No artigo 'O Discurso Indesejável'
abordamos a importância do líder desenvolver uma competente capacidade de comunicação.
Entendo que outras técnicas e ferramentas são também relevantes para o exercício
da liderança eficaz. Por isto gostaria de manter-me neste tema abordando o que
em minha opinião e a técnica mais poderosa com que um líder pode "ganhar"
seus liderados: "O Exemplo". Existe hoje uma demanda não só das
organizações, mas fundamentalmente de nossos liderados, muito maior do que tínhamos
épocas atrás. Precisa-se hoje de lideres realmente capacitados e que possam ir além
do simples comandar, que inspirem suas equipes. Ouvi de Rogerio Cher no Congresso
Catarinense de RH: "Os lideres de hoje precisam saber 'convocar a alma' de seus
liderados para o negocio da organização." Fantástico! Digo ainda
que esta capacidade é muito relevante, porque em décadas passadas o titulo do
cargo muitas vezes era o bastante para que as pessoas obedecessem, em alguns
casos talvez por temor de uma demissão; por uma pressão baseada na autoridade,
como popularmente conhecemos como liderar "no grito". Hoje é
inaceitável tal postura em empresas com uma gestão profissional e moderna. Entretanto
ainda existe sim 'chefes' com este estilo de comando, isto sem mencionar que existem
outras formas do ‘chefe’ oprimir e humilhar um subordinado sem precisar gritar
com ele. É o que a legislação define como 'assedio moral'.
Esta necessidade tão presente e
visível em nossas empresas deve-se por alguns fatores, porém percebo que um em
especial, de caráter sistêmico relevante, desencadeia alguns efeitos
peculiares:
1º - O IBGE já constatou uma mudança
importante na curva etária da população brasileira, como podemos ver na imagem
abaixo, extraída da página 22 do relatório do Banco Mundial, disponível em http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-1302102548192/Envelhecendo_Brasil_Sumario_Executivo.pdf
2º - Aliado a este motivo, temos uma crescente necessidade de profissionais por conta de um aquecimento econômico nunca antes visto na historia deste país, segundo muito já ouvimos em pronunciamentos e anedotas, porém pouco há de anedota nesta constatação;
2º - Aliado a este motivo, temos uma crescente necessidade de profissionais por conta de um aquecimento econômico nunca antes visto na historia deste país, segundo muito já ouvimos em pronunciamentos e anedotas, porém pouco há de anedota nesta constatação;
3º - Acrescenta-se a este cenário as
mudanças na lei da aposentadoria em 1994 que através do fator previdenciário,
pressionam os profissionais a permanecerem por mais tempo em atividade para que
possam se aposentar usufruindo de melhor rendimento deste benefício do INSS.
Com todos estes ingredientes
juntos temos como resultado o encontro no mesmo local de trabalho quatro gerações
de características bem diferentes e peculiares: Tradicionais, Baby Boomers,
Geração X e Geração Y. E o quadro é este: Todos estes profissionais
precisando ser liderados. É um desafio e tanto. Dias atrás vinculei na coluna
de noticias do blog, texto que trás a informação que segundo os profissionais
da geração X e Y os lideres da geração 'X' foram escolhidos dentre vários
estilos de lideres como aqueles que melhor conseguem lidar com as diferenças
destas gerações. Penso que esta qualidade possivelmente tenha se consolidado
porque foi a geração que vivenciou a transição das maiores mudanças tecnológicas
e sociais dos últimos 20 anos, precisando desta maneira desenvolver grande
flexibilidade e adaptabilidade sem abrir mão da ética e dos valores em suas relações.
Voltando ao centro do tema
proposto, atrevo-me a pensar em voz alta: Acredito muito na eficiência da
linguagem lúdica, semelhante às parábolas que eram usadas por Jesus através de
seus ensinamentos. Na filosofia clínica este é um sub-modo que se dá o nome
de “vice-conceito”.
Usando desta técnica Jesus falava a multidões com um publico de característica
bem diferenciada e muitos recebiam e entendiam sua mensagem. Mais próximo a
ele, seus discípulos, também tinham características bem distintas: Pescadores,
cobradores de impostos, médicos, financistas. Uma equipe bem eclética. Em
diversas oportunidades, após seus ensinamentos por parábolas, Jesus chamava
seus discípulos em particular e explicava-lhes o significado das parábolas,
realizando assim o treinamento 'no local de trabalho'. Eis um exemplo de liderança
prática, que não só 'manda', mas que explica, ensina e realiza no dia a dia,
com postura eficiente e eficaz. Prova desta eficácia é que mais de 2000 anos
depois, cá estamos nós falando de seus ensinamentos e suas técnicas.
Penso que estamos frente a uma situação
organizacional onde a prática da liderança pelo exemplo pode ser um eficiente método
de convocar o coração, a alma como disse Rogério Cher, seja de um profissional
da geração baby boomers, tradicionais, 'X' ou 'Y'. Digo por percepção cotidiana
que esta ultima geração citada, a 'Y', por dispor de muita informação será a
que menos precisará ser 'ensinada', mas a que mais necessita ser conquistada
pelo 'coração'. É uma geração ávida por heróis, por exemplos que os conquiste.
Sinal desta provavel constatação é que muitos dos heróis que foram sugeridos a esta
geração foram resgatados de décadas passadas.
Encaminho-me para o findar deste
artigo lembrando de uma breve história, onde numa pequena cidade, religiosos da
localidade instituíram uma lei para que nenhuma pessoa cruzasse a frente de um
sacerdote no horário das orações, pois onde o sacerdote estivesse, dado o badalar
do sino, estes sacerdotes deveriam parar e realizar suas orações, não podendo
neste momento nenhuma pessoa cruzar a frente do sacerdote, pois este deve estar
100% concentrado em suas orações naquele momento. Certa feita, uma turista
desavisada percebeu o toque do sino, porém não viu que logo a sua frente ia um
sacerdote. A turista não conhecendo a lei do local continuou calmamente sua
caminhada. Passou pelo sacerdote, foi até uma banca de jornal que estava a sua frente
e retornando pelo mesmo caminho, quando novamente cruzou pelo sacerdote, que
desta vez a interpelou muito indignado: “Não conheces nossas regras e nossa lei? Não
sabes que nós sacerdotes não podemos ser cruzados pelo caminho para que
possamos cumprir nosso dever de ficarmos concentrados 100% em nossas orações?”
Desculpando-se respondeu a turista: “Mil desculpas, mas realmente não conhecia a
lei deste lugar, senão não a teria infringido, mas permita-me pergunta-lo: Se é
dever sacerdotal ficar concentrado 100% nas orações, como o senhor sacerdote me
percebeu cruzando em sua frente?”
Pode parecer inofensivo o detalhe desta
história extraída do Talmude, contada por Shalom
Rosenberg em uma de nossas aulas da pós-graduação, mas para mim, revela dois
aspectos riquíssimos da liderança pelo exemplo: Primeiro é a prática e a vivência que efetiva qualquer regra, teoria
ou lei. A prática e o exercício dos fundamentos e valores que acreditamos nos
creditam falar e defender tais práticas frente à nossas equipes. Discursos
emocionados e sermões moralistas, sem a base vivencial referendada pelo
exemplo, para os liderados destas novas gerações, que não temem mais a
demissão, não passará de conversa fiada e terá grande chance de ser motivo de
piadinha em corredores e no cafezinho. E o segundo ensinamento desta “parábola”:
Líder que dá exemplo nunca precisa achar alguém para colocar a culpa por suas
falhas. A prática de seus valores leva o líder não só a excelência da execução,
mas também o ensina na humildade, pois praticando, o líder entende que sempre
poderá fazer melhor, e se errar, reconhecer a falha o fará mais forte ainda.
Pense nisto, e faça uma ótima semana!
Por André Topanotti – Criciúma/SC –
22/07/2012.
Oi André,
ResponderExcluirParabéns pelo seu texto. Acrescento à sua receita dois ingredientes poderosos, do meu ponto de vista: Criatividade e flexibilidade. Além de todas as citadas por você, estas duas ferramentas permitem olhar para nossos novos conceitos e contextos e seguir da melhor maneira possivel com fluidez....