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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

sábado, 28 de setembro de 2013

REIFICAÇÃO

Há um autor que é constantemente criticado pelo que produziu, pela maneira como falou a respeito da sociedade capitalista: Karl Marx. Este autor trabalhou com o conceito de Reificação. Para ele esse conceito denuncia a transformação de uma ideia em uma coisa, além de caracterizar a transformação das relações sociais em coisas que podem ser negociadas. Essa relação mercantil entre as pessoas é tida por Marx como uma forma de alienação, entendendo por alienação a dificuldade de a pessoa pensar por ela mesma. Em outras palavras, reificar é pegar uma ideia e torná-la um produto, essa crítica está justamente na coisificação do ser humano.

Partindo desse conceito de reificação, convido o leitor a pensar no atual modelo de vida em que muitos procuram ser um produto a ser comprado. Quando as moças se colocam em “panos novos”, vão às melhores casas de show e procuram pelos pretendentes com maior poder aquisitivo, elas estão reificando a si próprias. São pessoas que colocaram preço em si mesmas e se tornaram objetos de negócio, se colocam na vitrine e esperam a melhor oferta. Apenas para não ser unilateral, também se pode pensar no menino, que logo que possível compra roupas de marca, frequenta as melhores baladas, algumas vezes ao custo do salário do mês, sendo que todo o gasto com a aparência pode se reverter na “menina dos sonhos”, uma menina que se comprou com uma imagem irreal, sustentada a muito custo.

Não há crime em ser produto e se vender, assim como não há crime em escolher o melhor produto e comprar. A questão é que algumas pessoas se apresentam como produto e querem ser tratadas como gente. Se for vendido, é produto. O comprador também precisa ter em mente que como comprador deve honrar com seus compromissos: a menina comprada deve ser mantida. O menino que comprou tem obrigação de manter, se não tem para manter deve devolver ou repassar a alguém que possa manter. Duro? Não, muitas pessoas têm relação reificante onde se colocam como produto ou comprador. Em tempos atuais podemos perceber na TV, por exemplo, que, tanto produtos quanto compradores se espantam quando são colocados frente a si mesmos. O espanto está em perceber que já não são mais gente, são coisas que tem preço, não valor, mas preço sujeito a lei da oferta e da procura.

Mas, se a relação é boa, se comprador e produto se dão bem e entendem que é uma relação com prazo de validade? Sou eu que vou criticar, dizer que estão errados? Não! Devo apenas lembrar de que comprador (gente) e produto (gente) estão sujeitos ao mercado. Como filósofo digo apenas que Marx previa isso há muito tempo, previa que cedo ou tarde as ideias não seriam mais suficientes, pessoas se tornariam produtos vendáveis. Como lidar com isso? Caso tenha uma filha ou filho, você mesmo, pense um pouco em como está se comportando: como gente ou como produto? Algumas coisas fazem de você produto e lhe atribuem preço, outras características fazem de você gente e lhe dão valor.

Quando uma moça sai de casa para dançar, conhecer os meninos, namorar, e se posiciona diante dos meninos como gente, isso lhe dá valor. Quando a moça sai de casa para ir a uma festa para arrumar um bom partido, fica com quem tem mais ou pode lhe proporcionar o melhor, ela tem preço. O menino que gasta seu salário para ir na melhor balada e ficar com as meninas da classe X é comprador, tem preço. O menino que vai a uma festa de acordo com suas condições, conversa com as meninas, conhece e se aproxima de quem tem a ver com ele, esse tem valor. É apenas uma ilustração da diferenciação entre valor e preço, mas serve de reflexão. Pense se você está reificando a si mesmo como produto ou se dando valor.
 
 
Rosemiro A. Sefstrom - 25/09/2013 - Criciúma/SC
Fonte: http://www.filosofiaclinicasc.com.br/artigo/reificacao-244

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

VAI PRA "BALADA" OU PRO TRABALHO?

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN do dia 25/09/2013: Um recalcitrante ouvinte escreve: "Sou gerente geral de uma agência bancária. Estou nela faz dois meses. Tenho duas funcionárias que insistem em se vestir para o trabalho como se fossem a uma balada: decotes pronunciados, saias curtas, saltão, etc. Como conversar com elas sem magoá-las ou causar mal estar, já que somos uma equipe pequena e não quero atrapalhar o bom convívio que todos possuem?"

Bom, parece-me que você mesmo já respondeu à sua pergunta. Então vou apenas aduzir alguns pitacos.

Se o banco possui um regulamento geral que especifique como as pessoas devem se vestir, a coisa é fácil. Basta você dizer às moças que "Sabe, eu não ligo, mas o regulamento não permite".

Agora, se o traje for livre, a situação é outra. E as perguntas a fazer são:

Primeira: os ditos trajes estão induzindo os demais funcionários a distrações que resultam em erros?

Segunda: o desempenho das funcionárias em questão é pior em relação aos colegas que, pela ótica gerencial, se vestem adequadamente?

E terceira: os trajes estão gerando críticas de clientes?

Se as respostas forem não, não e não, voltamos ao que você mesmo escreveu. O convívio entre todos é bom. E talvez seja bom exatamente proque cada um tem a democrática liberdade de se trajar de modo a se sentir bem. Os que usam ternos, como se fossem a um jantar de gala, não são criticados por isso. Como também não são as que parecem estar prontas para encarar uma balada.

Logo, não existe um problema. Existe uma concepção pessoal, que não faz diferença nos resultados e talvez até os torne melhores. Minha sugestão seria: relaxe e curta a paisagem.


Max Gehringer, para CBN - 25/09/2013

 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

MASSAS ME DÃO AZIA


Quando se trata de falar o que efetivamente se pensa, não é fácil para algumas pessoas exporem seu ponto de vista quando este é contrário ao da maioria. Também é comum conhecermos os que não pensam nada, e que por vezes deixam que os outros, que nesse caso são também minoria, mas têm o carisma e a persuasão do discurso, os conduza da forma que estes bem desejam. Para contradizer precisa ter conteúdo, precisa construir um pensamento, e isso exige que o interlocutor não seja preguiçoso. Repetir palavras de ordem quando se está em um grande grupo é fácil, é legal, é estar na moda, e numa cultura onde o que os outros pensam e como o mundo me parece é predominante, percebo que às vezes fica-se falando sozinho.

Dia destes fui prova viva desta máxima. Tive a oportunidade de ouvir duas palestras onde os participantes eram o mesmo público: A maioria acadêmicos de uma universidade, e uma minoria líderes e gestores das empresas da região. A primeira, uma palestra onde o condutor soube usar de todas as formas e técnicas para prender a atenção de seu público, desde piadinhas maliciosas, trejeitos de um artista de stand up e até coreografias com o público para que no fim todos o aplaudissem de pé. E deu certo! Auditório lotado até o fim. Conteúdo? Não me perguntem, nem me recordo direito, mas de suas brincadeiras lembro-me de quase todas.

A segunda palestra, noutro dia foi de um professor, técnico no assunto, um cientista e pesquisador do tema. Sumidade. Falou por quase duas horas de seus estudos sobre o comportamento humano, sem birutices, sem piadas de duplo sentido, sem picadeiro, mas com um consistente conteúdo de pesquisa. O que aconteceu? O auditório foi se esvaziando durante a palestra. No momento que se seguiu as questões, algumas perguntas interessantes, mas a cada uma que se fazia mais e mais pessoas se levantavam e iam embora. Percebi que o lugar estava longe de ser um ambiente acadêmico onde o debate e discussão instigam os ávidos pelo conhecimento. Estes, os ávidos, uma pífia minoria.

Quando me deparo com situações como esta, tento ver o lado branco da força e lembro que as maiorias, a tal “massa”, produziram grandes feitos na história como os movimentos sindicais do início do século 20 que deixaram um legado de direitos que regularam, por exemplo, nossas relações trabalhistas. A redemocratização do país na década de 80 também é fruto dos movimentos populares. Porém volto a lembrar de que a maioria quis Cristo crucificado em Jerusalém, chamou Galileu de herege em Roma. A maioria Alemã venerou Hitler em sua época, e dentre estes, outros tantos creem firmemente que o holocausto não existiu. Por fim observo que é esta mesma maioria que reclama da corrupção, mas reelegem ‘fichas sujas’.

Vou parar por aqui e me consolar com a minoria mesmo, até porque não há de se conseguir elevar o nível do debate no padrão de educação a que nos acostumamos, mas é exatamente por situações assim que massas me dão azia.
 
Por André Topanotti - 16/09/2013 - Criciúma/SC

domingo, 15 de setembro de 2013

AS LÓGICAS NÃO SE CONHECEM


A lógica existe para aqueles que a conhecem. Quando as fronteiras são estabelecidas, a lógica prevalece. Por diferentes razões, vence ou perde os que ‘desconhecem’ as fronteiras da derrota. Os limites estão na mente do homem e a derrota se encontra no despreparo para conquistar a vitória. Conhecer as fronteiras e pular os muros como uma criança descontraída, para com o troféu nas mãos voltar para casa sem o desconforto da incompetência proferida antecipadamente.

Falo sobre o Criciúma E.C.  Foram colocados como objetivo, 23 pontos para o final do primeiro turno do Campeonato Nacional e a vitória contra o time do Botafogo desceu pelo ralo do esgoto. Novamente dissemos em ar de profecia que um empate contra o time do Bahia já seria muito bom,  e deixou-se de ser somados dois pontos na tabela de classificação.

Queremos um Tigre vitorioso, vibrante como a sua torcida. Talvez a direção do Clube esta se perguntando o que mais fazer?  A vitória se encontra no início e não no final. Os vitoriosos bebem água para satisfazer a sede e os derrotados bebem água para não morrer de sede.  O Criciúma tem um invejável reservatório de água, porém esta bebendo água para não morrer de sede.

Direção, Comissão Técnica e Atletas devem tomar conhecimento destas verdades. É um trabalho a ser feito dentro do Clube. Caso contrário a Segunda Divisão esta de portas abertas.
Lógica? O que é lógica? Elas não se conhecem. Ganha que está preparado.


Por Antônio Topanotti - Criciúma/SC - 14/09/2013

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

AS RAÍZES DO ROMANTISMO

O mundo, às vezes, pode parecer um lugar assustador. Um lugar onde não conseguimos ver espaço para nossa vida. A alma, então, fica ofegante, sem ar, buscando um lugar onde o horror não seja a regra.

Esse lugar pode ser um mundo invisível, o passado, um paraíso, a pessoa desejada, ou, o que às vezes é a mesma coisa, um outro inferno, como o mundo, ainda que feito da substância dos pesadelos. Quando esse terreno encontra gênios literários, o horror pode virar beleza.

A descrição acima está muito próxima do que o filósofo judeu britânico Isaiah Berlin (século 20) pensava da Alemanha (ainda que neste momento a Alemanha não existisse como unidade política) dos séculos 17 e 18, devido as terríveis guerras religiosas entre católicos e protestantes, "a Guerra dos 30 Anos".

O resultado foi uma Alemanha devastada e reduzida à "Idade Média". Enquanto França e Inglaterra nadavam de braçada em direção à modernização burguesa industrial, os alemães se afogavam no ressentimento e na melancolia. Nascia o romantismo. Essa Alemanha foi seu o berço.

A historiografia marxista costuma dizer (com razão) que o romantismo é a primeira grande ressaca da Europa com a modernização burguesa. A tese de Berlin não nega este fato, mas ilumina elementos sutis com relação aos afetos românticos.

A modernidade é bipolar. Quando acorda bem, é iluminista, científica e progressista, assim como nós quando acordamos acreditando em nossa capacidade de produzir o sucesso material em nossas vidas. Mas quando ela acorda mal, é romântica, ciente da hostilidade do mundo e em dúvida com relação à capacidade de sua grande criação, o iluminismo racionalista e técnico-científico. Assim como nós quando acordamos em meio a madrugada sentindo a solidão de quem investiu a vida em dinheiro, profissão e sucesso material às custas dos vínculos afetivos pouco eficazes.

Mas, se o romantismo é mal-estar com o mundo burguês, ele é também fruto do mesmo mundo burguês e sua esperança na capacidade do indivíduo criar sua própria vida e sonhar com um futuro que seja autêntico e livre de convenções limitantes. O romantismo é antes de tudo uma afetividade angustiada com um mundo que nega aos homens e mulheres sua espontaneidade. Uma espontaneidade recém-adquirida graças à liberdade moderna.

Em março e abril de 1965, Berlin deu um série de conferências na National Gallery of Art em Washington, EUA, como parte do programa conhecido como The A. W. Mellon Lectures in the Fine Arts. Estas conferências foram publicadas em 2001 com o título "The Roots of Romanticism", Princeton University Press, organizadas pelo editor da obra de Berlin, Henry Hardy. São quatro conferências imperdíveis tanto para os interessados no romantismo quanto para os interessados no pensamento do próprio Berlin.

O romantismo é um grande ataque ao iluminismo e sua fé na eficácia e na ciência da razão. Por isso, na segunda das conferências, Berlin identifica no pietismo alemão do século 17 a grande matriz romântica e não nos delírios das caminhadas do solitário Rousseau. Os pietistas eram de classe média baixa, homens de letras, que liam a mística alemã medieval, principalmente autores como o místico do século 14 Meister Eckhart.

Os pietistas viam o mundo como um lugar tomado pelos horrores do mal e por isso fugiam para o campo, viviam em silêncio, estudavam, e por isso mesmo tinham uma vida interior de enorme força e violência. A vida como drama, e não como "uma agenda" (como viam os iluministas). Em especial, o teólogo e poeta pietista J.G. Hamann (1730-1788), amigo pessoal de Immanuel Kant, lerá o conceito de "Abgrund" ekhartiano, entendido pelo medieval como "abismo sem fundo" de uma alma que se descobre feita da matéria de Deus, como sendo a realidade de uma alma obscura e misteriosa que não cabe na razão, mas que é presa num mundo que não é sua casa. O exílio no mundo é a marca deste "mago do Norte", como ficou conhecido.

O romantismo nos legou esse sentimento sem cura de que criamos um mundo no qual não nos reconhecemos.


Por: Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 09/09/2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

PREGUIÇA DE TER RAZÃO

Eu adoraria dizer que é maturidade, mas é preguiça mesmo. Uma falta de vontade crônica que os mais precipitados julgariam depressão. Não! Estou convencida de que é minha baianidade concentrada e saindo pelos poros… devagar para não cansar, claro! Curioso? Calma, não se apresse. Ouvi dizer que stress dá câncer!

Já tem um tempo. Começou com silêncio imperioso num momento em que meu natural seria falar. Depois uma briga que não houve pela simples falta de vontade de argumentar. De pouco a pouco aquela pessoa que dava tudo para entrar (e ganhar) a discussão foi deixando pra lá esta gana de ter razão. Guardo minha certeza no cantinho dela enquanto contemplo meu interlocutor vociferar. Ele vai sumindo naquele embaçar que preenche os olhos de quem tem o cérebro a desligar e viajar. O sobressalto e a pausa dão o tom de final, a deixa para minha suposta réplica, tréplica… em que parte mesmo estávamos?

Aí um sorriso plácido esboço e um aceno calmo evoco para acabar logo com aquilo. “Ok, você tem razão”, seria um bom ponto final, mas é incrível como as pessoas não se contentam com a paz. Querem sangue. Mas ando com preguiça. Já fui mais de querer toda razão e não me dava por satisfeita até que minha soberania não reconhecida fosse. Hoje, só quero ser feliz e ter sossego, sem convencer de nada, ninguém. Será que estou adoecendo? Sinceramente? É só preguiça mesmo. Acho que estou é envelhecendo.


Por Fabiana Bertotti - 13/07/2013