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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O MESTRE, OS FARISEUS E O CONDENADO


Existem dois ditos populares que circulam muito entre "os da fé": 'Não julgue para não ser julgado' e 'Só Deus pode julgar uma pessoa’. Estes provérbios me levam a algumas reflexões. Uma delas seria o motivo por que julgar. O senso cotidiano mostra que um julgamento se faz necessário na medida em que um crime é cometido. Lembro-me daquela passagem bíblica onde o próprio Jesus nos últimos minutos de vida disse a um homem condenado juntamente consigo a morte de cruz, que ele O encontraria ainda naquele dia no paraíso. Jesus falou isto ao homem por conta da sua declaração de fé, o que denotou para Cristo, o sentimento de arrependimento daquele homem. Em contraposição aos pés da Cruz e nas redondezas do Gólgota estavam os religiosos, firmes na convicção de sua fé, que estavam fazendo o que era correto aos olhos de Deus, quando condenaram Cristo a cruz. Será que os Fariseus estavam certos? Estava certo agora o homem crucificado, arrependendo-se ao final da vida? Antes de declarar sua fé em Cristo era aquele homem, de acordo com alguns historiadores, um provável assassino. Seria o arrependimento deste homem o suficiente para reparar os possíveis danos aos familiares das vitimas deste criminoso?

 
Muito podemos questionar sobre nossas atitudes de 'magistrados' do alheio, pois é muito comum tacharmos "o outro" de impuro ou criminoso e o sentenciar usando 'recortes' de nossa sabedoria limitada. Façamos um paralelo contemporâneo e pessoal com esta historia narrada por Lucas no capitulo 23 de seu evangelho: Quantos de nós identificam-se com os personagens dos fariseus? Para mim, este ´papel’ não é nada simpático, porém eles achavam que estavam fazendo algo correto aos seus olhos, providenciando a crucificação de Cristo. Estes eram segundo o livro sagrado dos cristãos, os homens da fé daquela época e lugar. Quantos de nós não agimos assim hoje, e baseado em nossas crenças? Porque acreditamos em algo de uma forma e maneira, e ofuscado por pré-juízos que entendemos ser superior ao do outro, revestimo-nos de uma toga espiritual para julgar o próximo, esquecendo que por trás da vestimenta ornamentada por ritos e atos sagrados jaz um ‘eu’ tão fraco, profano e dubio quanto àquele que é julgado. Fariseu é o outro, eu não! Eu, e provavelmente mais uma legião de almas irmanadas pela promessa de vida após a morte gostaria de estar na mesma condição daquele homem condenado. Ele ouviu do Mestre que o encontraria nos céus ainda naquele dia: E esta é a parte boa da estória. Agora, quem gostaria de ficar com a fama que ele ficou? Mesmo perdoado, a marca de criminoso o acompanhou.


 
Para mim, o mais marcante na narrativa de Lucas é a atitude de Jesus... Um Mestre! Creio que este é um dos motivos que faz a mensagem deste Galileu cruzar os mares e séculos e chegar até os dias atuais: Primeiro perdoa e dá esperança ao condenado declarando: "estarás ainda hoje comigo, no paraíso"; Depois perdoa e intercede por aqueles que até ali o perseguiram: "Pai perdoa-lhes porque não sabem o que fazem." O tom desta oração pode parecer presunçoso, mas se olharmos do ponto de vista do conhecimento dos fariseus, Cristo realmente disse uma verdade: Eles (os fariseus) e qualquer ser humano que julga, o faz sem conhecimento pleno do que está julgando. Algumas pessoas podem conhecer mais, outras menos a respeito de determinadas matérias técnicas, mas em se tratando de pessoas, a exclusividade do indivíduo faz com que as relações se tornem também únicas e complexas. Olhar para o outro e procurar vê-lo como “penso” que sou, e a partir desta medida imprecisa o julgar, é um forte convite ao erro nas relações entre as pessoas. Procurar ver o outro em sua exclusividade e antes de julgar, compreendê-lo, nos fará abrir possibilidades infinitas, tantos quantos forem estes ‘indivíduos’, assim como o Mestre em situação tão adversa procurou compreender a cada um dos que o cercavam. Para mim, vale olhar para o exemplo dEle, sair da condição de ‘condenado’ ou de ‘fariseu’ e agir como um mestre.

 

Por André Topanotti – Criciúma/SC – 12/11/2012.

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