Existem dois ditos populares
que circulam muito entre "os da fé": 'Não julgue para não ser julgado' e 'Só Deus pode julgar uma pessoa’. Estes provérbios
me levam a algumas reflexões. Uma delas seria o motivo por que julgar. O senso
cotidiano mostra que um julgamento se faz necessário na medida em que um crime é
cometido. Lembro-me daquela passagem bíblica onde o próprio Jesus nos últimos
minutos de vida disse a um homem condenado juntamente consigo a morte de cruz,
que ele O encontraria ainda naquele dia no paraíso. Jesus falou isto ao homem
por conta da sua declaração de fé, o que denotou para Cristo, o sentimento de
arrependimento daquele homem. Em contraposição aos pés da Cruz e nas redondezas
do Gólgota estavam os religiosos, firmes na convicção de sua fé, que estavam
fazendo o que era correto aos olhos de Deus, quando condenaram Cristo a cruz. Será
que os Fariseus estavam certos? Estava certo agora o homem crucificado,
arrependendo-se ao final da vida? Antes de declarar sua fé em Cristo era aquele
homem, de acordo com alguns historiadores, um provável assassino. Seria o
arrependimento deste homem o suficiente para reparar os possíveis danos aos
familiares das vitimas deste criminoso?
Muito podemos questionar
sobre nossas atitudes de 'magistrados' do alheio, pois é muito comum tacharmos
"o outro" de impuro ou criminoso e o sentenciar usando 'recortes' de
nossa sabedoria limitada. Façamos um paralelo contemporâneo e pessoal com esta
historia narrada por Lucas no capitulo 23 de seu evangelho: Quantos de nós
identificam-se com os personagens dos fariseus? Para mim, este ´papel’ não é
nada simpático, porém eles achavam que estavam fazendo algo correto aos seus
olhos, providenciando a crucificação de Cristo. Estes eram segundo o livro
sagrado dos cristãos, os homens da fé daquela época e lugar. Quantos de nós não
agimos assim hoje, e baseado em nossas crenças? Porque acreditamos em algo de
uma forma e maneira, e ofuscado por pré-juízos que entendemos ser superior ao
do outro, revestimo-nos de uma toga espiritual para julgar o próximo,
esquecendo que por trás da vestimenta ornamentada por ritos e atos sagrados jaz
um ‘eu’ tão fraco, profano e dubio quanto àquele que é julgado. Fariseu é o
outro, eu não! Eu, e provavelmente mais uma legião de almas irmanadas pela
promessa de vida após a morte gostaria de estar na mesma condição daquele homem
condenado. Ele ouviu do Mestre que o encontraria nos céus ainda naquele dia: E
esta é a parte boa da estória. Agora, quem gostaria de ficar com a fama que ele
ficou? Mesmo perdoado, a marca de criminoso o acompanhou.
Para mim, o mais marcante na
narrativa de Lucas é a atitude de Jesus... Um Mestre! Creio que este é um dos
motivos que faz a mensagem deste Galileu cruzar os mares e séculos e chegar até os dias atuais: Primeiro perdoa e dá esperança ao condenado declarando: "estarás
ainda hoje comigo, no paraíso"; Depois perdoa e intercede por
aqueles que até ali o perseguiram: "Pai perdoa-lhes porque não sabem o que
fazem." O tom desta oração pode parecer presunçoso, mas se
olharmos do ponto de vista do conhecimento dos fariseus, Cristo realmente disse
uma verdade: Eles (os fariseus) e qualquer ser humano que julga, o faz sem
conhecimento pleno do que está julgando. Algumas pessoas podem conhecer mais,
outras menos a respeito de determinadas matérias técnicas, mas em se tratando
de pessoas, a exclusividade do indivíduo faz com que as relações se tornem
também únicas e complexas. Olhar para o outro e procurar vê-lo como “penso” que
sou, e a partir desta medida imprecisa o julgar, é um forte convite ao erro nas
relações entre as pessoas. Procurar ver o outro em sua exclusividade e antes de
julgar, compreendê-lo, nos fará abrir possibilidades infinitas, tantos quantos
forem estes ‘indivíduos’, assim como o Mestre em situação tão adversa procurou
compreender a cada um dos que o cercavam. Para mim, vale olhar para o exemplo
dEle, sair da condição de ‘condenado’ ou de ‘fariseu’ e agir como um mestre.
Por André Topanotti –
Criciúma/SC – 12/11/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário