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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

sexta-feira, 2 de março de 2018

PORQUE O ANO COMEÇA MESMO SÓ EM MARÇO?


Você já deve ter feito esta pergunta ou alguém em algum lugar usou esta expressão, ou ainda mesmo você deve ter esse sentimento todos os anos depois que ouve a música da Globeleza ir embora. Poucos entretanto sabem que o motivo desta percepção real para o mundo ocidental tem um fundamento histórico, e é culpa dos nossos vaidosos imperadores romanos. Digo vaidosos sim, e explico: Nunca imaginava que até o nosso calendário poderia ter sido afetado pela arrogância daqueles que pretendem garantir fugazmente a imortalidade e se apegam tanto à "glória do mundo".

Até o século 8º a.C., o ano do mundo romano da Antiguidade, do qual herdamos essas medidas, tinha apenas dez meses e se iniciava em 1º de março, "martius", do deus “Marte”, o deus romano da guerra. Em Roma, onde o clima é mediterrânico, março é o primeiro mês da primavera, um evento lógico para se iniciar um novo ano, bem como para começar a temporada das campanhas militares. Depois vinham "aprilis", "maius", "iunius" e, a partir daí, foram usados numerais (de cinco a dez) para denominar os meses seguintes ("quinctilis", "sextilis", "september", "october", "november" e "december").

No século seguinte, para acertar mais a fixação da contagem com o tempo de duração da volta da Terra em torno do Sol, os romanos introduziram mais dois meses: "januarius", em honra ao deus 'jano', divindade bifronte da mitologia greco-romana que olhava para frente e para trás, deus dos portais e das transições, dos inícios e fins. E o mês "februarius", inspirado em Fébruo, deus da morte e da purificação na mitologia etrusca, por isto a escolha deste mês para as festas carnais.

A bagunça inicia por aqui:  No século 1º a.C. o ditador Júlio César, devoto fervoroso do deus Jano, e em sua homenagem, fez a reordenação dos meses, passando Janeiro para o primeiro mês do ano, e consequentemente fevereiro para o segundo, mantendo a sequencia dos demais meses, o que confunde até hoje muitos, que não entendem por que chamamos de sete/mbro ao mês que numeramos com nove e de dez/embro àquele que é o número doze.

E os imperadores não pararam por aí. Como Júlio César, nascido no mês "quinctilis", foi assassinado, Marco Antônio, general romano e seu seguidor, decidiu homenagear Julio César e trocou o nome do antigo quinto mês para "julius", mantendo os 31 dias que esse comportava. Porém a luta pelo poder veio à tona, e, a pretexto de proteger a honra familiar ofendida (pois Marco Antônio abandonara o antes conveniente casamento com Otávia, irmã de Otávio, e desposara Cleópatra, firmando-se como senhor do mundo oriental), a guerra foi declarada. Vencido, Marco Antônio cometeu suicídio.

Continuando a saga de alterações no calendário e no império, com a destituição de Lépido e, depois, a derrota de Marco Antônio, o outrora Otávio (também chamado Otaviano), em janeiro de 31 a.C., recebeu do Senado o título de Augusto e, mais adiante, foi sagrado o primeiro imperador de Roma e, por fim Grande Pontífice. O imperador entendeu não ser adequado para alguém "do porte dele" não ser também homenageado com um nome no ano e não teve dúvidas em alterar o sexto mês, antigo "sextilis", para "augustus", criando o mês de “Agosto”. Mas isso não foi o bastante: Seguindo a lógica de alternância dos meses com 30 e 31 dias, exceto fevereiro que originariamente possuía 29 dias e 30 como ano bissexto, até então. Ele, “Augustus”, sucedia a "julius" (grande, nos seus 31 dias) e, desse modo, tinha duração de 30 dias. Sem problema, a lógica foi quebrada mais uma vez. Ordenou o imperador que "seu" mês não fosse inferiorizado e passasse a ter também 31 dias, subtraindo um dia do mês que homenageava “frebruos”, por isso os 28 dias de fevereiro.

Hoje quase ninguém mais liga julho é um mês em homenagem a Júlio César, que agosto vem de um ex-imperador Augusto e, menos ainda, que ambos são os únicos consecutivos com o mesmo número de dias em memória do poderoso imperador. E como diriam os sábios daquela época... "Sic transit gloria mundi!", ou seja, a glória do mundo é passageira. Poder e glória, quando exercidos por personagens com empáfia, soberba e arrogância, seus fatos na prática, são passageiros. O que eternizam os heróis são suas ações carregadas de virtudes.


Por André Topanotti – 02/03/2018
Texto inspirado nas crônicas de Mário Sergio Cortella em Qual é a Tua Obra.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

A RECEITA BÁSICA DA ÉTICA NÃO MUDA

O texto a seguir é uma transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN do dia 04/01/2018, sobre ética e compliance. O áudio original está disponível no site da CBN:


"Se há empresas que são arapucas para as economias do povo, que sejam desmascaradas e compelidas a cessar a exploração criminosa a que se entregaram os seus incorporadores, cujo lugar é na cadeia, e as empresas honestas ficarão a salvo da temerosa desconfiança pública."

Essa frase parece retratar fatos amplamente conhecidos de todos nós, no Brasil dos tempos atuais. Mas ela é muito, muito mais antiga: foi publicada nos jornais brasileiros há 75 anos, em março de 1943. Três gerações se passaram desde então, e muita coisa aconteceu.

Na década de 1940, o substantivo "ética" saiu das rodas eruditas e caiu no gosto popular. Em breve tempo, já se falava em ética jornalística, ética esportiva, ética nos negócios e, claro, ética na política.

Muitas leis foram aprovadas, órgãos regulatórios foram criados e milhares de funcionários públicos foram contratados para fiscalizar melhor as empresas. O mais recente membro dessa longa história de combate às fraudes e prevaricações, recebeu um nome inglês: COMPLIANCE.

Em miúdos, é um atestado de idoneidade emitido por uma empresa, com o objetivo de assegurar a seus parceiros e empregados, que irá respeitar a legislação e sempre agir dentro de princípios éticos.

A adoção de um sistema de compliance está se tornando cada vez mais comum em empresas. E é um grande passo para a prevalência da ética sobre as artimanhas. Mas ainda não é uma garantia definitiva de retidão.

Além do manifesto desejo de cumprir com as obrigações legais e morais, é necessário que o braço da lei puna exemplarmente a quem não cumpre.

Ou seja, o tempo passou e os ingredientes foram sendo incrementados, mas a receita básica da ética continua sendo a mesma que sempre foi.



Por Max Gehringer, para CBN, 04/01/2018.