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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ELOGIO DA SINGULARIDADE


O homem, o que é? Diariamente o homem é definido, ora é um animal dotado de razão, dali a pouco já é um bárbaro que destrói o ambiente em que vive. Qual conceito seria o mais adequado para definir o homem? O foco está na palavra “conceito”, palavra de origem grega que define todo processo de descrição, classificação e previsão dos objetos do conhecimento. Conceituar o homem quer dizer descrevê-lo, classificá-lo e ter certa previsão sobre ele. Será que isso é possível? Olhe para o lado: você convive com várias pessoas no seu dia-a-dia. Pense na pessoa que você mais “conhece” e depois tente descrevê-la. Depois de descrever tente classificá-la, como seria? Boa, má, otimista, pessimista, inteligente, ignorante, quais seriam as classes que caberiam a ela, ou seria necessário criar classes para ela? Por fim, tente prever os comportamentos desta pessoa. Talvez reconheça que em alguns casos até mesmo coisas básicas não são previsíveis. Como se pode arrogar o direito de tentar definir conceitualmente o homem?

Quem sabe seja muito difícil definir o outro. Tente então conceituar a si mesmo, descrever-se, classificar-se e prever seus próprios comportamentos. Há uma gama vasta de pessoas que se espantam consigo mesmas, admiram o próprio comportamento, não sabiam que eram capazes. Como então, seria possível que eu, que não consigo conceituar a mim mesmo tenho a pretensão de conceituar todos os outros que estão ao meu redor? Um dos grandes exemplos desta dificuldade está em conceituar Deus: o que é? Quem é? Como conceituar? Vários filósofos tentaram conceituar Deus e tiveram sérios problemas, perceberam que a complexidade é muito maior que a capacidade humana de entendimento. Será que o ser humano também não é muito mais do que se tenta conceituar? Bom, mau, pecador, santo, humilde, soberbo, são todos conceitos atrelados a comportamentos e não a pessoas.

Não há nada de mau em um conceito, o problema está em ligar um conceito a uma pessoa. Quando você pega um conceito e liga-o a uma pessoa está personalizando um conceito, tornando-o palpável. A partir deste momento aquele conceito, avarento, por exemplo, passa a ser a própria pessoa e não seu comportamento. Por isso não é recomendável dizer: “Fulano é avarento”. Ao conceituar a pessoa como avarenta ela pode ser descrita como avarenta, ser classificada como avarenta e ser previsível como avarenta. O ser humano foi reduzido ao comportamento de juntar dinheiro, avarento é um adjetivo, ou seja, um atributo do substantivo. De comportamento pode-se levar para outras áreas, em alguns lugares pelo mundo o homem é reduzido à sua crença, em outros reduzido a sua cor de pele. Aqui, em nossa região o homem pode ser reduzido ao carro que tem na garagem, à casa que tem na praia ou não tem, às roupas que veste.

Cada ser é único, “inconceituável”, não é possível, por mais tempo e conhecimento que se tenha, conceituar um ser humano, quem dirá “o” ser humano. Alguns filósofos, algumas correntes filosóficas tentaram conceituar o ser humano, muitos acharam ter conseguido completar tal tarefa. Mas, ainda hoje, dois mil e quinhentos anos depois do início da trajetória o homem ainda não foi conceituado adequadamente, um dia talvez. Ao olhar para seu filho, não o conceitue, classifique ou tente prever seu comportamento, ao contrário, tente se aproximar, conhecer e, quem sabe um dia, você verá seu filho. O conceito é uma sombra nebulosa que cobre o ser e quanto mais forte for o conceito, menos se verá o ser.
 
 
Por: Rosemiro A. Sefstrom
Fonte: http://rosemirosefstrom.blogspot.com.br


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