Muitos pais, com
filhos de todas as idades, perguntam como fazer a criança ou o adolescente
assumir suas responsabilidades. Os exemplos são os mais diferentes e a lição de
casa --seja a cotidiana, seja o chamado trabalho-- é a grande campeã. A mãe de uma
criança de cinco anos conta que já está desesperada porque a filha não quer
saber de fazer sua lição de casa nem com ajuda. Ela já colocou a filha de
castigo, já a premiou, já conversou, já fez tudo o que sabia, mas não conseguiu
resultados. Vários outros pais contam situações semelhantes. A grande pergunta
de todos eles é: "O que eu posso fazer para resolver isso de vez?".
Lição de casa nessa idade?! Creio não haver mesmo solução.
Outros exemplos
muito citados são as pequenas tarefas domésticas que os filhos deveriam fazer,
mas não fazem. Colocar a roupa suja no local adequado, arrumar a cama, guardar
as roupas e os calçados que tiram e espalham pela casa, ajudar a arrumar a mesa
para o jantar etc. A criançada não quer saber de trabalho. Muito menos de
tarefas. Uma mãe, muito
bem-humorada, disse que ela proibiu o filho de dizer a frase "Já vou,
mãe". É que sempre que ela cobrava o filho para que fizesse o combinado
ela ouvia a tal frase, agora vetada.
Por fim, a escola e
o resultado das avaliações. Todos os pais que me escreveram disseram que os
filhos não gostam de estudar, que não se preocupam com as notas baixas,
tampouco com o risco de retenção ou de mudança de escola. Nem as ameaças
funcionam, contam os pais. Nem mesmo prêmio em dinheiro, que os mais novos
gostam tanto de ter, dá resultado.
Vamos encarar o
assunto começando pela responsabilidade escolar. Hoje, existem dois fatores que
conspiram contra a possibilidade de crianças e adolescentes assumirem a vida
escolar como uma batalha pessoal e intransferível: os pais e a própria escola. Os pais decidiram
que os filhos precisam, de qualquer maneira, ter uma vida escolar exitosa. Para
tanto, procuram a melhor escola, contratam professores particulares, buscam
profissionais para ajudar o filho a enfrentar as dificuldades que encontram,
estão em contato constante com dirigentes da escola etc.
Já afirmei aqui e
repito: parece que a vida escolar do filho se tornou uma espécie de avaliação
de seus pais. Bons pais produzem alunos dedicados aos estudos e com bons
resultados em qualquer tipo de avaliação. Essa parece ser a máxima em vigor. Ocorre que,
enquanto a vida escolar for uma questão vital para os pais, os filhos não a
assumirão como sua. A escola, por sua
vez, continua a atuar como fazia séculos atrás: espera que os alunos deem conta
das tarefas sem que sejam ensinados.
Tomemos a lição de
casa como exemplo. Se o aluno não aprender que fazer a lição tem seus frutos e
não fazer também, não terá motivo algum para assumir sua lição. O que acontece com
o aluno que não entrega a lição? Essa é uma boa pergunta que os pais deveriam
fazer para a escola. Aí, quem sabe, poderiam ficar tranquilos deixando a lição
de casa, feita ou não, com o filho.
Quanto às pequenas
responsabilidades com os afazeres domésticos é preciso, em primeiro lugar, que
a criança sinta que pertence àquele grupo familiar e que isso acarreta ônus e
bônus. Até os seis anos,
mais ou menos, a criança aprende sempre que os pais lhe pedem para ajudar.
Depois disso e até a adolescência, a criança aprende fazendo com a ajuda dos
pais. Na adolescência, o filho precisará ser sempre lembrado de suas
responsabilidades. Mas não vale fazer por ele, mesmo que isso custe não ter
roupa limpa na hora que ele precisar. Ensinar aos filhos
que eles devem assumir suas próprias responsabilidades dá trabalho, exige
paciência e persistência, porque é uma tarefa que dura mais ou menos uns 18
anos. Com
sorte.
Por: Rosely Sayão - Folha de SP - 30/10/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário