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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O FILÓSOFO DO MARTELO NA ACADEMIA

Olá...
 
O texto que segue abaixo é de LUIZ FELIPE PONDÉ, e trata de um tema muito interessante: a "Produção Acadêmica'. Como estou no convívio universitário como professor, imagino muito bem o que Pondé quer dizer quando escreve que "A universidade está morta e só não sente o cheiro do cadáver quem tem vocação para se alimentar de lixo." Quer entender o porquê? Vale a pena ler o artigo até o final.
 
Forte Abraço!
 
André Topanotti
 
 
 
 
 
"Eu lamento agora que naqueles dias eu ainda não tinha coragem (ou imodéstia?) para permitir a mim mesmo, de todas as formas, minha própria língua individual..." Estas palavras são de Friedrich Nietzsche (1844-1900), em tradução livre, do seu "Tentativa de Autocrítica", opúsculo escrito por ele como autocrítica, em 1886, ao seu livro "Nascimento da Tragédia" (primeira edição em 1872). A edição de 1886 ganhou como acréscimo ao título o subtítulo "Helenismo e Pessimismo". Nietzsche foi minha primeira paixão na faculdade de filosofia da USP. Na época, recém-saído da medicina e em formação para ser psicanalista, o que nunca aconteceu, eu colocava em diálogo Nietzsche e Freud.
 
O filósofo do martelo me é inesquecível e continuo pensando com o martelo até hoje. Vocação é destino. Este trecho específico carrega em si muito do que Nietzsche significa para um filósofo profissional como eu, em constante mal-estar com o que a vida universitária se transformou, em épocas de produtividade industrial do ensino superior.
A fala de Nietzsche vai de encontro ao modo como somos formados, não sem razão, nas boas faculdades de filosofia: somos formados para não sermos originais. Hoje, entendo que qualquer originalidade possível em filosofia é algo conquistado a duras penas, assim como a santidade ou os movimentos precisos de uma dança --metáfora cara ao filósofo do martelo.
 
Lembro-me de uma das primeiras aulas em que um dos grandes professores que tive nos disse algo assim: "Você não está aqui para achar nada, antes de achar algo estude, e descobrirá que muita gente já pensou o que você pensa, e muito melhor do que você, antes de você." Esta dureza acaba por fazer de nós pessoas menos opinativas e mais rigorosas, e isso é sem dúvida fundamental. Esta é a diferença entre pensar filosoficamente e pensar como senso comum. Vale lembrar que do ponto de vista da filosofia, as ciências humanas em geral são senso comum. Rigor nada tem a ver com o que a academia se tornou com o passar dos anos: um antro de política lobista e de burocracia da produtividade a serviço da morte do pensamento. A universidade está morta e só não sente o cheiro do cadáver quem tem vocação para se alimentar de lixo. Fosse Kafka vivo e escrevesse um conto sobre nós, acadêmicos, nos colocaria com cara de ratos.
 
Imaginem Nietzsche preenchendo o currículo Lattes, uma plataforma informática que supostamente democratiza o acesso à produtividade da comunidade acadêmica, ao mesmo tempo em que normatiza e quantifica esta produtividade. Na prática, o Lattes serve para nos tomar tempo (sempre dá pau) e acumular platitudes e repetições que visam a quantificação de um quase nada de valor. Agora imaginem Nietzsche às voltas com relatórios anuais da Capes, que junto com o Lattes, institucionaliza e quantifica esta mesma produtividade de um quase nada de valor.
 
Não existiria filosofia se nossos patriarcas, de Platão a Nietzsche (para citar dois grandes), tivessem que preencher o Lattes, fazer relatórios Capes ou serem "produtivos". Todos seriam o que, aos poucos, nos transformamos: burocratas mudos da própria irrelevância. Analfabetos do pensamento.
 
Uma das formas de sobreviver a este processo de produtividade de massa é obrigar nossos alunos a pesquisar aquilo que não querem, de uma forma que não querem, a fim de garantir verbas institucionais de pesquisa em grande escala. Esmagamos a criatividade e as intenções dos alunos fazendo deles uma infantaria estatística. A universidade mente: quer formar rebanhos dizendo que defende a liberdade de pensamento. Lutamos dia a dia para conseguirmos sobreviver aos montes de formulários e demandas do mundo dos ratos. A universidade aos poucos sucumbe aos efeitos colaterais de um mundo que, como diria Nietzsche, vomita "ideias modernas". Os processos de democratização do saber, como suspeitava nosso filósofo, são processos de produção de nulidades em grandes quantidades.
 
Mais do que nunca é urgente sermos corajosos e imodestos para acharmos nossa própria língua individual.
 
 
Por: Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 05/11/2012

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ELES GANHAM MAIS, ELAS PROSPERAM CEDO

  
Na alta direção das empresas está a maior diferença salarial entre homens e mulheres, aponta Consultoria MercerÉ no cargo mais alto da empresa que as diferenças salariais entre homens e mulheres ficam tremendamente perceptíveis. No Brasil, um CEO homem ganha, em média, R$ 64.776. Na mesma função, uma mulher tem salário de R$ 45.635 – uma diferença de 42%. As informações constam em um levantamento da consultoria Mercer. Em compensação, as mulheres chegam ao poder mais cedo. Em média, os presidentes de empresas do sexo feminino têm 50 anos de idade no Brasil – entre os homens, a média sobe para 60 anos.
 
Cargo
Salário Homem
Salário Mulher
Diferença
  Presidente
R$ 64.776
R$ 45.635
42%
  VP|Diretor
R$ 35.281
R$ 34.245
3%
  Gerente Senior
R$ 19.630
R$ 19.000
3%
  Gerente
R$ 13.106
R$ 12.638
4%
  Supervisor/Coordenador
R$ 9.436
R$ 8.882
6%
  Profissional
R$ 3.376
R$ 2.608
29%
  Operacional
R$ 1.909
R$ 1.170
63%

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

TEMPLO SAGRADO DO SABER

 
A Folha publicou em 06/06/2010, no caderno Cotidiano, uma reportagem que mostra o que acontece na quadra de uma escola estadual aqui de São Paulo localizada na Av. Indianópolis, na zona Sul. O local é usado como ponto de prostituição, principalmente por travestis.
 
Rosely Sayão escreveu o texto a seguir, publicado na mesma reportagem com o título "A Escola não é mais o templo sagrado do saber", refletindo a respeito do fato.
 
Abaixo segue o texto.
"A escola já foi considerada um local sagrado e, portanto, reverenciado, estimado, cuidado e respeitado por todos. Uma de suas denominações, inclusive, era "Templo do Saber". Atualmente, elas são o retrato colorido de nossa sociedade, um espelho do estilo de vida urbana que temos levado e do tipo de relação que estabelecemos com os mais novos.

Assim sendo, a escola não é um local inviolável. A criminalidade e a violência, o descaso com o patrimônio público -bem de todos-, o caos das relações interpessoais de um mundo individualista e simétrico, a competitividade levada ao seu grau mais extremado, a grosseria, o desrespeito às leis que nos protegem, o tráfico de drogas e o consumismo -também de sexo- são algumas das características de nossa sociedade.  Tais características se tornam, assim, elementos presentes no ambiente escolar, já que os muros que o cercam não são impermeáveis.

Não se iluda, caro leitor: as imagens do que ocorre no entorno da escola estadual Professor Alberto Levy, na zona sul de São Paulo, não mostram um fenômeno exatamente localizado. De modo mais ou menos estridente, esse é o espírito da sociedade que ajudamos a construir e que ronda nossas escolas e, por consequência, nossas crianças e jovens. Não há dúvida alguma de que a Secretaria Estadual da Educação, a polícia, a própria unidade escolar e seus trabalhadores, o bairro do entorno, as famílias dos alunos etc. deveriam ter sua quota de responsabilidade nessa questão.

No entanto, na mesma medida -vamos reconhecer- todos eles têm também sua parcela de impotência frente a fenômenos desse tipo. Fazer o quê? Ou, melhor dizendo: o que fizemos e fazemos para que o mundo adulto escancare dessa maneira, sem quaisquer pudores, suas mazelas também aos mais novos?

O pior de tudo é que nós já temos muitas respostas para dar a essa pergunta."
 

Por Rosely Sayão em seu blg http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/ - 07/06/2010

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

BRANCA DE NEVE AZEDA

 
Fazer a cabeça das crianças sempre foi um dos pratos prediletos do fascismo. Agora, nem a Branca de Neve escapa, coitada, do ódio dos fascistas. O conjunto de "estudos" que se dedica a fazer a cabeça das crianças é parte do que podemos chamar de "oppression studies". Você não sabe o que é? "Oppression studies" é uma expressão usada pelo jornalista americano Billy O'Reilly, da Fox News, para se referir às "ciências humanas engajadas no controle das mentes". Explico.
 
Reprovou um aluno? Opressão. É preguiçoso? Não, a sociedade te oprimiu e fez você ficar assim. Um ladrão te assaltou? Ele é o oprimido, você o opressor. Aliás, sobre isso, vale dizer que, com a violência em São Paulo, devemos reescrever a famosa frase do Che: "Hay que enfiar la faca en la cavera, pero sin perder la ternura jamás".
 
A frase dele, assinatura de camisetas revolucionárias, é: "Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás". Essa camiseta é a verdadeira arma contra gente como ele. Os americanos deveriam afogar o Irã em Coca-Colas, Big Macs e pílulas anticoncepcionais para as iranianas transarem adoidado com seus amantes. Convidou uma colega de trabalho para jantar? Opressão! Você é um opressor por excelência, deveria ter vergonha disso. Não é um amante espiritual do Obama? Opressor! Come picanha? Opressor! Não acha que a África é pobre por culpa sua? Opressor! Suspeita de que o sistema de cotas vai destruir a universidade pública criando um novo espaço de corrupção via reserva tribal de mercado e compra de diplomas de escolas públicas? Se você suspeita disso, é um opressor! Acha que uma pessoa deve ser julgada pelos seus méritos e não pelo que o tataravô do vizinho fez? Opressor! Anda de carro? Opressor! Ganhou dinheiro porque trabalha mais do que os outros? Opressor!
 
 
Os "oppression studies" sonham em fazer leis. Por exemplo, recentemente, um comitê de gênero (isto é, o povo que diz que sexo não existe e que tudo é uma "construção social", claro, opressora) desses países em que o "mundo é perfeito" teve uma nova ideia. Esses caras (ou seriam car@s?) querem proibir qualquer propaganda ou programação infantil que reproduza imagens de mulher sendo mulher e homem sendo homem. Não entendeu? É meio confuso mesmo. Vamos lá. Imagine uma propaganda na qual existe uma família. Segundo os especialistas em "oppression studies", para a marca não ser opressora, a família não pode ser heterossexual, porque se assim o for, o "espelho social" (a imagem que a mídia reproduz de algo) fará os não heterossexuais se sentirem oprimidos.
 
O problema aqui não é que as pessoas devem ser isso ou aquilo (melhor esclarecer, se não eu viro objeto de estudo dos "oppression studies"), mas sim por qual razão esses cem car@s (não são muito mais do que isso), que não têm o que fazer na vida a não ser se meter na vida, na família e na escola dos outros, têm o direito de dizer o que meus filhos ou os seus devem ver na TV? Até quando vamos aturar essa invasão da vida alheia em nome dos "oppression studies"?
 
Contos de fadas como Branca de Neve, Cinderela e Gata Borralheira são grandes objetos de atenção dos "oppression studies". Claro, as três são oprimidas, por isso gostam dos príncipes. Se fossem livres, a Branca de Neve pegaria a Cinderela. Humm... não seria uma má ideia... Veja o lixo que ficou a releitura da Branca de Neve no filme que tem a atriz da série "Crepúsculo", a bela Kristen Stewart, como a Branca de Neve. Coitada...
 
A coitada tem que terminar sozinha para sustentar sua posição de rainha "empoderada", apesar de amar o caçador (passo essencial para libertar nossa heroína da opressão de amar alguém da nobreza, o que seria ainda mais opressor). Os "oppression studies", na sua face feminista, revelam aqui o ridículo de sua intenção: fazer de toda mulher uma mulher sem homem porque ela mesma é o homem. Todo mundo sabe que isto é a prova mais banal da chamada inveja do falo da qual falam os freudianos. Fizeram da pobre Branca de Neve uma futura rainha velha e sem homem. Ficará azeda como todas que envelhecem assim.
 
 
Por Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 17/12/2012
 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

CORTAR O TEMPO


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

 
Carlos Drummond de Andrade

sábado, 15 de dezembro de 2012

RAZÃO E RELINCHOS

 

Existe um livro de Schopenhauer chamado "Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão" (ed. Topbooks). Um dos riscos de escrever uma coluna de jornal hoje, ou de opinar em qualquer instância pública, é o oposto: ser ignorado, quando não perseguido e açoitado num pelourinho de grunhidos, relinchos e cacarejos, a despeito da mais cuidadosa argumentação.

Convencer alguém a mudar de ideia não é algo comum em nosso tempo. Basta uma semana nas redes sociais para perceber: militantes pró e contra aborto, descriminação da maconha, eutanásia, cotas, cabras e sobrenomes Guarani-Kaiowá, a maioria está ali para confirmar certezas prévias ou se irritar com quem diz o contrário.

Uma radicalização que também nasce do meio: para que os palpites sejam ouvidos entre tantas vozes, a tendência é que o adjetivo prevaleça sobre o termo exato, a ênfase sobre a ponderação, as regras generalizantes sobre as nuances que tiram a graça e o colorido das frases e slogans.

Num cenário assim, não é difícil adotar um tom nostálgico ou apocalíptico. Talvez se possa lamentar o fim de uma suposta era de ouro dos debates elevados. Prefiro seguir achando que a humanidade não mudou tanto: apenas passamos a ouvir, graças a uma tecnologia muito mais benéfica que perniciosa, que criou possibilidades infinitas de compartilhamento de informação, as conversas antes restritas a botecos. É um choque descobrir que amigos são tão ignorantes, levianos ou idiotas, claro, mas até isso tem seu lado positivo.

De certa forma, estamos diante de um problema das democracias maduras, que já superaram -ou deviam ter superado- questões graves referentes à liberdade de discurso. Ou seja, não estou falando da lei, que proíbe censura, calúnia, injúria e difamação. Nem da ética, que repele a desonestidade intelectual sem que seu autor precise ir para a cadeia. Estou falando é de etiqueta, a "pequena ética" que em sua face menos elitista propõe tolerar os modos alheios -um caminho para, quem sabe, prestar atenção ao que eles representam.

Isso porque linguagem e tom -que são maneiras de segurar os talheres num debate- nem sempre arruínam as ideias por terem aparência tosca. Dá um pouco de cansaço, por exemplo, quando bikers defendem suas propostas para o trânsito com tamanha agressividade. Ou quando a pecha de "fascista", misturada à teoria política da salmonela, aparece na discussão sobre bisnagas de plástico proibidas em feiras e lanchonetes. Ainda assim, tudo a favor de ciclovias e meios alternativos de transporte, e abaixo aqueles saquinhos tristes de ketchup e mostarda.

Num ensaio de 2005, um nome insuspeito quando o tema é a consequência das palavras -Salman Rushdie, que passou anos escondido por causa de um livro considerado blasfemo pelo Irã- escreveu: "Na Universidade de Cambridge, me ensinaram (...) que não se deve ser grosseiro com a pessoa com quem se discute, mas se pode ser extremamente grosseiro em relação a tudo que ela pensa". Parece uma citação descabida num texto sobre etiqueta. Na verdade, é a lembrança de uma regra ideal em debates: deveria importar o que é dito, e não quem diz. É o que impede um interlocutor de ser desqualificado por gênero, crença, classe ou etnia.

Forçando um pouco a boa-fé, por que não abstrair também o partido em que o interlocutor vota, a empresa jornalística onde trabalha, os amigos que tem? Ou suas deficiências retóricas, sua ingenuidade, sua queda pelo vitimismo, pelo sentimentalismo, pelo insulto? A distinção total entre texto e autor é utópica, e o conteúdo de uma ideia pode ser indistinguível de sua forma, e às vezes tudo se resume mesmo a interesse ou tolice, mas o esforço para enxergar um pouco além disso é sempre virtuoso. Pensar com liberdade, o melhor atalho para identificar o lado certo numa disputa, passa por ouvir e aprender com vozes dissonantes. Mesmo que o timbre delas seja mais frequente em zoológicos, penitenciárias e hospícios.

Por: Michel Laub, Folha de SP
Fonte: http://aloysiot.blogspot.com.br/2012/12/razao-e-relinchos.html

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A EMPATIA QUE EMPREGA

 
Em uma entrevista de emprego, preferências culturais e atividades de lazer podem ter mais peso do que qualificações para a vaga. De acordo com uma pesquisa publicada no periódico científico American Sociological Review, os avaliadores mostram-se mais interessados em contratar uma pessoa que gostariam de ter como amigo (ou parceiro romântico), do que alguém que tenha as melhores qualificações para o cargo. Durante o levantamento de dados, a pesquisadora Lauren Rivera, professora de Sociologia na Northwestern University, nos Estados Unidos, usou informações colhidas em 120 entrevistas com empregadores de bancos de investimento, escritórios de direito e consultorias financeiras nos Estados Unidos. Todos os entrevistados eram responsáveis pela contratação de candidatos em início de carreira em suas empresas.
 
As empresas, de ponta em suas respectivas áreas, conferiam um peso considerável à qualificação dos candidatos, incluindo aspectos como notas na universidade e conhecimento prévio das atividades relacionadas à vaga. “Obviamente, os empregadores estão em busca de pessoas que tenham um padrão mínimo de habilidades para realizar o trabalho”, diz Lauren Rivera. “Mas, além disso, os empregadores também querem pessoas com quem eles possam estabelecer laços, em cuja companhia eles se sintam bem. Portanto, eles não contratam necessariamente os candidatos mais bem qualificados.”
 
As entrevistas revelaram, de acordo com Rivera, que mais da metade dos avaliadores no estudo aplicou um conceito chamado de "adequação cultural" como o mais importante critério em uma entrevista de emprego. Um dos entrevistados, de um escritório de direito, explicou o conceito da seguinte maneira: "Nos nossos novos colaboradores, estamos antes de tudo procurando por compatibilidade cultural. Alguém que... se encaixe”. De acordo com Rivera, essa noção de adequação cultural é baseada em preferências de lazer e referências culturais. “Foi um conceito-chave na avaliação das firmas", escreve a autora no estudo. “Não significa que os profissionais estão contratando pessoas sem qualificação. Mas parecem eleger de uma maneira que mais se assemelha à escolha de amigos ou parceiros românticos.”
 
Ao site da rede americana NBC, a professora diz ter se surpreendido com o modo aberto com o qual os entrevistadores assumiram dar peso a características afetivas. “Eu esperava que as pessoas fossem mais reservadas em abordar isso. Mas me parece que faz parte do jogo: 'eu preciso me dar bem com você.'”
 
Rivera aponta algumas das coisas em comum que podem fazer a diferença na identificação de empatia: “Os dois têm o mesmo nível de educação formal? Os dois gostam das mesmas atividades de lazer? Gostam de falar um com o outro?”
 
Ela ressalta que seu estudo se focou em empresas da área de negócios e de advocacia nos Estados Unidos. Ainda assim, os resultados poderiam ser parecidos em outros ramos. “Acredito que o processo é generalizado, mas o peso das afinidades pode variar de ocupação para ocupação. Se você está contratando um neurocirurgião, acredito que há mais ênfase nas qualificações e no desempenho do que na empatia.”
 
 

domingo, 2 de dezembro de 2012

AMOR OU DEPENDÊNCIA?

 
Foi convencionalmente acordado que as relações acontecem por amor, que um homem e uma mulher se encontram em certa etapa da vida e depois de se apaixonarem acabam por construir o amor que será a base do seu relacionamento. Isso é o que conta uma lenda, praticamente um mito, pois cada pessoa tem uma definição de amor que dificilmente é correspondida na relação. A intenção não é argumentar contra ou provar a inexistência do amor, mas mostrar que o amor não é assim tão comum quanto se pensa. Em alguns casos, há algo um tanto diferente de amor: a dependência. Algumas vezes amor e dependência podem ser exatamente a mesma coisa, ou talvez não.

Num consultório filosófico diversas vezes se recebe pessoas que sofrem de profundas desilusões com os outros e consigo mesmas. Uma desilusão, assim como qualquer conteúdo emotivo, diz respeito ao que é chamado de Emoção em Filosofia Clinica. Um tópico específico para as questões relacionadas às vivências afetivas da pessoa. Pois bem, há pessoas que sofrem desilusões, mas o que algumas delas estranham é a frequência com que isso acontece. Para algumas pessoas a desilusão é quase que uma rotina. 
 
Diante desse tipo de queixa, o filósofo vai investigar na história de vida da pessoa o que acontece a ela que faz com que desilusões sejam assim tão rotineiras. Um dos casos que acontece é uma confusão entre amor e dependência, ou seja, a pessoa trata por amor a dependência que o outro tem dela ou que ela tem do outro. Outro exemplo que acontece é o de mulheres ou homens que se relacionam com o outro quando este outro está sofrendo. Uma menina acaba de sair de um relacionamento, está carente, depende de um ombro amigo para se recuperar. Ela pode ver nesse ombro amigo o amor, mas logo que se recupera do antigo e real amor, e provavelmente o ombro ficará para trás. Não há nada de mais, o ombro que ela procurou era só para se recuperar mesmo, ela nunca disse que ia manter um relacionamento. Provavelmente a pessoa que cedeu o ombro é que entendeu errado. 
 
Há também o caso de pessoas que são carinho-dependentes, ou seja, elas se enamoram de pessoas que dispensam toda atenção para elas. No entanto, quando essa atenção diminui ou elas acham que já não é o suficiente, muitas vezes vão procurar em outros lugares. Também é o caso de relacionamentos que começam porque um quer salvar o outro. É o caso daquele menino que vê a dura situação de vida da menina, se compadece de seu sofrimento, inicia um relacionamento com ela. Ela se apaixona por ele, mas ao longo do relacionamento ele muda a situação de vida dela e logo ela se torna independente. Aos poucos o “amor” dele acaba e ele vai em direção a outro relacionamento, provavelmente de mesma natureza.
 
 
A dependência pode estar em muitos relacionamentos, mas quando esta é separada do amor, quando a necessidade passa, o relacionamento pode terminar. Por meio da mídia televisiva podemos observar a quantidade de meninas que se relacionam com jogadores, homens famosos, porque elas dependem deles para se promover. Quando já caminham por si mesmas, o relacionamento fica para trás. O problema é que em muitos casos a necessidade aumenta e a pessoa passa a depender cada vez mais do outro para chegar em algum lugar. Há muitos relacionamentos que funcionam muito bem com base na dependência, em muitos deles há também o amor. Mas, para pessoas que precisam de mais do que dependência, verifiquem se o outro com quem você está não é apenas fonte de algo que você precisa. O contrário também pode acontecer.

Por Rosemiro A. Sefstrom