Você acha que é possível
alguém emitir uma opinião imparcial? Como poderíamos classificar uma crítica como
efetivamente isenta? Inicio este artigo com estas questões, pois ouço muito
rádio, e este é um dos principais veículos de comunicação que uso para
manter-me atualizado. É comum em quase todas as emissoras de rádio e TV ouvir e
ver vinhetas identificando programas e profissionais do jornalismo nacional e regional
vendendo a imagem de credibilidade e imparcialidade. Sinceramente eu tenho
minhas dúvidas e não consigo conter-me. Preciso perguntar: Até que
ponto o jornalista ou comunicador têm a capacidade de manter-se isento na
opinião que expõe? Como sua percepção e preferência podem não contaminar e
produzir certa tendência à crônica que ele oferece a sociedade?
Em um paralelo mais
simples, a luz da filosofia clínica e de sua conversação com a filosofia de
Emmanuel Levinas poderia perguntar: O quanto de mim eu levo ao mundo do outro para
compreendê-lo? Reescrevo a pergunta: O quanto do jornalista vai em sua crítica
quando ele vem a nosso mundo para descrevê-lo ou analisa-lo? Para mim as “vinhetinhas de credibilidade e
imparcialidade” perderam o sentido ha algum tempo, e se entender o porquê
interessar ao leitor, explico: Na série especial de 40 anos do Jornal Nacional
a Rede Globo veio de público reconhecer através de seu ícone de seriedade e
credibilidade, Willian Bonner, que o JN ‘provavelmente pecou’ na edição do
debate entre Lula e Collor em 1989, e que a edição que só mostrou as virtudes
de Collor e os erros de Lula durante o debate, “pode” ter influenciado no
resultado daquela eleição. Você acredita neste tipo de 'pecado'?
Trazendo a prosa
para nosso mundo regional, me canso de ouvir uma música que insiste em tocar numa
nota só. Olho para a história e vejo alguns motivos que levam o músico tocar a canção
desta forma. Prefiro trocar de estação. Decepciono-me ainda mais. Ouço que nesta
estação o ouvinte tem voz e vez, mas quando este se manifesta e a opinião é diferente
do comunicador, seu pensamento é compartilhado no ar, e no ar mesmo, o espectador é ‘detonado’
sem piedade por aquele que empunha o microfone. Ou ele empunha um punhal? "Que
maravilha" deve pensar a maioria ignorante que acha isso sinceridade e coragem.
Para mim esta atitude tem nome: Covardia! Alguns dirão: Este é o papel da
imprensa. Acredito na imprensa livre para emitir sua opinião, mas alguns
segmentos de nossa impressa eu acho que faz o papel parecido com aquele amigo ‘brincalhão’
do grupo, que faz piada com todo mundo, mas quando alguém brinca com ele o
engraçadinho vira um “bicho”, todo ‘dodóizinho’!
Já diria J. C. Bertrand no livro O Arsenal da Democracia (2002,
p. 143): “Numa democracia, a imprensa é simultaneamente uma indústria, um serviço público e o quarto
poder político. Desta tríplice natureza decorre a maioria de seus problemas,
pois ela acarreta uma associação conflituosa entre quatro grupos: os cidadãos,
os jornalistas, os proprietários dos materiais e os dirigentes da nação,
eleitos ou nomeados.” Chego então a um dilema: Seria a impressa a voz da
democracia e da liberdade, ou este quarto poder citado por Bertrand?
Provavelmente as duas respostas estarão certas.
Veremos alguns
jornalistas vestidos de heróis libertadores do pensamento e do sentimento de
uma sociedade, mas outros também revestidos deste quarto poder que emana dos
microfones, câmeras e papéis, e que chegam até nós através dos olhos e vozes de
quem tem sim uma opinião escondida em suas entrelinhas. Mesmo que suas vinhetas
os tentem vende-los como personagens acima do bem e do mal, praticamente semi-infalíveis,
são tão humanos e passionais quanto qualquer um de nós, seus espectadores, porém
debaixo do signo da fama e da visibilidade desejada por grande parte da
sociedade.
Façamos um ótimo novo mês.
Por André Topanotti - Criciúma/SC - 30/09/2012.
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