Você já deve ter feito esta pergunta ou alguém em
algum lugar usou esta expressão, ou ainda mesmo você deve ter esse sentimento
todos os anos depois que ouve a música da Globeleza ir embora. Poucos
entretanto sabem que o motivo desta percepção real para o mundo ocidental tem
um fundamento histórico, e é culpa dos nossos vaidosos imperadores romanos.
Digo vaidosos sim, e explico: Nunca imaginava que até o nosso calendário poderia ter sido afetado
pela arrogância daqueles que pretendem garantir fugazmente a imortalidade e se
apegam tanto à "glória do mundo".
Até o século 8º a.C., o ano do mundo romano da Antiguidade, do qual
herdamos essas medidas, tinha apenas dez meses e se iniciava em 1º de março, "martius",
do deus “Marte”, o deus romano da guerra. Em Roma, onde o clima é mediterrânico, março é o primeiro mês da primavera, um evento lógico
para se iniciar um novo
ano, bem como para começar a temporada das campanhas militares.
Depois vinham "aprilis", "maius", "iunius" e, a
partir daí, foram usados numerais (de cinco a dez) para denominar os meses
seguintes ("quinctilis", "sextilis", "september",
"october", "november" e "december").
No século seguinte, para acertar mais a fixação da contagem com o tempo
de duração da volta da Terra em torno do Sol, os romanos introduziram mais dois
meses: "januarius", em honra ao deus 'jano', divindade bifronte da mitologia
greco-romana que olhava para frente e para trás, deus dos portais e das transições, dos inícios e fins. E
o mês "februarius", inspirado em Fébruo,
deus da morte e da purificação na mitologia
etrusca, por isto a escolha deste mês para as festas carnais.
A bagunça
inicia por aqui: No século 1º a.C. o ditador Júlio César, devoto fervoroso do
deus Jano, e em sua homenagem, fez a reordenação dos meses, passando Janeiro para o primeiro mês do
ano, e consequentemente fevereiro para o segundo, mantendo a sequencia dos
demais meses, o que confunde até hoje muitos, que não entendem por que chamamos
de sete/mbro ao mês que numeramos com nove e de dez/embro àquele que é o número
doze.
E os imperadores não pararam por aí. Como Júlio César, nascido no mês
"quinctilis", foi assassinado, Marco Antônio, general romano e seu seguidor,
decidiu homenagear Julio César e trocou o nome do antigo quinto mês para
"julius", mantendo os 31 dias que esse comportava. Porém a luta pelo
poder veio à tona, e, a pretexto de proteger a honra familiar ofendida (pois
Marco Antônio abandonara o antes conveniente casamento com Otávia, irmã de
Otávio, e desposara Cleópatra, firmando-se como senhor do mundo oriental), a
guerra foi declarada. Vencido, Marco Antônio cometeu suicídio.
Continuando a saga de alterações no calendário e no império, com a
destituição de Lépido e, depois, a derrota de Marco Antônio, o outrora Otávio
(também chamado Otaviano), em janeiro de 31 a.C., recebeu do Senado o título de
Augusto e, mais adiante, foi sagrado o primeiro imperador de Roma e, por fim
Grande Pontífice. O imperador entendeu não ser adequado para alguém "do
porte dele" não ser também homenageado com um nome no ano e não teve
dúvidas em alterar o sexto mês, antigo "sextilis", para
"augustus", criando o mês de “Agosto”. Mas isso não foi o bastante: Seguindo
a lógica de alternância dos meses com 30 e 31 dias, exceto fevereiro que originariamente possuía 29 dias e 30 como ano
bissexto, até então. Ele, “Augustus”, sucedia a
"julius" (grande, nos seus 31 dias) e, desse modo, tinha duração de
30 dias. Sem problema, a lógica foi quebrada mais uma vez. Ordenou o imperador
que "seu" mês não fosse inferiorizado e passasse a ter também 31 dias,
subtraindo um dia do mês que homenageava “frebruos”, por isso os 28 dias de
fevereiro.
Hoje quase ninguém mais liga julho é um mês em homenagem a Júlio César,
que agosto vem de um ex-imperador Augusto e, menos ainda, que ambos são os
únicos consecutivos com o mesmo número de dias em memória do poderoso
imperador. E como diriam os sábios daquela época... "Sic transit gloria
mundi!", ou seja, a glória do mundo é passageira. Poder e glória, quando exercidos
por personagens com empáfia, soberba e arrogância, seus fatos na prática, são
passageiros. O que eternizam os heróis são suas ações carregadas de virtudes.
Por André Topanotti – 02/03/2018
Texto inspirado nas crônicas de Mário Sergio
Cortella em Qual é a Tua Obra.
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