
A história ensina que não se deve esperar de políticos exames profundos de consciência ou atos espetaculares de contrição. Porém, o instinto de sobrevivência também pode abrir picadas para a virtude. Que o digam as autoridades de São Paulo –no intervalo de um final de semana, evoluíram da porrada e da bala de borracha para o diálogo e o recuo da tropa de choque. Algo de muito diferente sucedeu nesta segunda-feira, 17 de junho de 2013.
Há uma sensanção de prefácio no ar.
Falta responder: prefácio de quê? Seja o que for, algo já ficou entendido: atrasado, o brasileiro aprendeu que, com um computador e dois neurônios, qualquer pessoa pode acender o pavio de uma revolta. Ninguém depende mais de partidos, sindicatos ou entidades. Qualquer mote serve de pretexto: o preço da passagem, as borrachadas da polícia, a corrupção, a PEC 37, os gastos da Copa, a penúria da educação, o flagelo da saúde… A rapaziada informa que o brasileiro acomodado já não a representa. Resta saber como esse inconformismo difuso será exercido. Com sorte, a revolta apartidária pode reintroduzir na política a crise do “de repente”. Os bambambãs saberão que, saída do nada, uma vaia pode soar num estádio, uma legião pode invadir a Avenida Paulista, uma multidão pode lotar a Candelária, uma meninada pode converter o espelho d’água do Congresso numa piscina.

Por Josias de Souza - Blog Espaço Aberto - 18/06/2013.
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