria sem prática, como diz na Bíblia, a fé sem obras é morta. Por mais que algumas empresas já tenham adotado sistemas de participação nas melhorias, por mais que aproveitem as ideias de seus colaboradores, o que se precisa deles é a “fazetórica”. Tanto é que cada vez mais se encontram pessoas que trabalhavam na área produtiva da empresa e que, quando promovidas, desenvolvem ansiedade, depressão, síndrome do pânico. São pessoas que têm a prática mas não conseguem transformar a prática física em prática do pensamento.

Num artigo anterior falei sobre decidir, neste artigo apontei que existe uma diferença entre decidir e fazer. Em Filosofia Clínica atendemos muitas pessoas decididas, com uma retórica perfeita, mas com uma “fazetórica” muito pobre. Em outras palavras, elas vivem nas ideias e não nas sensações. Para pessoas assim, decidir nada tem a ver com colocar em prática. Existem pessoas que padecem muito disso, decidiram e se convenceram via retórica que é hora de começar um regime, mas não conseguem ir às vias de fato. O que elas têm enquanto ideia não se torna prática. Numa organização há lugar para todos, tanto os que são especialistas em retórica quando os que são especialistas em “fazetórica”.

O ideal, digo ideal porque geralmente não é o que acontece, é que se conheça cada pessoa para saber se ela é das ideias ou das práticas. Combinar as qualidades teóricas e práticas pode ser interessante, mas há muitas atividades que só os teóricos poderão acessar, assim como existem atividades que só os práticos terão acesso. Voltando à Bíblia, pode-se citar a passagem de Marta e Maria onde Jesus mesmo aponta para uns a retórica e a outros a “fazetórica”.


Por Rosemiro A. Sefstrom - 27/02/2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

HELENA NÃO TEM CULPA

Dias atrás, uma amiga, alta executiva paulista, radicada no Rio, me mandou um e-mail com a cópia de uma resenha sobre um livro (fruto de pesquisa de campo) de um antropólogo, Napoleon Chagnon, que estudou os índios ianomâmis no Brasil e na Venezuela por muitos anos. Suas conclusões não são aquelas que a comunidade acadêmica, ideologicamente orientada na sua quase totalidade, costuma gostar. Quem sabe, este "desgosto ideológico dos pares" (gente ávida por destruir oponentes teóricos) tenha sido responsável pelos desdobramentos negativos que o antropólogo teve em sua vida profissional por conta desta pesquisa. O livro ("Noble Savages"), que logo comprei, deveria ser lido nas escolas. Um tratado contra a tradição marxista, não só em antropologia, mas em tudo mais. Mas o que especificamente tem esse livro contra esta tradição?
 
Engana-se quem pensa que a tradição marxista comece com Marx, ela começa com Rousseau e seu bom selvagem. O princípio é que o homem é bom e a sociedade é que o perverte. A perversão do bom selvagem pelo "Das Kapital" é apenas uma decorrência do principio do Rousseau, só que para Marx não partimos do bom selvagem, mas sim chegaremos a ele quando superarmos esta sociedade má. Uma ideia assim (que somos bons e a sociedade nos corrompe, e aqui você pode colocar no lugar de "sociedade" a família, o patriarcado, a igreja, o capital, os EUA, o patrão, seu pai autoritário) faz almas fracas gozarem de prazer. Porque o que ela diz é que, ao final, não sou responsável por nada que faço. Não fosse pela "sociedade", eu seria um homem bom. Ao contrário do que parece, essa tradição pegou porque alimenta algo de muito banal: que somos homens bons em nossa natureza essencial. Esta ideia alimenta nossa vaidade e não foi por outro motivo que Burke, filósofo britânico do século 18, chamava Rousseau de "filósofo da vaidade".
 
 
Nossa origem é o bom selvagem? É por isso que australianos que não têm o que fazer se pintam de aborígenes e gritam por aí? Quanta bobagem! Quanto lixo escrito com tinta cara! Também concordo que devemos olhar para o "passado" para entendermos como somos hoje. A diferença é que minha ideia de "estado natural do homem" é diferente da de Rousseau, o filósofo da vaidade. Partilho da ideia que para nos entendermos devemos olhar para a pré-história de fato, e não a mítica, como a do Rousseau. Este mito alimenta uma outra bobagem: a ideia de que toda diversidade cultural é linda. "Viva a diferença!", dizem os festivos por aí. A "humanidade", na sua capacidade frágil de não ser bicho malvado, foi tirada das pedras, à custa de muito sangue. Sempre bebemos o sangue dos outros no café da manhã. E aí voltamos ao livro. A conclusão de Chagnon é que os ianomâmis, parentes nossos que vivem muito perto do que seria o neolítico, tribos que permaneceram bastante "puras" enquanto outras já haviam sido "contaminadas pela maldade do homem branco" (risadas?), sempre se mataram por uma razão nada complexa: "mulher, mulher, mulher". Inclusive, quem tinha mais mulher, tinha mais descendentes.
 
Qualquer evolucionista gargalharia diante de tamanha obviedade ocultada pelas interpretações ideológicas pueris da falsa história do bom selvagem. Os ianomâmis também têm suas Helenas de Troia. Entre eles, quem matava mais tinha mais mulher. Entre nós, quem é mais "adaptado" tem mais mulher. Não se trata de culpar as mulheres porque são filhas de Eva. Responsabilizar a mulher pelos males do mundo é coisa de homem brocha que, por não conseguir penetrá-la, recorre à falsa culpa feminina para aplacar sua desgraça. Reconhecer que os ianomâmis se matam em troca de mulheres (ou se matavam enquanto eram "puros" ou "bons selvagens") não é uma prova contra as mulheres. É uma prova contra Rousseau e sua tradição do bom selvagem. Eu, pessoalmente, acho até uma boa causa. Quero dizer, nos matarmos por mulheres. Neste caso, o troféu é bem concreto e todo mundo sabe de seu "valor de uso". Isto é, não precisamos de provas metafísicas para reconhecer o valor de uma mulher.
 

Por Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 18/03/2013

quinta-feira, 21 de março de 2013

JORNADA DE TRABALHO, FÉ E UM DILEMA ÉTICO

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 01/03/2013, com uma ouvinte que aceitou um emprego em que teria que trabalhar aos sábados, mas a sua religião não permite.
 
"Minha religião não permite que eu trabalhe aos sábados", uma ouvinte escreve.

Bom, de fato, a fé judaica estabelece esse preceito, que é também seguido fielmente por outras crenças. A Constituição brasileira determina que a religião é uma escolha pessoal que deve ser respeitada, assim como devem ser respeitadas as pessoas que optam por não seguir qualquer religião.

A lei trabalhista coíbe a discriminação por orientação religiosa e já existem vários casos de sentenças favoráveis a funcionários que foram demitidos por sua recusa em trabalhar aos sábados. Essas sentenças judiciais foram emitidas em duas situações. Primeira: ao ser contratado, o funcionário apresentou uma carta do seu líder espiritual, atestando que não poderia trabalhar aos sábados. Segunda: o contrato de trabalho estipulava que o expediente seria de segunda a sexta. E quando a empresa convocou o empregado para vir também aos sábados, a carta em questão foi apresentada ao empregador.

Agora, vou voltar ao caso da nossa ouvinte, cuja mensagem, que é extensa e detalhada, deixa claro que ela tinha pleno conhecimento de que precisaria trabalhar aos sábados caso fosse contratada, já que a função era a de vendedora em uma loja de shopping. Mesmo assim ela omitiu a situação religiosa durante o processo seletivo e somente a revelou após ter começado a trabalhar e após ter assinado um contrato em que se dispunha a cumprir o horário de trabalho estabelecido, que incluía o sábado. Em um caso assim, não creio que a ouvinte receberia sequer o apoio de seu líder espiritual, porque essa é uma questão que envolve comportamento ético, um pilar fundamental tanto para religiões quanto para decisões da justiça laica.

Por Max Gehringer - Rédio CBN - 01/03/2013.

Fonte: http://estou-sem.blogspot.com.br/2013/03/aceitei-o-emprego-mas-omiti-que-minha.html

segunda-feira, 11 de março de 2013

A GERAÇÃO "Y" E O MERCADO DE TRABALHO

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 19/04/2010, sobre a geração Y e o mercado de trabalho.
 
"Creio que a minha pergunta é mais um desabafo", escreve um ouvinte. "Sou gerente de um setor que emprega jovens da chamada geração Y. Apesar de eu incentivar esses jovens e tentar repassar a eles a minha experiência, cheguei a um ponto em que estou perdendo o sono. A rotatividade é alta, as queixas são constantes e o interesse é mínimo. Sinceramente, não sei o que a geração Y quer da vida."

Então, vamos tentar entender através de números. O professor e escritor
Fabiano Caxito fez uma pesquisa bastante ampla sobre a geração Y e o mercado de trabalho. Aqui vão os quatro principais tópicos:

Primeiro: 84% dos jovens querem ser ouvidos. Só 65% consideram que a empresa os ouve. Pessoalmente, eu achei esse percentual bastante alto, em relação ao que eu vejo por aí.

Segundo: 82% buscam um equilíbrio entre trabalho e qualidade de vida. Porém, 56% confessam que, não apenas não têm esse equilíbrio, como ainda se sentem estressados no trabalho.

Terceiro: 87% desejam que a empresa lhes dê oportunidades para aprender continuamente. Só 25% dizem que estão tendo essas oportunidades.

Quarto: 78% querem reconhecimento por seus méritos. Só 27% afirmam que estão tendo.

Outras constatações da pesquisa, e provavelmente são elas que estão tirando o sono do nosso ouvinte gerente, são as seguintes: os jovens da geração Y não apreciam a hierarquia rígida, e acreditam que o poder nas empresas deve ser compartilhado. Também estão preocupados com as questões sociais e o meio ambiente, e querem trabalhar em empresas que enxerguem além dos resultados financeiros.

Evidentemente, quando jovens que desejam tudo isso, entram em uma empresa, existe o choque entre a percepção de como o mundo corporativo deveria ser e, como de fato, ele é. Qual é a solução? A mesma usada há 40 anos, com a geração hippie. Ela mudou a maneira do mundo pensar, mas também se adaptou a algumas exigências do mercado de trabalho.

Da mesma forma, são os jovens da geração Y que irão ditar as regras do mercado de trabalho quando atingirem cargos gerenciais. Eles abrirão mão de alguns de seus sonhos, mas transformarão outros sonhos em normas.

Minha recomendação para os gestores atuais é a de tentar entender a geração Y, ao menos por precaução. Porque, no futuro não muito distante, essa geração estará no poder nas empresas. E irá decidir quem merece um emprego.

 

Max Gehringer - CBN - 19/04/2010.

sexta-feira, 8 de março de 2013

MULHERES MODERNAS

A medida que envelheço e convivo com outras, valorizo mais ainda as mulheres que estão acima dos 30. Elas não se importam com o que você pensa, mas se dispõem de coração se você tiver a intenção de conversar. Se ela não quer assistir ao jogo de futebol na tv, não fica à sua volta resmungando, vai fazer alguma coisa que queira fazer...

E geralmente é alguma coisa bem mais interessante. Ela se conhece o suficiente para saber quem é, o que quer e quem quer. Elas não ficam com quem não confiam. Mulheres se tornam psicanalistas quando envelhecem.

Você nunca precisa confessar seus pecados... elas sempre sabem... Ficam lindas quando usam batom vermelho. O mesmo não acontece com mulheres mais jovens... Mulheres mais velhas são diretas e honestas.

Elas te dirão na cara se você for um idiota, caso esteja agindo como um!

Você nunca precisa se preocupar onde se encaixa na vida dela. Basta agir como homem e o resto deixe que ela faça... Sim, nós admiramos as mulheres com mais de 30 anos! Infelizmente isto não é recíproco, pois para cada mulher com mais de 30 anos, estonteante, bonita, bem apanhada e sexy, existe um careca, pançudo em bermudões amarelos bancando o bobo para uma garota de 19 anos...

Senhoras, eu peço desculpas! Para todos os homens que dizem: "Porque comprar a vaca, se você pode beber o leite de graça?", aqui está a novidade para vocês: Hoje em dia 80% das mulheres são contra o casamento e sabem por quê?

"Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter uma lingüiça!". Nada mais justo!
 
Por Arnaldo Jabor

quarta-feira, 6 de março de 2013

NEM O PAPA AGUENTOU

No dia da renúncia do papa, uma amiga minha querida, portadora de uma personalidade difícil (acha quase todo mundo bobo), mandou-me uma mensagem assim: "Nem o papa aguentou!". Afinal, o que ele não teria aguentado? Peço licença à minha amiga nojenta para tomar sua exclamação e fazer um pouco de filosofia selvagem a partir dela. Antes, esclareço que não sofro do comum preconceito de pessoas inteligentinhas contra a Igreja Católica. Qual é esse preconceito? Hoje em dia, num mundo em que todo o mundo diz que não tem preconceito, o único preconceito aceito pelos inteligentinhos é contra a igreja: opressora, machista, medieval...
 
Estudei anos num colégio jesuíta. Graças aos padres aprendi a coragem intelectual, o gosto pelas letras, o valor da liberdade religiosa, o esforço de pensar de modo claro e distinto, o respeito pelas meninas, ao mesmo tempo em que crescíamos num ambiente no qual Eros nunca foi demonizado; enfim, só tenho coisas boas para dizer sobre meus anos de escola jesuíta. Cresci numa escola na qual, durante a semana, discutíamos como um "mundo mau" pode ter sido criado por um Deus bom. No final de semana, íamos à praia todos juntos, dormíamos lá, meninos e meninas, em paz, namorando, e enchíamos a cara. Noutro final de semana, o mesmo grupo ia a favelas ajudar doentes. Tive, numa pequena amostra, uma prova do enorme papel civilizador da igreja e do cristianismo como um todo no mundo.
 
Dizer que a igreja padece de males humanos e que compartilhou de violência de todos os tipos é óbvio demais para valer a pena um minuto de reflexão. Em jargão teológico, essa "dupla personalidade de bem x mal" não é bipolaridade moral, mas uma dupla identidade: a igreja teria um corpo mundano (pecador como o de todo o mundo) e um corpo místico (voltado a Deus, à eternidade, inserido no mundo assim como Deus encarnou num homem, Jesus). Portanto, não sou um desses ateuzinhos que, no fundo, não passam de "teenager" bravo porque o pai não existe. Parafraseando o grande Beckett, "God does not exist --that bastard!" (Deus não existe --aquele bastardo!).
 
Joseph Ratzinger (Bento 16) é um homem inteligente que quis levantar o nível do debate dentro da igreja e na sociedade como um todo. Um filósofo. Resistiu bravamente à contaminação por uma teologia populista e marqueteira, mas sucumbiu à ancestral vocação humana para a mentira e para a vida burocrática. Hoje, quase tudo no mundo é populista e marqueteiro; lembremos da máxima da grande escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís: hoje todo mundo quer agradar, até o metafísico. Foi isso que o papa não aguentou: ele esbarrou no diagnóstico da contemporaneidade feito pela Agustina Bessa-Luís. Todo o mundo só quer agradar "seu eleitorado" e Bento 16 quis tratar seu eleitorado como gente grande. Resultado: angariou inimigos em toda parte porque rompeu o jogo comum de "falar muito e dizer nada", típico da sensibilidade democrática em que vivemos e também da igreja na "sua base popular".
 
Num mundo de sensibilidade democrática, ninguém quer saber de nada a sério. A "afetação infantil" (Bessa-Luís, de novo) nos define. O "povo é sempre lindo e certo!". Na democracia, a soberania do governo emana do povo; daí que achar que o "povo é sempre lindo" é um efeito colateral deste modo da soberania. Logo, todo o mundo só quer agradar, e Bento 16 não quis agradar, quis falar a sério. Sucumbiu às intrigas palacianas, à inércia da estupidez do mundo de ruídos e baladas metafísicas.
 
As pessoas odeiam quem quer falar a sério. Não querem mais um papa, e sim um consultor de sucesso espiritual e Ratzinger não tem vocação para isso. A maioria das pessoas quer apenas comprar, divertir-se, ter uma autoestima alta, gozar livremente, não sentir culpa alguma; enfim, ter uma vida moral de criança de dez anos de idade.
 
Nem o papa aguentou. Preferiu "fracassar como Sócrates" a vencer como um demagogo feliz. No início da quaresma (período em que devemos refletir sobre nossos demônios), denunciou com sua renúncia o mais velho demônio da igreja: a política.
 
 
Por Luiz Felipe Pondé - 18/02/2013 - Folha de SP
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1232124-nem-o-papa-aguentou.shtml

terça-feira, 5 de março de 2013

RECLAMEI DO CHEFE NO RH, E AGORA?...

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 21/02/2013, com uma ouvinte que reclamou do chefe ao RH e agora está com receio.
 
Uma ouvinte escreve: "Meu superior me chamou a atenção na frente de meus colegas, de maneira áspera e mal educada, por um erro que cometi. Não engoli a desfeita e imediatamente fui reclamar no setor de Recursos Humanos. No dia seguinte, meu superior se desculpou comigo de uma maneira tão formal que parecia que ele havia decorado um texto. Isso faz uma semana. De lá para cá, ele praticamente não falou mais comigo. Estou receosa. Será que ele está só esperando uma oportunidade para me dispensar? Será que eu não deveria ter reclamado da atitude dele?"

Bom, vamos começar pela segunda pergunta. Você agiu certo ao reclamar. Quem é maltratado e não reclama, incentiva a continuidade da opressão. Porém é preciso entender os antecedentes, que você não colocou em sua mensagem. O seu superior já havia agido daquela maneira com você antes? Ou com seus colegas? Esse é o modo normal dele gerenciar pessoas ou ele simplesmente estava em um momento estressante e agiu como não costuma agir? Todos nós explodimos uma vez ou outra, em casa ou no trabalho, com ou sem um motivo proporcional a explosão.

Mas vamos supor que o seu superior seja um troglodita em tempo integral. Você fez bem em reclamar. Agora vamos supor que ele seja uma pessoa de boa índole, que perdeu a calma uma única vez. Nesse caso teria sido melhor você ter ido conversar com ele no dia seguinte. E ele provavelmente se desculparia sem a intervenção de Recursos Humanos.

Quanto ao que vai acontecer, se o seu superior for um troglodita insensível, você tem motivos para estar receosa caso cometa novos erros. Mas se ele for do bem, e espero que seja, ele está apenas magoado. E isso vai passar.
 

Max Gehringer - CBN - 21.02.2013