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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

IMEDIATISMO

O imediatismo hoje é, na maior parte dos casos, tido como um problema que envolve grande parte das pessoas. Imediatismo, de acordo com o dicionário, é um sistema que funciona sem mediação, sem um termo de passagem. Isso indica que aqueles que desejam resposta imediata querem sair de onde estão e chegar ao objetivo sem percorrer o caminho, sem mediação. A mediação é o caminho que se deve percorrer para sair de onde está e chegar ao objetivo final. Esse caminho prevê tempo, e, quanto maior o objetivo, provavelmente maior será o tempo para alcançá-lo. No entanto, na sociedade atual, é desejado que o caminho seja cada vez mais curto, para praticamente tudo, inclusive para as terapias. Pesquisas e mais pesquisas se colocam diante do desafio de produzir resultados cada vez maiores em menos tempo. A questão do imediatismo é típica de sociedades que têm como tônica o aumento da velocidade, onde o tempo parece cada vez menor para uma possibilidade cada vez maior de uso do mesmo. Se entendêssemos que a rapidez das motos, carros, aviões, trens, é apenas um dos sintomas de uma sociedade que está vivendo em alta velocidade, ficaria fácil perceber o imediatismo como sintoma.

É isso que acontece com um pai que procura uma escola de inglês com um método super revolucionário que ensina o conteúdo em três meses. O mesmo acontece com a mãe que procura uma clínica que faça com que ela fique com o visual de menina de academia em dois meses. O pai também entra na roda quando compra o carro que permite a ele fazer trechos cada vez maiores em menos tempo. A criança entra na velocidade dos pais ao pedir o vídeo game último lançamento, mas que em seis meses já está ultrapassado pois o console novo é dez vezes mais rápido.
 
Mas como perceber se eu estou vivendo rápido demais? Alguns, muito provavelmente nem leem artigos tão longos, dizem que se pode dizer mais em menos linhas, é provável, pois estes mesmos querem viver mais em menos dias. São pessoas de vida resumida, sexo resumido, alimentação resumida, carinho resumido, onde o todo é muito longo e enfadonho. Para saber se estão indo rápido demais olhem para a velocidade do passo na rua: caminham rápido? É muito provável que estejam muito mais rápidos no pensamento, e o corpo tenta em vão acompanhar o pensamento. Você percebe o caminho entre sua casa e o trabalho? A estrada, os carros, as pessoas, a belíssima serra que é parte marcante de nossa paisagem? Posso ainda perguntar se tem feito caminhadas, é provável que diga que sim, mas falo de caminhadas a passos lentos, sentindo o friozinho do inverno, ouvindo o cantar dos pássaros. Este tipo, provavelmente não.

Desacelerar, acalmar as ideias, para muitas pessoas é a cura para problemas como ansiedade, depressão, pânico. Desacelerar pode trazer a pessoa de volta ao corpo, ao espaço onde provavelmente a maior parte dos problemas desaparece. Pergunte-se a você mesmo: onde estão seus maiores problemas? No corpo? É provável que não. O pensamento, pelas possibilidades que apresenta, pode tanto criar grandes maravilhas como causar grandes estragos. O aumento de velocidade, assim como num carro, pode causar grandes problemas.

Para que isso não lhe aconteça preste atenção ao seu limite de velocidade: se estiver sendo imediatista, pode ser que seu limite tenha chegado. Ao observar o mundo se vai perceber que entre um bom inverno e o verão há a bela primavera. Se pulássemos direto do inverno para o verão perderíamos toda a beleza das flores.




Por Rosemiro A. Sefstrom - 26/06/2013 - Criciúma/SC
Fonte:http://www.filosofiaclinicasc.com.br/artigo/imediatismo-199

quarta-feira, 26 de junho de 2013

PACTOS: ALGUÉM ACREDITA NISSO?

Pacto? Pactos? Alguém acredita nessa parada? Quem tem aí pela faixa dos 50 anos - não precisa nem ser mais - lembra-se bem. Corriam os anos 1980, início dos anos 1990. Inflação nas nuvens. Na estratosfera. Comissões do FMI chegando todo mês ao Brasil. Dívida externa flambando a casa do 100 bilhões - de dólares, saibam logo os mais mocinhos. A cada degringolada da economia em permanente degringolagem, o que faziam? Convocavam um pacto. A tentativa era fazer com que governadores, prefeitos, empresários, sindicalistas, partidos políticos, todo mundo, enfim, estivesse representado numa, como chamavam, mesa de negociações para negociar pautas que podiam incluir tanto o controle dos gastos públicos como propostas trabalhistas ousadas. E quando anunciavam os planos econômicos - aqueles malucos, como os que implicaram até a mudança de moeda? O passo seguinte também era convocar um pacto. Essas encenações, afinal de contas, resultavam em quê? Em nada. Absolutamente nada. Pois eis que chegamos a 2013 - 20, 30 anos depois daqueles anos.
 
O Brasil, acreditem, se inscreve entre as democracias mais sólidas do mundo. A inflação se encaminha para a casa dos 6% ao ano, mas ainda assim muitíssimo abaixo dos índices estratosféricos daqueles anos. As contas públicas mais ou menos sob controle. De cofres cheios, por conta de superávits primários expressivos, o país se permite até perdoar dívidas de ditaduras cruéis, sanguinárias, horrorosas, como algumas ditaduras africanas. Mesmo com essa estabilidade, as ruas se enchem de insatisfeitos. De Norte a Sul, de Leste a Oeste do país, multidões tomam as ruas para exigir tudo de todos, desde o escorraçamento de corruptos até a conclusão de obras inacabadas, como a do BRT em Belém. Aturdidos, políticos e autoridades - todos legítima e democraticamente eleitos - não sabem o que fazer. Até que descobrem uma forma de acalmar as multidões. O que fazem? Convocam não apenas um pacto, mas cinco pactos. Cinco. Um, dois, três, quatro, cinco. Os pactos, anunciados pela presidente da República ao lado de governadores e prefeitos de capitais, incluem medidas como transformar a corrupção em crime hediondo, proposta que pulula aí pelo Congresso. Uma das propostas é do deputado Fábio Trad (PMDB-MS). Outra é do senador Pedro Taques (PDT-MT), só para citar duas. Palmas para a presidente. Palmas para governadores e prefeitos que, tremendo nas bases, e sob os clamores das ruas, apoiaram a iniciativa da presidente. Palmas para congressistas, que ontem, surpreendentemente, rejeitaram a PEC 37, a da impunidade. Depois das palmas, no entanto, vamos combinar: quando alguém não quer resolver um determinado assunto, convoca-se uma reunião; quando governantes aturdidos não sabem bem o que fazer, convocam pactos. Acreditar que esses discursos vão conter essas manifestações é acreditar que os pactos são uma espécie de genérico para iludir quem não tem mais idade para ser iludido. Fora de brincadeira.
 
 
Fonte: Blog Espaço Aberto - 26/06/2013

terça-feira, 25 de junho de 2013

DEMITIR POR TELEFONE... PODE?!?

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 24/06/2013: Uma ouvinte escreve: "Trabalho na matriz, aqui no Brasil, de uma empresa que tem 32 filiais espalhadas pelo país. Em cada filial existe uma pessoa que se reporta diretamente a mim. Preciso demitir uma dessas pessoas em função do baixo desempenho dela. Mas ela está em uma das filiais mais distantes que temos, a mais de 2 mil quilômetros da matriz. Pergunto se numa situação assim, uma demissão por telefone seria aconselhável?"

Bom, em meus velhos tempos, eu tinha uma regrinha bem simples para casos como esse: demita da mesma forma que você admitiu. Se você viajou até a cidade distante para recrutar o candidato, ou se ele viajou de lá até a matriz para ser contratado, repita o mesmo procedimento no momento de demiti-lo. Se a distância não foi um empecilho na contratação, não deveria ser na demissão.

Mas há outro ponto a considerar. O subordinado em questão foi avisado, mais de uma vez, que o baixo desempenho dele poderia resultar em uma demissão? Foi dado a ele um prazo para melhorar? Foi concedido a ele algo que ele solicitou para que os resultados pudessem melhorar? Se tudo isso foi feito, a demissão não seria vista, por ele, como uma surpresa. Seria mais um encerramento de um ciclo, que incluiu oportunidades, apoio e prazo definido. Nesse caso até faria sentido uma comunicação final por telefone. Fazer a pessoa viajar durante horas para ela ouvir o que já sabia e esperava, seria de fato um desperdício de tempo, tanto dela quanto o seu.

Porém, se nada disso ocorreu e se a demissão se constituir numa surpresa total, eu sugiro que o mesmo processo usado na contratação seja usado na demissão. No mínimo, por respeito ao ser humano.


Max Gehringer, para CBN, 24/06/2013.
Fonte:http://estou-sem.blogspot.com.br/2013/06/posso-demitir-alguem-por-telefone-by.html

segunda-feira, 24 de junho de 2013

DÉDALO E ÍCARO

Queridos leitores. Ícaro é o filho de Dédalo, um artesão famoso, patrono dos técnicos na Grécia Antiga. Dédalo colocou em seu filho Ícaro asas feitas de cera de abelhas e penas de gaivotas. O motivo? Para que eles, Dédalo e Ícaro, pai e filho, pudessem fugir da Ilha de Creta. Queriam escapar do labirinto onde estava o Minotauro, aquele metade homem e metade touro, e que se alimentava de carne de jovens atenienses.

Ao colocar as asas em seu filho Ícaro, aconselhou: “Filho, voe moderadamente. Não voe alto se não o sol derreterá a cera e você cairá. Não voe muito baixo se não as ondas do mar o apanharão ou então a umidade pesará suas penas e você não chegará ao destino”.

E os dois foram. Dédalo voou moderadamente e chegou ao destino, mas viu seu filho Ícaro em êxtase, deslumbrado com a invenção e quanto mais alto voava e se exibia, mais a cera derretia. Até que a cera derreteu totalmente e Ícaro caiu no mar.

Com essa estória, que faz parte da mitologia grega, minha intenção é instigar seu raciocínio perguntando: por que se fala mais de Ícaro do que de Dédalo? Por que se fala tanto da queda e pouco se fala do sucesso de Dédalo que voou moderadamente e chegou são e salvo ao seu destino?

É possível que alguns pensem que algumas pessoas são advertidas pelos mais velhos ou por profissionais experientes a seguirem sua jornada mais devagar, sem se deslumbrar. Será que há necessidade de voar tão alto?

Penso que um grande número de pessoas, principalmente aquelas que estão na corrida do ouro, provavelmente estão se afastando tanto da sua essência, da sua estrutura do pensamento, que dificilmente acharão sozinhas o caminho de volta.

Às vezes me pego correndo, voando veloz e alto e me pergunto: correr tanto e tão alto para que, para chegar aonde?

Isso é assim para mim hoje.

Por Beto Colombo - Criciúma/SC - 21/06/2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013

NÃO VOU COM A CARA DO CHEFE, E AGORA?!

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 21/06/2013, com um ouvinte que não se identifica com a liderança da sua empresa e quer saber quais as consequências disso para a carreira dele.
 
Um ouvinte escreve: "Estou há dois anos nesta empresa e meu problema é: não me identifico com os líderes dela. Não são pessoas que eu admiro, nem pelo conhecimento, nem pelo tratamento e nem pelas iniciativas. Em síntese, não quero ser como elas. Não demonstro para ninguém esse meu mal estar com uma liderança que não me agrada, mas pergunto: que consequências isso poderia trazer para a minha carreira?"

Bom, eu já disse em outra ocasião que, se um funcionário pretende ter um futuro promissor na empresa em que trabalha, quanto mais ele se parecer com as pessoas que são promovidas, mais chances ele mesmo terá de ser promovido.

O fato de que você não quer ser e nem agir do modo como os líderes de sua empresa são e agem, não significa que a empresa possa estar descontente com o presente estilo de liderança. Até pelo contrário, a empresa provavelmente estimula e incentiva esse tipo de atitude que você enxerga nos líderes.

Se você já decidiu que não pretende mudar o seu modo de ser e se adequar a essa cultura interna, há um razoável risco de você ser superado em uma eventual promoção por um colega que se pareça e se afine bem com os líderes atuais. Ou, em síntese, você está em uma empresa inadequada ao seu perfil profissional. Não dá para afirmar que você esteja errado ou que a empresa esteja errada. Mas dá para afirmar que os santos não combinam.

A não ser que, de repente, o presidente ou o dono da sua empresa decida promover uma mudança radical no perfil da atual liderança, você é quem está sobrando nessa equação. Essa é a consequência para a sua carreira. Você ficaria parado, enquanto a roda continuaria girando. Eu sugiro que você se mova o quanto antes, procurando uma empresa em que o seu perfil se encaixe melhor.

Max Gehringer - para CBN - 21/06/2013.

Fonte: http://estou-sem.blogspot.com.br/2013/06/que-consequencias-o-fato-de-nao-me.html

quinta-feira, 20 de junho de 2013

DEMAGOGIA

A palavra demagogia está presente em meus pensamentos faz um tempo, e com cada vez maior freqüência e força é possível identificar o uso do recurso que ela significa. Segundo o dicionário, Demagogia pode ser considerada “a arte de conduzir o povo”, também se diz que é uma arte de propor algo que não se consegue alcançar na prática. Mas o que realmente chama a atenção é que a Demagogia é a arte de conduzir ou propor algo que tem por objetivo alcançar benefício próprio. Considerando esta definição, pode-se dizer que demagogia é fazer uso de ferramentas que dominem pessoas para atingir objetivos que favoreçam a si mesmo. É o caso dos discursos politicamente corretos dentro de organizações que falam de uma vida eco sustentável, onde os eco representam milhares de dólares que se ganha por não precisar mais comprar copos descartáveis.

Quando esta palavra surgiu, na Grécia Antiga, significava os “defensores da democracia”, que eram os demagogos. Ao longo do tempo, por causa do uso que foi feito da ferramenta de condução do povo, demagogia é tomada hoje em sentido pejorativo. Na prática a demagogia pode ser vista quando alguém se coloca diante dos outros como alguém pobre, necessitado, tendo em vista receber favores. O mesmo pode acontecer de alguém que enaltece a si próprio com o intuito de obter vantagens. Isso lembra muitos relacionamentos, onde um dos dois se coloca numa posição tal que visa obter vantagens sobre o outro. Um dos casos mais comuns são de pessoas que percebem que quando estão doentes têm atenção. Ao perceberem que o carinho virá se estiverem doentes, ao menos parecerem doentes, pronto a cada tanto estão doentes, padecem de algum mal.

Esse comportamento com um objetivo ou vários objetivos é conhecido em Filosofia Clínica por Comportamento & Função. O comportamento pode ser simples, a pessoa diz para a mãe que sua cabeça dói para que esta fique por perto. O comportamento também pode ser composto, como falar menos, ficar quieto num canto, começar a tossir, até que peça pela atenção e obtenha os cuidados da mãe. O demagogo se coloca numa posição tal de forma que seus comportamentos tenham como função o domínio das pessoas ao seu redor. Aqui o comportamento tanto pode ser simples como composto, sendo que a função é simples: dominar.

Esse domínio nem sempre é assim tão evidente, algumas vezes, para quem olha de fora uma situação o dominador pode parecer o dominado. É o caso daquele homem forte, rude, que está ao lado de uma mulher pequena, franzina, que é um anjo, no entanto, essa anjinha, com sua candura domina e faz com que o homem forte e rude sirva a seus propósitos. O seu jeito de ser cumpre uma série de comportamentos que levam o marido a servi-la. A falta de conhecimento de quem vê de fora e até mesmo do marido faz dele refém (função) dos comportamentos da esposa.

Nos dias atuais estão acontecendo uma série de manifestações Brasil afora, movimentos estimulados sabe-se por quem e com qual objetivo. Centenas de pessoas são convidadas via redes sociais para reunirem-se e lutar por objetivos que em muitos casos pouco conhecem. A falta de consciência política, econômica, social, faz com que uma grande massa se torne a prova de que o discurso demagógico de domínio funciona. Demagogia neste caso é o Comportamento & Função na prática social, mas a questão fundamental que fica é: “que função cumpre esse comportamento de revolta?”


Rosemiro A. Sefstrom - Criciúma/SC - 20/06/2013

 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

POLÍTICOS EM PSICOSE

 
 
É linda a revolta que nasceu de um reajuste de R$ 0,20 nas passagens de ônibus e resultou em 250 mil brasileiros fazendo barulho nas ruas. A beleza está na ausência do grande líder por trás do movimento. Atônitos, os políticos vivem a psicose do que ainda está por vir. Descobriram um inédito sentimento de vulnerabilidade. Sem exceção, viraram todos alvos do imponderável. Políticos vivem atrás de uma teoria unificadora. Nas últimas horas, todos tentaram de tudo para chegar à explicação absoluta. Mas tudo não quis nada com os teóricos. Em 1992, Fernando Collor estava por trás da ira coletiva. Agora, nenhum político sente-se à vontade para atirar pedras em outro. Se o asfalto informa alguma coisa é que, para a turba, todos têm telhado, porta, janela, paletó e gravata de vidro.
 
A história ensina que não se deve esperar de políticos exames profundos de consciência ou atos espetaculares de contrição. Porém, o instinto de sobrevivência também pode abrir picadas para a virtude. Que o digam as autoridades de São Paulo –no intervalo de um final de semana, evoluíram da porrada e da bala de borracha para o diálogo e o recuo da tropa de choque. Algo de muito diferente sucedeu nesta segunda-feira, 17 de junho de 2013.
 
Há uma sensanção de prefácio no ar. Falta responder: prefácio de quê? Seja o que for, algo já ficou entendido: atrasado, o brasileiro aprendeu que, com um computador e dois neurônios, qualquer pessoa pode acender o pavio de uma revolta. Ninguém depende mais de partidos, sindicatos ou entidades. Qualquer mote serve de pretexto: o preço da passagem, as borrachadas da polícia, a corrupção, a PEC 37, os gastos da Copa, a penúria da educação, o flagelo da saúde… A rapaziada informa que o brasileiro acomodado já não a representa. Resta saber como esse inconformismo difuso será exercido. Com sorte, a revolta apartidária pode reintroduzir na política a crise do “de repente”. Os bambambãs saberão que, saída do nada, uma vaia pode soar num estádio, uma legião pode invadir a Avenida Paulista, uma multidão pode lotar a Candelária, uma meninada pode converter o espelho d’água do Congresso numa piscina.
 
 
Por Josias de Souza - Blog Espaço Aberto - 18/06/2013.

domingo, 16 de junho de 2013

COMO RESPONDER EMAIL`S NAS EMPRESAS?

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 14/06/2013, sobre como responder e-mails no trabalho e quatro coisas que devem ser evitadas nos e-mails profissionais:
 
"Minha pergunta é sobre e-mails no trabalho", escreve um ouvinte. "Todos precisam ser respondidos? Qual é a melhor maneira de respondê-los? Pergunto isso porque aqui na minha empresa muitos não respondem. E cada um dos que respondem, tem o seu próprio jeito de responder."

Vamos lá. A sua pergunta é bem atual, porque o e-mail se tornou a principal ferramenta de comunicação em muitas empresas. E algumas delas estão sendo atoladas pelo excesso de mensagens trocadas.

Começando pelo básico: empresas precisam de eficiência. Portanto, a melhor maneira de responder é no estilo direto e sem floreios. Quanto mais curta a resposta, melhor, desde que ela não deixe dúvidas. Então, o que deve ser evitado?

Primeiro: literatura. Tem gente que conta uma looonga história para no fim dizer que concorda com o que leu.

Segundo: frases que nada têm a ver com o assunto. Por exemplo, citações de textos laicos ou religiosos no fim da mensagem.

Terceiro: mistura de assuntos. O ideal é sempre se limitar a um único tema por e-mail, porque em muitos casos será necessário uma troca de vários e-mails até que se chegue a uma conclusão. E é mais fácil e mais produtivo reler o que já foi escrito se não houver congestionamento de temas.

Quarto: não mandar cópia para quem não precisa recebê-lo. Esse talvez seja o maior problema. Quem escreve para um, copia outros vinte. E cada um dos copiados responde copiando a todos os outros. No fim, um assunto que dois poderiam resolver, gera uma perda geral de tempo.

Um pequeno manual de troca de e-mails resolveria tudo isso, desde que o seu conteúdo não seja previamente discutido por e-mail com todos os envolvidos. Se for, o manual terá vinte páginas quando só precisa ter dez linhas.
 
 
Max Gehringer - para CBN - 14/06/2013.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

ARAPUCA

 
Numa conversa com um amigo fiquei sabendo de um artigo escrito por Eliane Brum que tem por título “Meu filho... você não merece nada!!!” É um texto interessante e realmente recomendo a leitura. No texto a autora começa por mostrar como os pais criaram armadilhas nas quais eles mesmos estão ficando presos. São uma geração de pais (nem todos) que criam os filhos com tudo o que eles não tiveram, inclusive a falta de educação, juízo de valor, senso de coletividade, vontade de vencer. Enfim, como diz a Elaine Brum, “nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito”. Essa ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito faz com que, cada vez mais, os pais se tornem refém da felicidade dos filhos.

É provável que você já tenha ouvido a expressão: “Vou dar ao meu filho o que o meu pai não pode me dar”. Essa expressão não é de todo ruim, em muitos casos o pai não dava carinho, atenção, amor, educação, orientação, mas em geral essa afirmação está relacionada apenas com bens materiais. São pais que atingiram uma posição social cômoda e que têm para dar aos filhos “o que os pais não tinham para dar” desconsiderando que muitos filhos, que eles mesmos criam, são como poços sem fundo: quanto mais os pais derem, mais terão que dar. No dia em que o pai não tem mais como oferecer aquele manancial de coisas à criança, jovem e muitos adultos, os filhos voltam-se contra os pais porque eles têm o direito de ter o que querem. O pai e a mãe podem estranhar, mas foi exatamente o que eles ensinaram aos filhos a vida toda: que eles iriam ter tudo. A armadilha que muitos pais estão se metendo é fruto de uma visão míope, onde ter conforto pode significar viver melhor.

Muitos destes pais, no entanto, esqueceram até rápido demais que quando pequenos a falta do que comer lhes fez buscar. Muitos não lembram que a ausência dos bens não significou a ausência do pai, da orientação, da educação. Muitos pais de hoje em dia fazem o contrário: dão uma imensidão de coisas os filhos e se eximem de serem pais. O que espanta em muitos casos é a falta de uma visão sobre si mesmos como pais, de modo que se veem nas escolas mãe que dizem: “já não dou mais conta do meu filho”. Aí ficam os professores reféns de pais que não dão limites aos filhos, mas dão tênis caro, roupa cara, passeios caros.
 
 
Estes pais se tornam reféns do assalto dos filhos dentro do supermercado, onde gritam, esperneiam até que ganham o que querem. Tornam-se reféns da educação que deram aos filhos, pois não conseguem perceber que a arapuca na qual estão presos foi construída com muito zelo por eles mesmos. Em Filosofia Clínica essa prisão, amarra, chama-se Armadilha Conceitual, ou seja, um conceito que prende alguém. A Armadilha Conceitual do qual muitos pais se tornaram reféns foi o conceito de filho, crianças que perderam noções básicas ou tem visões distorcidas a respeito de si próprios e do mundo onde vivem.

Estar preso ao filho que criou pode ser falta de conhecimento, vontade, sabedoria, ajuda, enfim, pode ser muitas cosias. Mas, continuar prisioneiro de alguém que no futuro vai muito provavelmente acusar a você pelos prováveis insucessos é uma escolha. Existem pessoas, livros, vídeos, programas de televisão que sugerem formas de educação nas quais o filho não é uma arapuca, uma prisão, mas uma pessoa com quem se vai curtir a vida. Ter um filho companheiro, não credor, ter um filho amigo, não aliado político, ter um filho carinhoso, não interesseiro, é possível, mas é preciso que os pais saibam educar. Pense nisso: talvez muito do que você não teve fez de você quem você é.
 
 
Por Rosemiro Sefstrom - Criciúma/SC - 11/03/2013

 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!!

Inflação é isso, meus caros. Corrói tudo. Corrói até popularidade. Como a da presidente Dilma, por exemplo, corroída em oito pontos percentuais - oito pontos, repita-se - em dois meses, de março pra cá, segundo pesquisa Datafolha. Agora, o mais bacana é ouvirmos assessores falarem. Para o consumo externo, falam sobre isso como uma coisa banal, qualquer, desimportante, digna de ser esquecida. Ou digna de nota da rodapé, como aquelas que saem nos jornais, ao pé das páginas. Parem com isso. Se os assessores da presidente ainda não se convenceram das razões da queda de sua popularidade, são estúpidos.

Com todo o respeito, é o que eles são. E por falar em estúpido, lembrem-se de Carville. Carville é James Carville, estrategista eleitoral de Bill Clinton. George H. Bush, o pai, disputava a reeleição sob os eflúvios heróicos do triunfo na primeira Guerra do Golfo. Em março de 1991, alguns dias após a invasão do Iraque, 90% dos norte-americanos aprovavam a atuação de Bush nos empregos. Mais tarde naquele ano, a opinião pública mudou drasticamente, e 64% passou a reprovar suas medidas em agosto de 1992. O país submergia na recessão. Carville escreveu num cartaz, que mandou pendurar na sede da campanha de Clinton: "É a economia, estúpido!".
 
Era nisso que a campanha de Clinton deveria focar. Clinton venceu, insistindo na tecla da economia. "É a economia, estúpidos". É isso que corrói a popularidade de Dilma. Imaginar o contrário é estupidez. Uma estupidez, como diria Nelson Rodrigues, sesquipedal. Ou não?
 
Autor não especificado - Blog Espaço Aberto - Segunda-feira, 10 de junho de 2013.
Fonte: http://blogdoespacoaberto.blogspot.com.br/2013/06/e-economia-estupido.html

segunda-feira, 10 de junho de 2013

PONDÉ QUE ME DESCULPE

Olá...
 
Pondé que me desculpe, mas sua escrita desbocada, porém sempre ácida e inteligente, me fez realizar algumas cirurgias neste texto, iniciando pelo título, para que ao meu ver, não seja eu ofensor do seguidor deste blog. Como sou leitor inveterado deste mestre contemporâneo da filosofia brasileira, adaptações por minha conta e risco, envio todos os créditos a ele, iniciando o artigo com o link para o texto original da Folha de SP, onde poderão os curiosos lê-lo na íntegra. Longe de mim plagiar Luiz Felipe Pondé, mas não posso deixar de divulgar este provocativo artigo.
 
Como o tema em questão é recorrente e a discussão sobre a homofobia está virando agora heterofobia, a ditadura das minorias está rendendo a oportunidade de discutir a origens das revoluções e principalmente seus propósitos. Muitas coisas podem ser percebidas, e uma delas é de que tem gente realmente saindo da razoabilidade e fazendo papel de idiota nesta discussão, enquanto quem realmente detém o poder, coloca nossa nação em posição de ser dominada sem qualquer movimento de defesa. É como discutir o sexo dos anjos ou dos demônios: Leva-nos a quase nada, produz muito barulho, às vezes para tentar mudar a rota de um vento. Alguém já conseguiu isso?
 
Certo dia me disse uma raposa felpuda: "Quer pescar, agite a água." No passado também disseram os Romanos: "Panis et Circenses!" Para mim, é a este serviço que está toda esta discussão: do "CIRCO"!
 
 
André Topanotti
 
 
Artigo de LUIZ FELIPE PONDÉ - Folha SP - 10.06.2013
 
Hoje vou falar de coisa séria: vou falar de mulher. Aliás, nem tanto, pensando bem. Vou falar de feministas e muitas dessas não são exatamente mulheres. E também de gente que quer fazer meninas brincarem com carros e meninos com bonecas em nome da "tolerância". Até quando vamos ter que tolerar esses maníacos em zoar a vida dos filhos dos outros?
 
O fascismo nunca perde força. Em nome de uma educação para diversidade, os fascistas de gênero agora querem se meter nos brinquedos das crianças. Quando será que a maioria silenciosa vai dar um basta nessa palhaçada pseudocientífica chamada teoria de gênero na sua versão "hard" (engenharia psicossocial do sexo)? Quando vamos deixar claro que essa coisa de dar boneca para meninos quererem ser meninas é, isso sim, abuso sexual?
 
Quem sabe, quando as psicólogas e pedagogas tiverem coragem de parar de brincar com a sexualidade infantil fingindo que acreditam nessa baboseira de trocar os brinquedos de meninas com os dos meninos e vice-versa.
 
Mas, vamos aos fatos. Há alguns anos, assistia eu um pequeno festival de curtas sobre diversidade sexual quando ouvi uma das maiores pérolas desta pseudociência do sexo. O curta abria com uma cena de sexo em uma cadeia masculina. Um casal de homoxessuais (um homem e um travesti) faziam sexo. O curta seguiu seu curso, mas não é o filme em si que me chamou atenção. De certa forma, o curta repetia uma das manias chatas do cinema brasileiro: cadeia, bandido, pobre, sexo explícito, drogas... haja saco. Cinema preocupado em construir "consciência social" (essa nova categoria da astrologia) é sempre chato e ruim.
 
Terminado o filme, "especialistas" em gênero fizeram um debate. Na primeira fala, um dos integrantes da mesa protestou contra o fato que na cena o travesti estava em posição degradante e que isso revelava que os criadores do curta incorriam no pecado da "falocracia". Calma, caro leitor e cara leitora, não pretendo usar palavras de baixo calão numa segunda-feira. Explico-me: "Falocracia", termo cunhado para parecer chique, significa sociedade dominada pelo poder do macho (falo = pênis, cracia = poder).
 
Segundo nosso gênio (seria gênia? Não me lembro bem do sexo...), o curta repetia o erro machista de colocar a "fêmea" em lugar de "submissão". Para esses tarados em se meter na vida dos outros, as mulheres até hoje "pensam que gostam" de determinadas posições  porque foram oprimidas. Risadas? E quando digo que feminista não entende nada de mulher ainda tem gente que se espanta... Feminismo fora de delegacia de mulheres dá nisso: invasão da cama alheia.
 
Pois bem, agora algumas feministas mais azedas do que o normal querem ensinar as mulheres heterossexuais (essas que muitas militantes julgam compactuar com o inimigo) a fazer sexo propondo a demonização de uma das posições mais preferidas pelas meninas saudáveis.
 
Segundo nossas fascistas de gênero, as heterossexuais devem ficar sempre por cima para olhar nos olhos do opressor. É meninas queridas, um dia desses vão prender vocês se gostarem desta ou daquela posição. A liberdade sexual acabou e em seu lugar nasce a heterofobia. Quando vamos perceber o fato óbvio de que o feminismo é a nova forma de repressão social do sexo? Principalmente do sexo heterossexual feminino? Ao se meter embaixo do lençóis, essas azedas atrapalham a já difícil vida sexual cotidiana. Uma coisa é combater crime sexual, salário discriminatório, outra coisa é se meter no modo como as pessoas fazem sexo.
 
Isso me lembra o filme espanhol de 1991 "El Rey Pasmado" de Imanol Uribe. Neste filme, um casal de nobres sofria "preconceito" porque a mulher gostava de fazer sexo com seu companheiro. O marido idiota chama padres e freiras para rezar e ajudar a mulher ser "casta" no sexo. Antes eram as freiras que odiavam o sexo, hoje são as feministas mais chatas.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O SOL SOBRE O PÂNTANO

"Somos todos leprosos!", afirma o Monsenhor no livro "O Casamento", de Nelson Rodrigues, muito bem adaptado e dirigido por Johana Albuquerque, em cartaz no teatro Tuca. O que quer dizer esta afirmação exagerada "Somos todos leprosos"? No romance adaptado existe uma personagem leprosa, e ela se torna, na fala do Monsenhor, o paradigma da humanidade em nossa humanidade. Todos necessitamos de misericórdia porque estamos "em pedaços", e estes pedaços "desfilam" pelo palco, gemendo de prazer e dor. Nelson Rodrigues é um desses clássicos que todo mundo fala mas pouca gente conhece de fato. Como ele é "cult", dizer que ele é o "máximo" é algo esperado em jantares inteligentes, afora, é claro, os ignorantes que o acusam de "machista" ou, na versão mais moderninha da mesma bobagem, "sexista".
 
"Um Anjo Pornográfico", título da excelente biografia escrita por Ruy Castro, é uma forma precisa de descrevê-lo. Porque, mesmo sendo pornográfico, ele ultrapassa o discurso sobre sexo para falar do "miserável tédio da carne" que não fala especificamente da carne, mas sim da carne como pele da alma e não do corpo. Seus textos parecem confissões de agonia da alma diante do pecado, na mais velha tradição cristã do começo do cristianismo. Nelson não é um mero autor de sacanagem (Nelson não é um Sade pernambucano), mas sim um autor espiritual, no sentido mais forte da palavra, talvez, o melhor teólogo que o Brasil já produziu, já que nos últimos anos a teologia brasileira é mais autoajuda do que qualquer outra coisa.
 
Se formos situá-lo na tradição ocidental, eu o colocaria no encontro entre três gigantes: Freud (sexo como centro dilacerante da alma), Dostoiévski (a alma só sobrevive numa atmosfera de misericórdia porque seu elemento natural é o perdão) e Santo Agostinho (a consciência de que todo drama do corpo é em si um drama da alma). A obra rodriguiana faz de Freud um teólogo.
 
A expressão "Sol sobre o pântano", que descreve muito bem o efeito causado pela montagem de Johana Albuquerque, é um modo presente na fortuna crítica para nomear a obra dramatúrgica de Nelson: sua obra ilumina nossa miséria. A expressão foi usada por Léo Gilson Ribeiro, nos anos 1960, num texto no qual ele diz ser nosso maior dramaturgo um expressionista brasileiro.
 
Nelson era um obcecado por sexo, adultério, sífilis, crime passional, homossexualismo (pederastia), cunhadas gostosas, todas umas Lolitas cariocas. "Em cada esquina do subúrbio carioca existe uma Anna Karenina e uma Emma Bovary", dizia Nelson. No Brasil, a tragédia anda de lotação. No mesmo artigo, Léo Gilson Ribeiro cita a famosa passagem na qual Nelson, comentando sua peça "Bonitinha, mas Ordinária", afirma que "a nossa opção é entre a angústia e a gangrena. Ou o sujeito se angustia ou apodrece. E se me perguntarem o que eu quero dizer com a minha peça, eu responderia: que só os neuróticos verão a Deus".Nelson ri dos idiotas que ainda afirmam que no sexo há redenção e que a revolução sexual nos salvará do tédio. Não, o sexo como sentido da vida é tédio puro. Só idealiza o sexo quem não faz muito sexo. No "Casamento" não é outro o sentido do suicídio de Antônio Carlos, o comedor de todas a mulheres do mundo. As risadas artificiais desvelam o vazio que carrega os personagens arrastados por protocolos: "Não se adia um casamento na véspera só porque a noiva está menstruada!", de novo, decreta o Monsenhor, o oráculo do romance.
 
No sexo da mulher, o sangue menstrual que escorre pelas suas pernas define sua feminilidade. A mulher é mulher porque sangra e sangra porque pode ser fecundada no coito e, quando não mais sangra, se sente menos mulher.
 
Este mesmo oráculo que diz que o sexo é uma mijada (afinal, o órgão sexual é o mesmo que mija, tanto no homem como na mulher e na mulher também sangra), enuncia a diferença final entre nós e os animais: "a culpa faz de nós humanos". A dor da alma é que nos mantém de pé.
 
Se na teologia clássica é dito que só os pecadores verão a Deus, na teologia rodriguiana só os neuróticos verão a Deus.
 
 
Por LUIZ FELIPE PONDÉ - Folha de SP - 03/06/2013.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

COMO RETORNAR AO MERCADO?

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 31/05/2013, com o caso cada vez mais comum de uma ouvinte que parou a carreira para cuidar dos filhos e agora quer saber como voltar ao mercado de trabalho.
 
Uma ouvinte escreve: "Quando eu tinha 22 anos interrompi minha carreira profissional para me dedicar à criação de meus filhos. Hoje eles cresceram e eu comecei a me ver sem ter tanto para fazer. Tenho curso superior, sempre procurei me manter atualizada através de leituras, mas estou com 45 anos. Pergunto: como o mercado de trabalho avaliaria o meu interesse em voltar a trabalhar?"

Vamos lá. Muitas donas de casa que fizeram a opção que você fez, de dar prioridade à criação e educação dos filhos, estão pensando da mesma forma que você. Sua presença em casa já não é tão necessária e você tem ainda muitos anos pela frente, que poderiam ser melhor aproveitados ganhando dinheiro e se sentindo útil. Nessa ordem ou na ordem inversa.

O que eu lhe sugiro é que você não tente conseguir um emprego através do cadastramento em um site ou do envio de currículos para empresas. As duas décadas que você passou distante do mercado de trabalho já seriam suficientes para que você não passasse pelo funil de uma pré-seleção.

Inicialmente, seria melhor você procurar agências que terceirizam profissionais para outras empresas, para serviços temporários ou cobertura de férias. Isso permitiria que você começasse a fazer trabalhos, que talvez estejam abaixo de sua capacidade. Mas, por outro lado, lhe dariam tanto a oportunidade de voltar a se acostumar com o ambiente corporativo, quanto a de se adaptar às mudanças que ocorreram nos últimos vinte anos e que não foram poucas.

Depois de um ano como terceirizada, passando por algumas empresas e executando diversas tarefas, você poderá começar a procurar uma vaga efetiva, já sem o peso do longo hiato que a sua carreira sofreu, por motivos mais do que justos. Boa sorte!


Max Gehringer, para CBN - 31/05/2013.

terça-feira, 4 de junho de 2013

DESFECHO

 
Esta semana lendo o jornal vi uma reportagem que falava de um grande pesquisador americano que se dedica a mostrar como o cérebro nos engana. O exemplo usado pelo pesquisador é da dieta que a pessoa diz que vai começar na segunda, mas que antes do fim de semana come mais que o normal, que compra frutas e verduras na sexta-feira, mas as deixa murchar até a segunda-feira, deixando-as de certa forma menos atrativa. Outro exemplo são de grandes objetivos que temos com relação a nós mesmos que não conseguimos alcançar porque nosso cérebro não nos deixa levar adiante. Os exemplos citados por ele mostram situações em que o cérebro não nos deixa concluir nossos objetivos, realizar uma tarefa que “queríamos” fazer.

É comum ouvir num consultório de Filosofia Clínica coisas como: gostaria de começar um regime, mas não consigo; queria voltar a estudar; nunca conseguir dizer que amo aquela garota. Cada um destes exemplos são situações em que o que eu quero, preciso, devo, enfim, o que era para ser feito, não foi. Mas o que fez com que não acontecesse o desfecho? O que travou a pessoa a ponto de ela não levar a cabo o que pretendia? Para cada um pode ser um motivo diferente, mas em cada um de nós há o que nos estimula e o que nos trava. Em Filosofia Clínica, ao estudar a história de vida da pessoa, provavelmente vamos saber o que a travou, ou seja, que não deixou a pessoa ir ao desfecho. Lembrando que algumas coisas não devem mesmo ir em direção ao desfecho, são perfeitas quando não acabadas.

Mesmo sem saber o que travou o projeto de alguém, pode-se indicar algumas maneiras de começar o que deveria levar a um fim. Para algumas pessoas o projeto não começou ainda porque não tem uma data, ou seja, a falta de estipular um início e fim faz com que ela nem inicie. Se for este o caso, pode-se ver o projeto de vida e colocar datas, tanto de início quanto de fim, com isso provavelmente ele sairá do pensamento. Alguns podem dizer: “eu já fiz isso”. Talvez sim, mas para alguns as datas não podem vir deles mesmos, precisam vir de fora. Pode-se citar um exemplo da esposa que chega para o marido e diz: “Você tem seis meses a partir da semana que vem para perder 10 quilos”. Pronto, agora, com uma data que veio de fora ele consegue colocar em prática o que há anos sozinho não conseguia.

 
Em outros casos o problema está no tamanho do percurso que se tem de trilhar para chegar a um fim. É como uma caminhada, enquanto o objetivo final não é visível o caminhante permanece firme e forte, sequer cansa, mas quando vê o objetivo a alguns metros parece que não vai alcançar. Para este tipo de pessoa, normalmente se diz que nadaram, nadaram e morreram na praia. Talvez se para estas pessoas a caminhada fosse dividida em pequenas etapas, é provável que cada pequeno trecho teria um peso muito menor que o todo. É como a faculdade que tem cinco longos anos, sendo que a mesma pode ser dividida em dez curtos semestres. Se o caminho tiver pequenas divisões e for completado em cada parte, ao final a pessoa terá o todo.

Há ainda as pessoas que precisam de companhia, aquelas que têm seus objetivos, mas concluí-los depende de alguém que possa fazer parte. É o caso das milhares de meninas e meninos que vão para a academia enquanto têm companhia de outros amigos. É o caso daquele rapaz que tem grandes ideias, mas o desfecho delas só acontecerá na companhia daquele amigo mais despachado, mas afoito. O desfecho, o término de um trajeto pode ser importante para algumas pessoas, para tantas outras não. Quando for importante o desfecho, o término, é preciso estudar na pessoa as ferramentas que possam levá-la até lá.

 

Por Rosemiro A. Sefstrom - Criciúma/SC - 15/05/2013
Fonte: http://www.filosofiaclinicasc.com.br/artigo/desfecho-182

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A TRANSFERÊNCIA FOI FRUSTRADA, E AGORA?

Transcrição do comentário do Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 03/06/2013, com um ouvinte que foi transferido para um outro estado e agora quer voltar.
 
Um ouvinte escreve: "Tenho 32 anos. Trabalho nesta empresa há quatro anos e consegui crescer dentro dela mais rapidamente do que eu esperava. Há um ano, porém, fui convidado a assumir a gerência de uma filial em outro estado. Não era o que eu queria, mas pensei que, aceitando o convite, eu mostraria que sou compromissado. Além disso, avaliei que essa experiência contaria pontos para meus futuros passos dentro da empresa.

Aceitei a incumbência, mas hoje percebo que cometi um erro. Estou praticamente isolado nesta filial, que não dispõe de estrutura suficiente para funcionar bem. Em função disso, meus resultados têm sido ruins. Meus seguidos pedidos de verba e de pessoal para poder melhorar os serviços foram negados. E meu superior imediato me disse que não sabe quando poderá me trazer de volta para a matriz. Estou pensando em pedir demissão e pergunto se essa seria uma decisão precipitada."


Bom, um ano não é um tempo enorme, mas a distância e a falta de contato pessoal com colegas, amigos e parentes, aumentam a impressão de isolamento que você está sentido, e que vai se avolumando a cada mês que passa.

Quando você mencionou que cometeu um erro ao aceitar a transferência, eu creio que esse erro foi mais específico. Você poderia e deveria ter perguntado quanto tempo ficaria na filial distante. Se a resposta fosse do tipo "Você vai e depois a gente vê", certamente você teria pensado melhor antes de aceitar.

Por isso, concordo com você que a melhor opção neste momento é você procurar outro emprego em sua cidade de origem. Se você conseguir uma proposta, sua empresa atual poderá lhe fazer uma contra-proposta para retornar. E aí, você teria duas propostas para avaliar. Pedir a conta e voltar desempregado seria a pior das situações. Mas só você sabe a solidão que está sentindo e quanto tempo ainda conseguirá suportá-la.


Max Gehringer, para CBN - 03/06/2013.