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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

sábado, 8 de novembro de 2014

O BURACO NEGRO DA DEMOCRACIA

Talvez não haja retrato maior da ineficácia das leis ou da impunidade brasileiras do que o panorama do último processo eleitoral em que mais de duas centenas de candidatos, tanto para cargos executivos como para cargos legislativos, respondem a processos por corrupção e crimes conexos, muitos já condenados por juiz singular. Já não é só Maluf quem, com a cara de pau que ostentou durante toda a sua vida, encara desdenhosamente processos e instâncias judiciais para, a cada eleição, postar-se como coringa em São Paulo, puxar milhares de votos para as urnas e, de aliança em aliança, de composição em composição, manter-se no topo do que Lula chamou de "zelite", palavra que repito aqui para distinguir esse povo da verdadeira elite brasileira.

O site “Congresso em foco” trabalhou sobre os dados dos registros de candidaturas e encontrou 253 candidaturas indeferidas pelos Tribunais Regionais Eleitorais (no Pará são 20). A maioria desses candidatos continuava em campanha, exatamente como Maluf, enquanto espera pelo julgamento no Tribunal Superior Eleitoral. É verdade que eles são apenas 1% dos cerca de 25 mil candidatos registrados. Mas é verdade também que os partidos os registraram porque são puxadores de votos: seus votos engrossarão as legendas e não apenas no cargo para que concorrem, mas para o restante da chapa. Se a candidatura for indeferida e o registro cassado, os votos individuais para esse candidato serão anulados – mas os restantes valem. Beneficia-se o partido e os demais candidatos que compõem a chapa.

O que revolta é saber-se que, exceto o Partido Comunista Brasileiro e o Partido da Causa Operária, que não registraram fichas sujas, todos os demais partidos contam com esses duvidosos puxadores de votos. E que eles puxam votos porque a Justiça Eleitoral é lenta demais, indiferente às consequências de sua morosidade, que incluem afastamento de prefeitos no meio do mandato porque somente dois anos depois é que a impugnação ao registro teve julgamento definitivo. O registro de candidato duvidoso tornou-se um recurso de campanha eleitoral válido – e isto contamina a democracia. Pode-se dizer que predomina, no caso, o princípio constitucional de que um acusado é inocente até prova em contrário. O problema é que a aplicação desse dispositivo é seletiva, não vale para todas as pessoas: os presídios estão cheios de presos temporários, que cumprem pena antes do julgamento. Mas para a "zelite", ele vale. Para o partido que usufrui da fraude, ele vale.

O outro aspecto dessa perversão eleitoral é o fato de serem essas pessoas puxadoras de votos. Milhares de pessoas votam em Maluf a cada eleição, centenas de milhares votarão nos fichas sujas. Eu não acredito na inocência do eleitor contemporâneo, mesmo que ele vote numa seção lá onde Judas perdeu as botas. Ele sabe em quem está votando e vota. Essa massa demonstra claramente que não se importa com a corrupção ou, então, que não confia no Poder Judiciário. Em qualquer das alternativas, aponta para um buraco negro - cuja força gravitacional, como se sabe, absorve tudo o que está em torno - no espaço democrático.

Parece pequeno, esse buraco, considerando-se a relação entre o número de candidatos e o total de fichas sujas. Mas o verdadeiro tamanho dele só se poderá saber no volume de votos que mereceram. E a questão que se coloca é se queremos ou teremos que continuar tolerando essa distorção perversa.



Por ANA DINIZ, jornalista, em seu blog na rede, 08/10/2014.
Fonte: http://blogdoespacoaberto.blogspot.com.br/2014/10/buraco-negro.html

terça-feira, 7 de outubro de 2014

EXISTE HORA PARA DEMITIR?


Comentário de Max Gehringer para a rádio CBN sobre como demitir alguém e se existe uma melhor hora e dia para isso. Escreve um ouvinte: "Sou gestor de uma empresa e eventualmente temos que dispensar funcionários. Essa é uma medida que não agrada a ninguém, nem a quem dispensa e muito menos a quem é dispensado. Mas acaba sendo uma necessidade, que eu tento conduzir do modo mais profissional possível. Sempre ouvi dizer que a hora mais apropriada para comunicar uma dispensa é a do encerramento do expediente. Já a nossa gerente de recursos humanos defende que a comunicação seja feita no primeiro momento do dia. Também não concordamos, eu e ela, quanto ao dia da semana em que a notícia iria causar menos transtornos e traumas. Pergunto se existe alguma orientação por parte de psicólogos e consultores quanto a isso?"

Bom, esse é um daqueles casos em que existem argumentos para defender qualquer hipótese. Uma corrente prega que a dispensa deve ocorrer de manhã entre a terça e a quinta-feira. Outra, que ela deve ocorrer no último momento da sexta-feira.

Mais do que o momento da comunicação, porém, o que fará a diferença é o grau de preparação. Os motivos precisam ser claramente explicados. E quem dispensa precisa saber como se comportar diante da reação do dispensado, que pode variar desde o choro até a uma tentativa de agressão.

Também seria conveniente que a demissão não apanhasse o demitido de surpresa. E que ele tivesse sido antecipadamente prevenido, avisado e orientado para que pudesse evitar a demissão.

De resto, pessoas reagem de maneiras diferentes a notícias ruins. E não me parece que a fixação de um dia e um horário irá fazê-las começar a reagir de modo igual.


Max Gehringer, para CBN, 07/10/2014.
Fonte: http://estou-sem.blogspot.com.br/2014/10/qual-melhor-data-e-hora-para-demitir.html

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

TRAGÉDIA COM CAMPOS MUDA CENARIOS

O pânico no mercado financeiro logo após a informação de que o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, morreu na aeronave que caiu em Santos na manhã desta quarta-feira, 13, reflete mais umareação involuntária de que em momentos de grande incerteza e nervosismo o melhor é vender. E não se trata propriamente de uma leitura racional do cenário eleitoral sem Campos. O Ibovespa chegou a cair mais de 1,5% e o dólar entrou em queda, batendo em R$ 2,2630. Mas a saída trágica e prematura do ex-governador de Pernambuco da corrida eleitoral, ao contrário do que os preços das ações e ativos em geral podem indicar, aumenta a probabilidade de um segundo turno, embora diminua a chance de acontecer a histórica polarização entre PT e PSDB.
 
Com o grande poder nas urnas de Marina Silva, candidata a vice-presidente na chapa do PSB, um eventual segundo turno poderá não colocar em lados opostos Dilma Rousseff e Aécio Neves, mas a candidata petista versus Marina Silva. Já era a avaliação de investidores e analistas ouvidos por esta coluna que Marina era uma candidata mais forte do que Eduardo Campos. Primeiro, porque a ex-ministra do Meio Ambiente já é um nome muito mais conhecido do que o ex-governador de Pernambuco. Nas eleições de 2010, Marina teve o surpreendente desempenho de 20 milhões de votos ainda no primeiro turno.
Campos é mais conhecido no Nordeste e havia se mudado para São Paulo como parte do esforço de conquistar votos no Sul e Sudeste.
 
Campos havia perdido apoio do eleitorado nos últimos dois meses, tendo estancado no patamar abaixo de 10% da intenção de voto nas últimas pesquisas de opinião do Ibope, Datafolha e Sensus. Isso porque o candidato do PSB tinha apostado num discurso de oposição moderada ao governo Dilma, numa tentativa de se posicionar como um candidato da "terceira via", diferenciando-se do outro candidato de oposição mais bem colocado nas pesquisas, Aécio Neves.
 
"Campos não passa dos 10% das intenções de votos há algum tempo", disse em entrevista recente a este colunista o especialista em marketing político e pesquisas eleitorais Sidney Kuntz. "Se ele (Campos) não decolar desse patamar que está atualmente num prazo de até 15 dias depois do início da propaganda eleitoral gratuita na TV, não acredito que ele possa chegar (ao segundo turno) e daí haverá o voto útil." No espectro ideológico, Campos poderia ser classificado entre as posições de Dilma e de Aécio. Já Marina estaria muito mais próxima ideologicamente de Dilma do que de Aécio, especialmente na área social.
 
Se a ex-ministra do Meio Ambiente for, de fato, confirmada como herdeira de Eduardo Campos na chapa do PSB à eleição presidencial, seu poder de voto muito maior do que o ex-governador de Pernambuco poderá eliminar a probabilidade de que o pleito seria definido no primeiro turno, com vitória de Dilma. "Seguramente, Marina teria mais votos do que o Campos", afirma um economista com estreitos laços em Brasília. "Não dá para saber se ela (Marina) terá mais votos do que Aécio, mas agora a probabilidade de um segundo turno entre Dilma e Aécio já não é tão forte na cabeça dos investidores como era com Campos na cabeça de chapa."
 
Do lado de empresários e investidores, Marina desagrada mais do que Campos por ter suas posições percebidas como menos "market friendly", ou favoráveis ao mercado, especialmente quando se trata do tema "desenvolvimento econômico e respeito ao meio ambiente".
 
O fato é que se Marina for confirmada como a nova candidata à Presidência da República pelo PSB mudará os cálculos de Dilma e Aécio para a campanha presidencial, incluindo o teor do programa gratuito na TV. E também os cálculos dos investidores. Não dá para antecipar se Aécio perderá mais do que Dilma com a saída de Eduardo Campos e sua eventual substituição por Marina. As próximas pesquisas de opinião que refletirem a informação da morte de Campos poderão dar uma noção disso. Mas é fato que a ex-ministra do Meio Ambiente já chegaria com 20 milhões de votos no seu currículo.
 
Fonte: Agência Estadão - Fábio Alves - 13.08.2014

domingo, 13 de julho de 2014

CANDIDATOS DECEPCIONANTES

Comentário de Max Gehringer, sobre um ouvinte que tem que entrevistar jovens candidatos e está decepcionado com aqueles que encontra: "Sou encarregado de um setor em uma empresa de bom tamanho. Tenho oito subordinados diretos, todos eles estáveis, gente séria, com vários anos de casa. Devido ao aumento de trabalho, fui autorizado a contratar um auxiliar jovem, estudando ou recém-formado, que queira seguir carreira na empresa. Talvez por ser a primeira vez que contrato alguém, estou muito decepcionado com os candidatos que entrevistei até agora. Eles respondem às minhas perguntas com monossílabos, já chegam avisando que não querem fazer hora extra e não demonstram interesse em me fazer perguntas sobre o trabalho que deverão executar. Será que estou sendo exigente demais ou será que a mão de obra realmente se deteriorou nessa faixa etária?"

Bom, você provavelmente gostaria de ouvir o tipo de respostas que você próprio daria se estivesse sendo entrevistado. Pessoalmente, eu não creio que ser monossilábico seja um defeito. Alertar previamente o entrevistador sobre horas extras também é algo que, em princípio, não me parece negativo. Pode ser que haja um motivo plausível para isso.

E, a não ser que o trabalho a ser executado seja altamente complicado, o que não seria normal no caso de um recém-formado, a minha sugestão é que você direcione a sua entrevista para os aspectos comportamentais do candidato. Ele chegou no horário? Foi respeitoso? Entendeu o que será esperado dele no trabalho e pelo que ele será cobrado?

Eu concordo que a geração atual de jovens possa ser diferente da anterior. Mas seria injusto deduzir que todos os jovens dessa geração são desinteressados ou deteriorados. Seria o fim do mundo, se assim fosse. E posso lhe assegurar que não é.


Por Max Gehringer, para CBN, 11/07/2014.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

PROMESSA NÃO CUMPRIDA

Comentário de Max Gehringer sobre um ouvinte que recebeu uma promessa de alterar a sua situação na empresa depois de uma reestruturação, mas nada ocorreu. Ele escreve: "Quando fui contratado por esta empresa, a função que constou em minha carteira profissional era inferior à que eu realmente iria executar. Foi-me explicado que a empresa ia fazer uma revisão na nomenclatura dos cargos, que seria implementada no máximo em seis meses, e que quando isso acontecesse, a minha função e o meu salário seriam revistos e adequados. Bom, passou-se um ano, a tal reestruturação de fato foi colocada em prática, mas minha situação não foi alterada e ninguém falou comigo. Meu gestor sabe da promessa que me foi feita, mas não foi ele quem a fez, foi uma pessoa da área de recursos humanos que já não está mais na empresa. Não sei quem me dirigir para cobrar o que me foi prometido e nem qual é a maneira mais indicada de fazer isso."

Bom, eu lhe sugiro fazer por escrito, em carta endereçada ao seu gestor. Sendo seu superior imediato,ele é quem deve levar o seu caso adiante. Nessa carta, tente ser o mais factual possível.

Comece assim: "Peço, por gentileza, a sua atenção para o meu caso, que é o seguinte". Aí, mencione o que lhe foi prometido e em seguida liste tudo o que você lembrar: nome das pessoas e respectivos cargos, datas e horários.

Não se preocupe em demonstrar que você fez por merecer o que foi prometido, porque a promessa não estava condicionada a seu desempenho.

Em casos como o seu, é sempre melhor escrever do que falar. Porque, além de deixar tudo registrado, você consegue ser sucinto, conciso e profissional. Só espero que o seu gestor também seja.


Por Max Gehringer, para CBN , do dia 25/06/2014.
Fonte: http://estou-sem.blogspot.com.br/2014/06/prometeram-alterar-minha-situacao-apos.html

quinta-feira, 22 de maio de 2014

SUPERVISOR, COORDENADOR OU ENCARREGADO?

Transcrição do comentário de Max Gehringer sobre uma ouvinte que pergunta: qual é a diferença entre supervisor, coordenador e encarregado? E das três funções, qual é a mais valorizada no mercado?

A resposta pode ser surpreendente para muita gente. A diferença é nenhuma. As três são funções de chefia com mais de dois subordinados diretos. Como não existe qualquer determinação legal que estabeleça uma ordem de hierarquia, a decisão fica a critério de cada empresa.

Em uma, a função de supervisor pode estar acima das outras duas. E em outra, o supervisor pode ser a de menor grau entre as três. É possível também adicionar uma quarta função, a de gestor, que pode estar situada em qualquer estágio do organograma, do mais baixo ao mais alto.

Além disso, chefe tanto pode ser um apelido dado ao superior hierárquico, qualquer que seja o título da função dele, quanto o nome de uma função.

Meio confuso, né? É por isso que nos currículos é importante informar em que degrau o ocupante está. Por exemplo: coordenador de logística respondendo ao diretor industrial. Isso evita que a pessoa que for avaliar o currículo tenha que ficar adivinhando qual seria a estrutura da empresa.

Se a gente separar o organograma em duas partes, coordenadores, supervisores e encarregados ficam na parte de baixo. Na parte de cima, estão presidente, diretores, gerentes e chefes. Mas nem isso é uma regra definitiva. Há empresas em que o presidente é chamado de gerente geral e há gerentes de menor hierarquia abaixo dos diretores.

Para encerrar, por que eu disse lá no começo que são funções de chefia com mais de dois subordinados? Porque, uma regra elementar diz que quando um superior tem um único subordinado, um dos dois está sobrando. Num eventual programa de redução de custos ou de enxugamento de quadro, um dos dois sempre acaba sendo cortado. E normalmente é aquele que tem o salário mais alto.


Max Gehringer, para CBN em 23/09/2011.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

XUXA HOSTILIZADA NA CCJ

A sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara foi marcada na manhã desta quarta-feira, 21, por bate-boca entre parlamentares, sendo que o deputado Pastor Eurico (PSB-PE) chegou a hostilizar e constranger a apresentadora Xuxa Meneghel, que realizava agenda na Casa. A reunião foi tumultuada do início ao fim porque os deputados discutiam a redação final da chamada "Lei da Palmada", que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e proíbe a aplicação de castigos físicos a crianças e adolescentes. A bancada evangélica é ferrenha opositora da matéria - que aguarda votação no colegiado há dois anos - e tentava evitar que ela fosse concluída.

Quando Xuxa chegou para acompanhar a sessão, ao lado da ministra dos Diretos Humanos, Ideli Salvatti, o clima tenso na reunião já havia provocado interrupção dos trabalhos. Quando evangélicos cobravam o presidente em exercício, Luiz Couto (PT-PE), a encerrar a sessão, o deputado Pastor Eurico hostilizou a apresentadora e disse que sua presença era "um desrespeito às famílias do Brasil". "A conhecida Rainha dos Baixinhos, que no ano de 82 provocou a maior violência contra as crianças", disse, referindo-se ao filme "Amor Estranho Amor", daquele ano, em que Xuxa aparece numa cena de sexo com um adolescente de 12 anos.

A declaração do Pastor Eurico gerou repúdio da maior parte dos deputados presentes, inclusive de parlamentares que questionavam o projeto, que classificaram a fala de "violência inaceitável". A apresentadora não se manifestou e, depois de encerrada a sessão, deixou a comissão sem comentar o assunto.

A fala, no entanto, ajudou a conturbar ainda mais a sessão, que acabou sem que o projeto fosse votado. Avisado da situação, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), foi ao colegiado e tentou intermediar um acordo: a CCJ deverá se reunir novamente nesta tarde para tentar aprovar o projeto. Como tramita em caráter conclusivo e já foi aprovada por uma Comissão Especial, a chamada "Lei da Palmada" seguirá diretamente para o Senado quando aprovada pela CCJ.

Lei da Palmada

O projeto em discussão veda o "uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto". O texto também diz que o Conselho Tutelar, "sem prejuízo de outras providências legais", deverá aplicar as seguintes medidas aos pais ou responsáveis que aplicarem castigos físicos a menores: "encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família, encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico, encaminhamento a cursos ou programas de orientação, advertência ou obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado". Também diz que profissionais da saúde e da assistência social ou outra função pública devem informar casos de suspeita de castigo físico à autoridade competente.

A medida sofre forte resistência sobretudo da bancada evangélica, que tentou obstruir a votação nesta manhã e que queria trocar expressões utilizadas na redação. Durante boa parte do ano passado, parlamentares que se opõem à matéria conseguiram retirar o projeto da pauta do colegiado por sucessivas vezes. "As denúncias que se trazem para convencer são de crime com tipificação no Código Penal. O Estado não consegue aplicar a política de combate ao crime e querem impor o rótulo (de violência) na família", disse o deputado Marcos Rogério (PDT-RO).

Por outro lado, o relator da proposta, deputado Alessandro Molon (PT-RJ), afirmou que o objetivo é proteger as crianças e adolescentes contra graves tipos de violência. "O que quer se combater é o espancamento e a humilhação de crianças e adolescentes", declarou. "Não posso acreditar que algum parlamentar acredite que a tortura é educativa."
 

terça-feira, 20 de maio de 2014

BALANÇA EXISTENCIAL

Hoje pela manhã, conversava com uma moça que dizia ser apaixonada pelo namorado, que ele era tudo o que desejaria num homem; que era um rapaz gentil, educado, atencioso, um namorado que faz uma mulher se sentir realmente amada. Mas, depois de muito elogiar seu amor, ela afirmou não poder mais ficar com ele, porque ele é um mau caráter. No momento não entendi, esperei um pouco mais para compreender o que a moça estava tentando me dizer. Fiquei ouvindo um pouco mais e nada da explicação, ela abriu a vida do rapaz do avesso falando as piores coisas do mundo. Disse que ele era um mentiroso, caloteiro, mulherengo, um homem que mulher nenhuma no mundo iria querer ficar perto. Ainda sem entender nada é feita a pergunta que alguns já devem ter pensado: “Este é o mesmo homem do começo da conversa?” A resposta foi afirmativa, ela falara o tempo todo da mesma pessoa, mas de duas formas totalmente diferentes.
 
Para entender um pouco o que acontece com esta moça e muitas outras pessoas, pode-se pensar da seguinte maneira: em Filosofia Clínica aprende-se que os conteúdos internos estão conectados uns aos outros das mais variadas formas, mas nem sempre a relação é amistosa. Esses conteúdos internos se encontram todos misturados, não há como separar uma coisa da outra, apenas didaticamente pode ser feito. No caso em questão, o conteúdo das emoções não conversa com o conteúdo da razão. Para entender como funciona na prática é necessário estudar o que é cada conteúdo e se estes estão  estruturados na pessoa.
 
O conteúdo das emoções é qualquer estado afetivo como: amor, ódio, prazer, dor alegria, etc. Este material estará presente em cada pessoa de acordo com as suas vivências. Para alguns, a riqueza de experiências afetivas faz delas pessoas muito maduras, ou seja, com bagagem existencial no que diz respeito às emoções. Pessoas que tem este tópico forte são conhecidas por serem emotivas, verem a vida a partir do amor, ódio, alegria e assim por diante. Outras pessoas sofrem o fato de não ter passado por vivências afetivas enriquecedoras. No caso desta moça, ela era uma menina nova e com pouca vivência afetiva, entrando em contato com um homem mais velho, muito vivido emocionalmente. O caso aqui não é a idade sensorial, do corpo, mas a idade emocional da menina e do rapaz com quem namora.
 
A razão é uma velha conhecida, tida por alguns como a salvaguarda da alma humana, ou seja, sem a qual o homem não é homem. Neste tópico estão localizados os conteúdos que são considerados válidos segundo regras lógicas estabelecidas. Não há, necessariamente, um certo e um errado na vida, mas na lógica há um termo válido e outro que não é válido. Algumas pessoas vivem a vida daqui, com uma análise fria do ponto de vista lógico e só então seguem seus caminhos. Como um empresário que gosta de seu funcionário, mas por meio do aparato lógico percebe que não há mais como manter a empresa com o custo atual e demite. A personagem do texto é vivida no que diz respeito à razão, ela consegue ver tranquilamente o que é ou não válido. Enquanto seu namorado é um homem pouco vivido na razão, não tem destreza no que diz respeito ao raciocínio.
 
Considerando que, no caso descrito no início do texto, a moça é muito mais crescida racionalmente do que emocionalmente, será que ela deixa o namorado? Neste caso ela continua com ele e continuará até que seu amor por ele acabe ou encontre um conteúdo com mais força do que este para afastá-lo deste homem. É importante entender que isso é assim e será possível compreender porque muitas pessoas vividas se deixam “enganar” por pessoas tão mais jovens. Não é a idade e a experiência que determinam as direções que a pessoa tomará na vida, mas a força que o conteúdo interno tem se levado em conta com toda a Estrutura de Pensamento.
 
 
Por: Rosemiro A. Sefstrom

terça-feira, 29 de abril de 2014

MENSALÃO AINDA SERÁ RECONTADO


Em uma de suas poucas manifestações públicas após o fim do julgamento do mensalão, o ex-presidente Lula disse que as decisões do Supremo Tribunal Federal no processo foram, em sua maior parte, políticas e não jurídicas. A afirmação foi feita numa entrevista realizada na última sexta (25) à TV portuguesa RTP e publicada neste domingo (27) no site da emissora.

"O tempo vai se encarregar de provar que o mensalão, você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica. O que eu acho é que não houve mensalão. Eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai ser recontada. É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada para saber o que aconteceu na verdade."

Lula também disse que o "processo foi um massacre que visava destruir o PT, e não conseguiram". Na ação penal, Lula não foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, que não encontrou indícios para acusá-lo de qualquer crime. 

Nesta mesma entrevista, Lula fala sobre Copa do Mundo no Brasil, crise econômica e a reeleição de Dilma.

Mais detalhes desta entrevista no link do site G1:
 






 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

ERREI AO ESCOLHER MEU CURSO?

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN sobre um ouvinte que estudou relações internacionais e não consegue um emprego na área: "Faz dois anos que me formei em Relações Internacionais. Nunca cheguei nem perto de conseguir um emprego nessa área. E o que é pior, nenhum de meus colegas de faculdade conseguiu. Sei disso porque mantemos um grupo em rede social que se comunica. Tenho aconselhado a quem pede a minha opinião, a não fazer Relações Internacionais. Estou certo?"

Em minha opinião, não. Você e seus colegas provavelmente conseguiram algum emprego que não conseguiriam se não tivessem o diploma de curso superior. Portanto, o curso serviu pelo menos para facilitar a entrada de vocês no mercado de trabalho.

Agora, se você olhar o organograma de empresas que mantém contato com empresas de outros países, verá que não existe um quadrinho de, por exemplo, especialista em relações internacionais. Esse conhecimento está embutido em todos os quadrinhos, como um adendo a qualquer função executada, como técnico, comprador, vendedor, economista ou contabilista. O curso, portanto, agrega valor quando se soma a uma especialização. Mas sozinho, não tem sustentação suficiente.

Isso significa que Relações Internacionais deveria ser visto mais como uma pós-graduação do que como uma graduação. Significa também que você e seus colegas deveriam considerar a possibilidade de fazer outro curso, superior ou técnico. Aí sim, o conhecimento de Relações Internacionais se tornaria um diferencial.

Em resumo, você não perdeu tempo fazendo o curso. Apenas o fez antes da hora.

 

Max Gehringer, para CBN em 14/04/2014.

terça-feira, 8 de abril de 2014

REELEIÇÃO A UMA PASADENA DE DISTÂNCIA

Por: Site MSN - GENEBRA - O governo dos Estados Unidos buscou garantias da parte de Dilma Rousseff em 2006, quando ela ainda era presidente do Conselho da Petrobrás, antes de dar o sinal verde para que a empresa brasileira comprasse uma refinaria em Pasadena. Telegramas confidenciais da diplomacia americana obtidas pelo grupo Wikileaks revelam reuniões e missões enviadas ao Brasil pela Casa Branca diante da possibilidade de que a estatal brasileira comprasse a refinaria americana. Outro consultado foi o ex-diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró, que está no epicentro da crise. Um dos telegramas de 12 de junho de 2006 é explícito em relação ao assunto já em seu título: “A Aquisição da Petrobrás da Pasadena Refining Systems”. O documento foi enviado pela embaixada americana em Brasília ao Departamento de Estado norte-americano e relata os encontros de ministros e delegações de Washington com autoridades nacionais, entre elas Dilma Rousseff.
 
Uma das preocupações se referia à atuação da Petrobrás concorrendo contra interesses americanos na América Latina e tirando proveito justamente do fato de que governos da região começavam em 2006 a nacionalizar investimentos americanos. O temor era de que esses governos, uma vez recuperado os ativos de empresas americanas, repassariam os investimentos para a Petrobrás. Em junho de 2006, uma missão encabeçada pelo secretário de Comércio do governo de George W. Bush viajou ao Brasil para debater essa situação. O governo americano queria garantias por parte da Petrobrás de que a empresa não iria ocupar o lugar deixado pelas empresas dos EUA depois que presidente Rafael Correa do Equador nacionalizou operações de petroleiras americanas no país.
 
O caso era considerado como chave para entender a posição da Petrobrás na região e a concorrência com os americanos. “A missão recebeu garantias de forma repetidas, de maneira mais proeminente durante a visita do Secretário de Comércio Gutierrez no dia 7 de junho com a chefe da Casa Civil do presidente Lula, Dilma Rousseff – que também atua como presidente do Conselho da Petrobrás – de que a Petrobrás não tem interesse em assumir os ativos da Occidental Petroleum’s Ecuador”, indica o telegrama. “Diante dessas garantias, feitas em nível ministerial, o posto acredita que o caso Occidental não deve ser um obstáculo para a proposta da Petrobrás para adquirir 50% da Pasadena Refining Systems (PRS)”, indicou o governo americano. “O posto não acredita que a aquisição da Petrobrás da PRS signifique um risco à segurança nacional”, indicou a embaixada americana, depois de citar o encontro com Dilma.
 
Cerveró: O governo americano também aponta para reuniões com o ex-diretor internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró. Ele foi o responsável pelo parecer técnico que baseou a decisão do Conselho de Administração da Petrobrás de comprar a refinaria, alvo de investigações. O encontro ocorreu no dia 26 de maio de 2006 no Rio de Janeiro. Washington queria saber de Cerveró se a Petrobrás estava interessada nos ativos nacionalizados pelo Equador. “Seria um má política para a Petrobrás minar sua relação com a Occidental assumindo seus ativos no Equador”, indicou Cerveró. A aquisição da refinaria nos EUA continuaria na agenda entre os dois países. Em 11 de setembro de 2006, o embaixador americano no Brasil se encontraria com o então presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli. “Gabrielli disse ao embaixador que, como parte de um esforço para aumentar suas exportações e ativos globais, a empresa planejava forte investimentos nos EUA”, disse o telegrama daquele dia. Segundo Gabrielli, a refinaria em Pasadena faria parte desse projeto e outra na Califórnia estaria sendo estudada pelo brasileiro. A meta era a de incrementar a produção mundial de barris por parte da empresa de 2,4 milhões por dia para 4,5 milhões em 2011.
 
Num telegrama de 30 de junho de 2008, diplomatas americanos relatam o encontro entre o então embaixador dos EUA no Brasli, Sobel, e o diretor internacional da Petrobrás, Jorge Luiz Zelada. O brasileiro apontava na ocasião como a empresa estava investindo US$ 5 bilhões nos EUA. “Zelada afirmou que a Petrobrás está tentando adquirir os outros 50% da refinaria Pasadena em Houston para a aliviar a pressão no que se refere à refinaria no Brasil”, indicou o documento. Entenda mais sobre a compra da refinaria (Fonte MSN):
 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

EU REAL

Durante uma conversa com um líder de uma organização, entramos no assunto sobre as representações, sendo que o líder em questão entendeu que cada pessoa é vista de maneira diferente pelas outras que estão ao seu redor. O estalo veio no momento em que ele se deu conta de que inclusive ele mesmo tem uma visão parcial de si. Esta conclusão o levou fazer uma pergunta realmente filosófica: “Se cada um tem uma representação sobre mim, inclusive eu mesmo, onde está o Eu Real?” Por alguns instantes fiquei observando o nascimento de uma pergunta filosófica de fato, depois fiz a mesma pergunta a mim mesmo. Para levar o leitor a fazer esta pergunta a você mesmo vamos construir a argumentação tal como o líder estabeleceu.
 
O ponto de origem da conversa foi a proposta de se melhorar como pessoa e como liderança, para tanto lhe foi proposto que observasse as referências externas como modo de se avaliar internamente. Em outras palavras, seria necessário escutar as queixas do pai no seu comportamento enquanto filho, também da sua mãe sobre o seu comportamento enquanto filho. De modo diferente deveria observar o que seu diretor fala sobre o seu papel de gerente, o que seu colaborador fala sobre seu papel como líder. Assim, a partir destas várias referências, observar o que precisa melhorar em cada um dos papeis. Ao que perguntou: “Mas como saber quem está falando algo que realmente precisa ser melhorado?”
 
A primeira dica sobre este aspecto é sempre ter mais de uma referência, observar várias pessoas e compor com elas a informação. Pode acontecer que ainda assim as informações não sejam fidedignas, não existe mágica. Uma segunda maneira de saber para qual informação dar crédito é ter pessoas específicas que lhe conhecem de longa data, estas pessoas podem ter maior clareza. Assim como a quantidade, a qualidade das pessoas também está suscetível ao erro. Com base nestas opções o líder ainda comentou que pode acontecer que a pessoa tenha clareza sobre si mesmo em cada um dos contextos e saiba o que precisa melhorar. Ainda assim podem haver erros, pois a representação que a pessoa tem de si mesmo pode estar incorreta. E agora? Então como ver o Eu Real?
 
Se você fosse falar quem você é, esse seria o seu eu real. No entanto esse mesmo eu não existe para os seus pais, para a sua esposa, para seus amigos, para seus sócios ou colaboradores. A realidade depende de cada um com quem convivemos, é o exemplo da pessoa com quem você trabalha oito horas por dia e que lhe “conhece” melhor que sua esposa. O que acontece é que ela tem muito mais tempo de convívio o que lhe permite ter mais informações para elaborar uma ideia a seu respeito. Não necessariamente esta ideia é verdadeira, mas é a conclusão a que ela chegou a respeito de quem você é. Mas então, voltando ao início, como saber o que melhorar se cada um tem uma ideia diferente a respeito de você?
 
As diferentes representações não mudam o fato de que existe uma realidade consensual na qual você está inserido. Um filho em uma família, um homem em uma cultura, um líder em uma organização, cada um destes papeis exercidos está inserido em um contexto. A partir do contexto em que está inserido vem a realidade consensual que serve de base para avaliar o que precisa melhorar. Enquanto líder, participando da realidade consensual de uma organização posso saber como me aprimorar. Como homem numa cultura ocidental também tenho os parâmetros de como posso melhorar. Os parâmetros consensuais unidos aos subjetivos são guias que podem mostrar como o Eu Real pode ser aperfeiçoado.
 
 
Por: Rosemiro A. Sefstrom - Criciúma/SC
Fonte: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br

domingo, 30 de março de 2014

GERENTE ESTILO "CRI-CRI"

Comentário de Max Gehringer para a rádio CBN sobre estilos de liderança, com um ouvinte que tem um gerente que só faz críticas e nunca elogios: "Tenho 24 anos e trabalho desde os 19. Nunca, durante esse período, recebi uma reprimenda de meus superiores. Pelo contrário, sempre fui elogiado. Faz um mês, a empresa contratou um novo gerente que, desde então, é meu superior imediato. Por algum motivo, ele vem criticando o nosso trabalho. Não importa o resultado, ele sempre acha um motivo para nos dizer que poderíamos ter feito melhor. Eu nunca lidei com uma situação assim e peço orientação sobre como me comportar."

Muito bem. Depois de cinco anos, você se deparou com daqueles chefes exigentes, que acreditam que críticas produzem mais efeitos do que elogios. Até que demorou um pouco para acontecer, porque chefes com esse estilo não são assim tão raros.

Entendo que, tendo sido sempre elogiado, você se ressinta, fique remoendo cada crítica e até imagine que esse tratamento possa ser algo pessoal. Não é. Normalmente chefes assim conseguem bons resultados de curto prazo porque, primeiro, sempre é possível fazer melhor. E segundo, porque os subordinados se esforçam para mostrar que as críticas não são devidas. Depois de algum tempo, porém, todos se acostumam com o tratamento e as críticas vão perdendo o efeito.

Agora, no dia em que você for chefe, que estilo você vai adotar? O do chefe compreensivo ou o do chefe cri-cri? Antes de responder, analise os seus colegas de trabalho. Todos eles se sentem insatisfeitos? O desempenho geral melhorou? Qualquer que seja a sua resposta, a minha sugestão é que você deixe a suscetibilidade de lado e aproveite esta oportunidade para aprender, na prática, um pouco sobre estilos de liderança.
 
Max Gehringer, para CBN, 28/03/2014.
 

SURTANDO EM ISRAEL


Turistas do mundo inteiro realizam o sonho de conhecer Israel. Porém, muitos acabam sendo tomados pela chamada “síndrome de Jerusalém”. Anualmente, cerca de 100 visitantes, a maioria de origem protestante, surtam no país. Ao se depararem com o cenário histórico e religioso, muitos começam a assumir personagens como Davi, Sansão e Jesus Cristo. Há quem chame esse distúrbio de possessão; outros acreditam que se trata de um fenômeno psíquico que começou a ser descrito em meados do século passado e tem aumentado com o turismo de massa. Guias turísticos comentam: “Eles têm personalidade fraca e a viagem para cá faz com que algo aconteça emocionalmente com eles”, explica Arnom Nahmias. Já Saulo Capusta lembrou do caso de uma mulher que surtou e decidiu tirar a roupa e andar nua pelas ruas de Jerusalém. Ele só conseguiu vesti-la dizendo que Deus lhe havia ordenado que ela se vestisse. Por sua vez, Paulo Zar comentou que um homem chegou em Israel decidido a converter os judeus e começou a jogar CDs e livros do 14º andar do hotel.
 
E você, que acha disto?
 
 
Fonte: UOL.

sábado, 29 de março de 2014

QUANDO O FILHO SE TORNA PAI DE SEU PAI

Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai. É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso. É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar. É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.  É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios. E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz. Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta. E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.
 
Uma das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas. Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes. A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.  Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.  Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos. No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira: 
"Deixa que eu ajudo".
 
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo. Colocou o rosto de seu pai contra seu peito. Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo. Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável. Embalou o pai de um lado para o outro. Aninhou o pai. Acalmou o pai. E apenas dizia, sussurrado:  "Estou aqui, estou aqui, pai!"
 
Talvez, o que alguns pais querem, é apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali, do seu lado.
 
 
Autor Desconhecido.

quarta-feira, 5 de março de 2014

DE PRODÍGIO A PROBLEMA

Revista EXAME, São Paulo - O biólogo americano Robert Trivers ficou famoso por seus estudos sobre o autoengano. Trata-se de um conceito simples: o ser humano mente para si mesmo com o objetivo de enganar de forma mais eficaz os outros.
 
A ideia de Trivers, um evolucionista que passou boa parte da carreira na Universidade de Harvard e na Universidade da Califórnia, se aplica tanto à conquista de uma companhia amorosa quanto à tentativa de inflar ativos no mercado financeiro. No Brasil de 2014, o comportamento das autoridades tem demonstrado outra evidência do conceito de Trivers.
 
Ficamos sabendo pela equipe econômica que não há má gestão das contas públicas. O governo nega que a inflação preocupe. Nega a deterioração do ambiente de negócios. Nega que haja um desajuste no setor elétrico. E, por fim, nega que a economia do país se fragilizou nos últimos anos. Seria ótimo se todas essas negativas bastassem para mudar nossos graves desequilíbrios. Na vida real, porém, elas de nada servem. O Brasil de hoje não é mais a estrela reluzente de 2010. Em janeiro, num ensaio de crise de confiança nos mercados emergentes, fomos apontados por investidores como uma das economias mais frágeis.
 
Em seguida, no começo de fevereiro, um relatório do Federal Reserve, o banco central americano, citou 11 vezes o Brasil como uma das nações emergentes mais vulneráveis — ficamos atrás só da Turquia, epicentro da atual turbulência. Como passamos, em tão pouco tempo, de prodígio a problema? Na última década, o Brasil viveu as benesses de ser alçado à condição de uma das economias mais promissoras do século 21. Junto com China, Rússia e Índia, o país formou o BRIC, grupo com potencial capaz de compensar o baixo desempenho dos países ricos, que davam sinais de não ter mais fôlego.
 
De 2000 a 2007, enquanto as nações desenvolvidas cresceram em média 2,3%, o mundo emergente avançou 6,6% ao ano. Para o Brasil, foi um pe­río­do especial de prosperidade. Era o auge do boom de commodities, momento em que o país vendeu montanhas de soja e de minério de ferro para a China a preços exorbitantes (só o minério valorizou 220% de 2003 a 2013). Foi também a fase que apresentamos ao mundo uma riqueza inesperada, o petróleo do pré-sal. A ascensão de uma nova classe média e o aumento do consumo completaram o quadro e ajudaram a atrair um volume recorde de investimento estrangeiro ao país. Não havia quem não se encantasse com a narrativa do país que fazia tudo errado e que agora dá certo.
 
CORROSÃO LENTA
 
A questão é que o Brasil se agarrou apenas à parte desfrutável dessa história e deixou de lado as arrumações de casa que arrasta de longa data. Como resultado, viu sua economia perder gás e um déficit em conta-corrente se avolumar. “As reformas estruturais que não foram feitas nos tempos de bonança são preo­cupantes”, diz o economista Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. “Agora, tudo ficou mais difícil.” Nos últimos anos, lentamente, o país vem corroendo os dividendos conquistados na época em que era uma celebridade global. Entre dezembro de 2010 e janeiro de 2014, a bolsa de valores brasileira perdeu 410 bilhões de reais em valor de mercado — um terço dessa riqueza sumiu nas ações da Petrobras.
 
“Parte do otimismo em relação ao Brasil era fruto de uma expectativa exagerada quanto ao petróleo do pré-sal. Como não é claro se essa riqueza virá, houve frustração”, diz o economista Jeffrey Sachs, professor da Universidade Columbia, em Nova York. Um levantamento da Associação Latino Americana de Private Equity e Venture Capital mostra que os fundos de investimento em participações reduziram em 70% sua atuação no Brasil nos últimos dois anos. Em 2013, eles alocaram 2,3 bilhões de dólares no país — ante 8,1 bilhões em 2011.
 
 
Do Site EXAME.com
 

terça-feira, 4 de março de 2014

GASTO MAIS DO QUE GANHO

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN: "Meu problema", um ouvinte escreve, "é que gasto mais do que ganho. Não por ter um salário baixo, porque estou na média do mercado. Mas todo fim de mês eu me vejo na situação de ter de deixar pagar alguma dívida ou prestação, porque o dinheiro acabou. Já perdi a conta das vezes em que solicitei aumentos a meu chefe, sem que nenhum tenha sido concedido. O que você me sugere fazer?"

Bom, evidentemente, o que você nunca deve ter feito: controlar as suas despesas de modo a não assumir novas dívidas que você não sabe se terá condições de saldar.

Mas há outro risco mais sério que você corre: o de ficar sem um emprego, já que pela situação que você descreveu, suas reservas financeiras tendem a zero. Da mesma maneira que você assume dívidas com certo otimismo, acredito que mostre o mesmo otimismo em relação a seu emprego. E não imagine que possa perdê-lo. Mas isso acontece. E com mais frequência do que você imagina.

O que posso lhe sugerir é colocar em uma planilha os gastos que são, de fato, indispensáveis, como alimentação, moradia e transporte. E em outra coluna, os gastos que você faz mais por uma questão de status do que por necessidade. Por exemplo, para ter um modelo de celular mais moderno do seu setor, para não ter um carro mais barato que os de seus colegas, e por aí vai. Se você montar essa planilha, verá que poderia viver tão confortavelmente quanto vive, mas sem exagerar na dose de itens supérfluos.

Sua melhor motivação está aí, bem ao seu lado. São os seus colegas. Se eles não têm o mesmo problema que você, ganhando o que você ganha, não há razão para que só você viva endividado.

 
Max Gehringer, para CBN - 04/03/2014.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

VAIDADES IMPERIAIS E O CALENDÁRIO

Existem coisas que mesmo que alguém queira que seja de uma forma, ela não será! E não adianta nem ser imperador. Um exemplo cotidiano é o calendário no Brasil. No dito popular, ouve-se muito que no Brasil o ano só inicia depois do carnaval. E na minha opinião leitor, não é só percepção não: Na prática só temos 'decisões' de verdade depois que àqueles que mandam de verdade voltam para o trabalho, a saber, depois da festa da carne.

Lendas circundam o fato que o ano não inicia no mês 01 (um) e sim apenas em março, por uma decisão de Julio César que era fiel devoto do Deus JANUS, o protetor das colheitas. Em sua homenagem, e por decreto dele, Julio César, decidiu que o ano deveria começar em janeiro, em honra a JANUS e que o mês Quintilho (na época o quinto mês do ano) passaria a ter o nome de Julho (Julio) em sua homenagem. Júlio César era tão importante que o senado romano acatou seu decreto. Era o ano 46 antes de Cristo.


Na sequência da história, o imperador Augusto, com inveja de Júlio mudou o nome do mês seguinte, Sextilho (o sexto mês do ano na contagem antiga), para Agosto (de 'Augusto'). Como seu mês tinha um dia a menos, Augusto transferiu um dia de fevereiro para agosto, para que também seu mês tivesse a mesma contagem de dias do mês de Julio César. Por isto temos dois meses consecutivos com 31 dias e um mês com 28 dias, o já pobre Fevereiro.

Portanto, o que presenciamos anualmente, de que nosso ano só inicia mesmo em Março (mês de MARTE), é fruto de uma convenção baseada em poder, vontades e vaidades, como no mundo das organizações e da sociedade moderna.

Para mim a lição que "fica" é: O que historicamente permanece são as atitudes que constroem, àquelas que se baseiam nas virtudes e nos bons intentos. As bases corrompidas pela vaidade humana pouco há de permanecer, seja ela de um cidadão comum, sejam de imperadores ou autoridades. Pense nisto, e agora sim, um Feliz Ano Novo!


 
Por André Topanotti - Criciúma/SC - 28/02/2014

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O JORNAL QUE EMBRULHA A CARNE

Foi encantador ver Fátima Bernardes misturar jornalismo com salsichas, linguiças e frangos e ainda ter de explicar se vêm com ou sem hormônios e conservantes. Tocante ouvir a jornalista radiante por ter trocado a profissão por mais um programa de auditório onde ela dança, pergunta, canta, ri muito e informa pouco. Tudo no intervalo do Fantástico de domingo (23/2) e nos dias subsequentes. No anúncio, ela diz que gostou muito de ter substituído o “boa noite” pelo “bom dia”, mas ficou no ar se gostou de substituir notícias por embutidos como garota propaganda da Seara. Ela dá um sorriso ao lado de sobrecoxas e cortes de frango no anúncio da última edição de Veja – que não cita a jornalista na matéria da página 73 sobre “o cara do bife”.
 
Não, a cara que aparece na reportagem de Veja não é da apresentadora, mas do “é uma brasa, mora” Roberto Carlos, brasa agora simbolizando as chamas que vão grelhar o churrasco feito com Friboi. Roberto Carlos, o ex-vegetariano convicto, perdeu a convicção e resolveu, assim, por acaso, estrelar a campanha milionária da Friboi ao lado de Tony Ramos (O Globo, 22/2). O comercial produzido pela Conspiração Filmes é igualmente emocionante para quem curtia o Rei, apesar da polêmica da biografia proibida. No filme, Roberto Carlos almoça com família e amigos, mas reclama quando o garçom traz massa apenas para ele – se for Friboi, a carne é dele. Toca o refrão: “Eu voltei, agora pra ficar...”
Tanto a Friboi quanto a Seara das salsichas de Fátima pertencem ao maior produtor de carne do mundo, o grupo JBS, do empresário Joesley Batista, que delirou com os R$ 300 milhões de vendas depois que Tony Ramos assumiu a campanha que vai marcar sua carreira. Nunca mais o rosto do ator vai aparecer como o jagunço Riobaldo da minissérie Grande Sertão, Veredas, como o Marcio Ayala da novela Pai Herói, o grego Nikos em Belíssima, o empresário Antenor Cavalcanti de Paraíso Tropical ou o indiano Opash Ananda de Caminho das Índias sem que o símbolo da Friboi pulule na cabeça do público. Mais de 20 peças e alguns filmes, a medalha oficial da Ordem do Rio Branco recebida há cinco anos – e agora, Friboi. Junto com o Roberto Carlos, com quem esteve pela primeira vez aos 16 anos interpretando a dupla Tony e Tom & Jerry, no programa Jovem Guarda.
Por que as carnes atraíram subitamente Tony, Fátima e Roberto? Fátima foi contratada por 5 milhões de reais, segundo o portal Newtrade (23/2), e o Rei, calcula-se, por quantia igual – o que não é nada para o grupo que no ano passado faturou 100 bilhões de reais.
Pelé vende shampoo contra caspa Head & Shoulders, Luciano Huck vende a TIM, Marília Gabriela vende imóveis – marcas que, como os carros, já não vendem mais os produtos, mas quem os pilota. As ações da Victoria’s Secret caíram 31,5% em 2007 quando Gisela Bündchen deixou a grife de lingeries. As inserções de celebridades têm o poder de Midas. O economista americano Fred Fuld garantiu na revista Forbes que o valor de mercado da Bündchen pode chegar a 445 milhões de dólares (1,05 bilhão de reais), engolindo o de Neymar (77,5 milhões de dólares, 183 milhões de reais).
Tudo bem para as marcas. Mas o que acontece com a marca do ator, da jornalista, do cantor até então romântico fazendo campanha contra carne? Com que cara fica o público?
Numa entrevista à coluna “Direto da Fonte”, de Sonia Racy (Estado de S.Paulo, 16/12/2013), o diretor Luiz Fernando Carvalho reconheceu que a televisão brasileira tem dado claros sinais de esgotamento. E noutra entrevista ao Magazine Littéraire (fevereiro, 2014), o escritor espanhol Eduardo Mendoza desabafa por todos: como está difícil amar a espécie humana... e acreditar nos ídolos.
 
Por Norma Coury - Blog Espaço Aberto
Fonte: http://blogdoespacoaberto.blogspot.com.br/2014/02/o-jornal-que-embrulha-carne-e-o-rei.html