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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

DORES EXISTENCIAIS


Vivemos numa época em que as dores são consideradas como ruins, uma dor é algo a ser debelado. Antigamente quando uma criança cortava o dedo, era tratada com Merthiolate e Mercúrio Cromo. Um dos desafios às mães era convencer a criança a se deixar medicar, pois eram medicamentos que causavam dor. Geralmente a mãe dizia: “Fica quieto, se dói, cura”. Atualmente o medicamento já não causa mais dor, a fórmula foi alterada de maneira que a aplicação seja indolor. Quando não se tinha Merthiolate utilizava-se álcool ou até mesmo a velha e boa cachaça com arnica. Aqueles que passaram por estes tratamentos devem lembrar que era bastante doloroso a aplicação destes medicamentos sobre a ferida. Era também uma época em que a criança tinha desde cedo uma participação forte na família, em muitos casos com tarefas como alimentar os animais, varrer o pátio, capinar a horta. As dificuldades da família eram partilhadas, não se “tapava o sol com a peneira” para que a criança não sofresse.

Esta postura menos polida, dito por alguns, mas realista, era a maneira que as famílias antigas tinham para preparar suas crianças para a vida. Eram crianças, hoje adultos, que desde cedo percebiam que na vida passar por algumas dores era algo absolutamente normal e natural. Sabiam que depois de um dia capinando as mãos teriam bolhas e estas provocariam dores; com o tempo e o trabalho a pele da mão engrossava e já não fazia mais calo. Não se pode dizer que era algo agradável, bom, desejável, mas era algo pelo qual era necessário passar. Colaborar com a família passava pela dor do trabalho físico.

Existencialmente as coisas não são muito diferentes: existem dores que precisam ser vividas para que nos façam mais fortes. Imagine uma mocinha que arruma um namorado. Pelos acasos da vida seu relacionamento não funciona e ela sofre. Sua mãe, por temer o pior recomenda um remedinho para aliviar essa dor ou leva a filha às compras para esquecer. O que esta mãe está fazendo? Muito provavelmente está evitando que a filha crie resistência, que aprenda com o que aconteceu, que vivencie de maneira produtiva aquela dor existencial. Sofrer por sofrer não é recomendável, mas eliminar todo o sofrimento também não é produtivo.

Em alguns casos uma depressão pode ser o melhor remédio que uma pessoa encontrará para muitos dos males. Em um de meus atendimentos ouvi o seguinte: “Eu estava em depressão, estava triste, não queria conversar e as pessoas diziam que eu não tinha motivo para estar assim. Eu sabia, mas quanto mais elas me diziam, mais depressiva eu ficava. Eu estava vivendo minha depressão, era um momento que eu precisava viver. Depois que vivi segui em frente”. É interessante perceber que viver uma dor existencial não significa ser masoquista, mas viver a consequência de uma série de fatores que podem ser ruins agora, mas serão muito bons no futuro. Na primeira vez em que se vai à academia ao fazer exercícios os músculos doem, e é sinal de que os exercícios estão fazendo efeito.

Uma pessoa que usa dispositivos para anestesiar uma dor pode pouco a pouco aumentar a dose para uma dor que é, aparentemente, cada vez maior. Algumas pessoas ao anestesiar suas dores também anestesiam seus prazeres. Correm o risco de chegar num tempo em que não sabem mais o que é dor ou prazer, ou seja, ficam anestesiadas para a vida.



Rosemiro A. Sefstrom - Criciúma/SC - 22/08/2013.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

FORMADO, MAS PERDIDO. QUE FAÇO?

Um ouvinte escreve: "Preciso ouvir alguma coisa, mesmo que eu não goste do que possa ouvir. Minha situação é a seguinte: tenho 29 anos de idade e 6 de carreira profissional. Sou formado em Direito, profissão que nunca exerci. Concluí também três cursos de gestão e me comunico em inglês com suficiência. Até aí, tudo ótimo. Só que trabalho em um serviço de atendimento ao cliente, numa baia minúscula, ganhando 800 reais por mês. Não consigo entender como posso, a essa altura da vida, estar em uma função que poderia ser desempenhada por alguém dez anos mais novo do que eu e sem um quinto da formação que eu tenho. Eu devo ter feito alguma coisa errada, mas não sei o quê. E pior, não sei que rumo tomar."

Vamos lá. Creio que três fatores possam explicar um caso como o seu. Eles são: azar, perseguição e acomodação. Pode ser azar? Até pode, mas duvido que seja. Poderia ser perseguição? Talvez, mas não num período tão longo como seis anos. Sobra então a acomodação.

Muito provavelmente não uma acomodação proposital, mas uma construída em cima de uma otimista premissa: de que se as coisas não aconteceram quando deveriam ter acontecido, basta fazer mais alguns cursos para que, em algum momento, surja uma oportunidade que irá mudar tudo.

A sugestão que posso lhe dar é não continuar esperando que o destino providencie uma solução. Ficar trocando de emprego não irá resolver. E fazer mais cursos, também não. Você precisa ser pró-ativo, assumir a sua própria causa e correr os riscos que evitou correr até agora. A boa notícia é que você ainda tem tempo suficiente para dar uma virada na vida profissional, desde que comece já.


Max Gehringer, para CBN.


domingo, 25 de agosto de 2013

RASCUNHOS DO CONARH 2013 - CAP 1


Entre os dias 19 a 22 de agosto foi realizado o CONARH 2013 – Congresso Nacional de Gestão de Pessoas em São Paulo no Transamérica Expo Center. Alguns dos maiores profissionais, pesquisadores e estudiosos debateram e compartilharam seus conhecimentos neste que sem dúvida é o maior encontro de profissionais de RH da América Latina. Os trabalhos foram abertos pela presidente nacional do sistema ABRH Sra Leila Nascimento. Dentre as principais palestras que este bloggeiro pôde participar, e que neste artigo pretende abordar sinteticamente, Alexandre Silva - Presidente Embraer e Wilson Ferreira Jr - Presidente CPFL Energia foram os protagonistas da palestra Magna de Abertura. Abordaram temas como os cenários econômicos e suas conexões com o mundo do RH. 

O maior desafio citado por Alexandre Silva - Presidente Embraer é de que, em um cenário onde temos uma Europa estagnanda, uma nação como o EUA crescendo pouco, uma China investindo em armamento e comida e o PIB Brasileiro crescendo entre entre 1,1 e 2%, eis o desafio: “Como inspirar pessoas para fazer diferente?” Precisamos nos incomodar com o “sub desenvolvimento satisfatório", semelhante aquele filho que passa sempre com a nota 6.  Precisamos definitivamente ter maior produtividade, e sabemos que isto passa pelo caminho do desenvolvimento pessoal e da inovação.

Na mesma palestra/debate, Wilson Ferreira Jr - Presidente CPFL Energia foi enfático ao citar que os programas de meritocracia não estão sendo bem geridos nas empresas. Meritocracia é reconhecer o desempenho excelente, disse Wilson. Provocou ainda perguntando: Vocês sabem o custo da não qualidade de sua organização? 

Ao final Alexandre Silva encerrou a magna da tarde cito que Financeiro e RH dão o tom do sucesso ou do fracasso da empresa.

<!--[if !vml]--><!--[endif]-->Na mesma tarde Rosa Maria Fischer Professora da USP/FEA desenvolveu o painel Leitura de Cenários – Uma Competência Essencial para o Profissional de RH. Iniciou contextualizando que as pessoas se desenvolvem de dentro para fora e que se queremos desafiar o crescimento precisamos inovar, e para haver inovação precisamos despertar “o outro” para o desenvolvimento. Os manuais de administração são muito repetitivos e cheios de certezas. Porém, a  certeza é a inimiga da reflexão, disse Rosa Maria citando Maturana. Se tivermos muitas certezas, bloqueamos a reflexão. Ainda sobre a criatividade e inovação Profª Rosa disse que a principal inovação para as organizações são as pessoas se inovando, mas é preciso dizer que a inovação vem da liberdade de poder se manifestar.  Não existe Inovação onde existe o medo da punição e da censura, mesmo que branca, envolta na praga organizacional do “politicamente correto” (grifo e interpretação deste bloggeiro). 

Em se tratando de interpretações, um determinado cenário só tem sentido, se sua realidade fizer sentido para mim. Cenários serão interpretado de acordo com a realidade percebida, de acordo com a informação recebida, disse a professora. Encerrando, profª Rosa Maria provocou os educadores a juntarem emoção e razão para que os processos de aprendizagem façam de fato diferença para as pessoas. É preciso que alunos compreendam técnica junto com algo que marque com significância o aprendizado, para que este possa de fato ter eficácia no desafio de impulsionar as pessoas à mudança e a inovação. Por fim, concluiu citando um pensamento a respeito do "Ser" e sua mudança: “Nós somos o que fazemos. Mas principalmente o que fazemos para mudar o que somos”.
Por enquanto, é o que se tem a compartilhar. Nos próximos dias, mais novidades e ideias interessantes do CONARH 2013 neste blog.

Paz e virtude!
Por ANDRÉ TOPANOTTI - Criciúma/SC - 25/08/2013

sábado, 24 de agosto de 2013

AS CIDADES (urbs)


"Antigamente a cidade, urbs, era o lugar que pensava e que falava, que tinha o verbo e a luz. Roma criou a justiça. Atenas idealizou a carne. Jerusalém crucificou a alma.
 
Por isso Roma caiu, os porcos enlameiam os restos de Atenas e os cães uivam no silêncio de Jerusalém."
 
Eça de Queirós

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

POUPANDO DESDE CEDO

Comentário de Mauro Halfed para CBN dia 12/08/2013, com um exemplo de como o tempo aumenta, e muito, o montante final dos investimentos, por causa dos juros compostos:

Hoje eu vou comentar um exemplo hipotético de duas irmãs gêmeas: Adriana e Bruna.

Adriana começou a trabalhar cedo e iniciou uma poupança de longo prazo quando tinha 20 anos. Investiu 3 mil reais todos os anos, obtendo um rendimento líquido de 5% ao ano acima da inflação, durante 30 anos. Com 50 anos de idade, Adriana parou de fazer depósitos e deixou o dinheiro rendendo com a mesma taxa de 5% ao ano, até fazer 60 anos de idade.

Por outro lado, a irmã, Bruna, preferiu aproveitar a juventude e só começou a fazer a poupança de longo prazo quando tinha 30 anos. Acabou fazendo o mesmo esforço da irmã Adriana: ela depositou todos os anos os mesmos 3 mil reais, durante 30 anos, obtendo o mesmo rendimento de 5% ao ano acima da inflação.

Quando as duas irmãs gêmeas fizerem 60 anos, qual será o capital de cada uma delas? Resposta: Adriana, aquela que começou a poupar cedo e parou com 50 anos, deixando o dinheiro rendendo mais dez anos, vai ter 324 mil reais além da correção da inflação. Já a Bruna, que começou a poupar dez anos depois, fez o mesmo esforço de juntar dinheiro durante trinta anos, acumulou bem menos: 199 mil reais.

324.000 contra 199.000. Perceba que o esforço feito pelas duas irmãs é exatamente o mesmo: 30 anos de poupança. Qual que é a diferença? A diferença é que Adriana começou aos 20 e parou aos 50 anos. A Bruna começou aos 30 e parou aos 60.

As duas irmãs depositaram a mesma quantia: 90 mil reais. Mas aqueles dez anos finais lá, quando Adriana deixou o capital rendendo, fizeram então uma grande diferença para o saldo final da Adriana. Ela tem 324 mil no final, enquanto que a Bruna 199 mil.

Moral da história: vale a pena começar a juntar dinheiro bem cedo. Naquela fórmula dos juros compostos, tempo é um fator chave. Esse fator aumenta demais o montante final que vai ficar no bolso do poupador.

Mauro Halfeld, para CBN - 12/08/2013.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A ESPIRITUALIDADE DAS PEDRAS

Meu Deus, como ter um "eu" cansa! Os místicos têm razão. Não é necessário ser um "crente" para ver isso, basta ter algum senso de ridículo para ver o quão cansativo é satisfazer o "eu". E a modernidade é toda uma sinfonia (ou melhor, uma "diafonia", contrário da sinfonia) para este pequeno "eu" infantil.
 
Outro dia, contemplava pessoas num aeroporto embarcando para os EUA com malas vazias para poder comprar um monte de coisas lá. Que vergonha. É o tal do "eu" que faz isso. Ele precisa comprar, adquirir, sentir-se tendo vantagem em tudo. O "eu" sente um "frisson" num outlet baratinho em Miami. O mundo faz mais sentido quando ele economiza US$10. E o pior é que, neste mundo em que vivemos, faz mesmo sentido. Qualquer outra forma de sentido parece custar muito mais do que US$ 10.
 
A filosofia inglesa tem uma expressão muito boa que é "wants", para se referir a nossas necessidades a serem satisfeitas. Poderíamos traduzir de modo livre por "quereres". O "eu" é um poço sem fundo de "wants". Isso me deprime um tanto. Como dizia acima, a modernidade é toda feita para servir ao pequeno autoritário, o "eu": ele exige mais sucesso, mais autoestima, mais saúde, mais dinheiro, mais beleza, mais celulares, mais viagens, mais consumo, mais direitos, mais rapidez, mais eficiência, mais atenção, mais reconhecimento, mais equilíbrio, melhor alimentação, mais espiritualidade para que ele não se sinta um materialista grosseiro.
 
Outra demanda do "eu" que enche o saco é querer se conhecer. Você conhece coisa mais chata do que alguém que tira um final de semana para fazer um workshop de autoconhecimento e aí vai para jardins "fakes" na Raposo? E pior, quem tira seis meses para se conhecer depois dos 40 anos e acha legal? O autoconhecimento só é sério quando deságua em autoironia.
 
O império do "eu" se revela quando vivemos pela angústia de torná-lo "resolvido". Nada é mais típico dessa angústia estéril do que alguém sempre atento às próprias dores. Outra armadilha típica do mundinho do "eu" é a idolatria do desejo. A filosofia sempre problematizou o desejo como modo de escravidão, e isso nada tem a ver com a dita repressão cristã (que nem foi o cristianismo que inventou) do desejo. Problematizar o desejo tem mais a ver com um conhecimento sutil, fruto da experimentação que a realização do desejo sem idealizá-lo traz. A idealização do desejo é marca da condição adolescente ou reprimida.
 
O "eu" falante inunda o mundo com seu ruído. O "eu" mais discreto tece um silêncio que desperta o interesse em conhecê-lo. Mas hoje vivemos num mundo da falação de si, como numa espécie de contínuo striptease da alma. O corpo nu é mais interessante do que a alma que se oferece. Por isso toda poesia sincera é ruim (Oscar Wilde). O "eu" deve agir como as mulheres quando fecham as pernas em sinal de pudor e vergonha.
 
A alta literatura espiritual, oriental ou ocidental, há muito compreende o ridículo do culto ao "eu". Uma leveza peculiar está presente em narrativas gregas (neoplatonismo), budistas (o "eu" como prisão) ou místicas (cristã, judaica ou islâmica). Conceitos como "aniquilamento" (anéantissement, comum em textos franceses entre os séculos 14 e 17), "desprendimento" (abegescheidenheit, em alemão medieval) e "aphalé panta" (grego antigo) descrevem exatamente esse processo de superação da obsessão do "eu" por si mesmo. A leveza nasce da sensação de que atender ao "eu" é uma prisão maior do que atender ao mundo, porque do "eu" nunca nos libertamos quando queremos servi-lo. Ele está em toda parte como um deus ressentido.
 
Por isso, um autor como Nikos Kazantzakis, em seu primoroso "Ascese", diz que apenas quando não queremos nada, quando não desejamos nada é que somos livres. Muito próximo dele, o filósofo epicurista André Comte-Sponville, no seu maior livro, "Tratado do Desespero e da Beatitude", defende o "des-espero" como superação de uma vida pautada por expectativas.
 
Entre as piores expectativas está a da vida eterna. Espero que ao final o descanso das pedras nos espere. Amém.
 
Por Luiz Felipe Pondé - Folha de SP - 29/07/2013 
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2013/07/1318206-a-espiritualidade-das-pedras.shtml

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

EMPRESA EM GRANDE CRISE: "PULO" FORA?

Transcrição do comentário de Max Gehringer para a rádio CBN, do dia 06/08/2013:
 
"Trabalho em uma empresa que foi de uma sinceridade até inesperada, para conosco. Fomos avisados de que a situação financeira da empresa é ruim e que uma concordata não estaria fora de cogitação. Por isso, a empresa sugeriu que quem recebesse uma proposta para sair, deveria aceitá-la.

É claro que por um lado ficamos gratos por essa transparência. Mas, por outro lado, estamos apavorados com a possibilidade de ficarmos na rua da amargura de um momento para outro. Imagino que a melhor solução seria procurar outro emprego, que é o que todos nós estamos fazendo. É isso mesmo?"


Bom, não necessariamente. Eu separaria os funcionários em dois tipos, bem diferentes. Existem aqueles que já começaram a ter insônia e não conseguem mais se concentrar no trabalho. Esses devem sair o mais rápido possível.

Mas também existem aqueles que são um pouco mais otimistas e pensam o seguinte: uma concordata não é uma falência. Muitas empresas já passaram por essa situação e acabaram saindo dela saneadas e fortalecidas. E quando isso acontece, aqueles que acreditaram e ficaram, geralmente conseguem dar um salto na carreira que não dariam em uma situação de normalidade.

Além disso, ficar irá acrescentar ao currículo uma qualidade que será muito apreciada em futuras entrevistas: a de não abandonar o barco quando a empresa mais precisa de suporte de seus funcionários.

Minha sugestão é que você não saia em disparada somente porque todos estão debandando. Avalie se você terá condições psicológicas para suportar esse período de incerteza. Se tiver, eu recomendo que você fique.


Max Gehringer, para CBN - 06/08/2013.
 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O OUTSIDER FRANCISCO, O LEITOR DE DOSTOYEVSKI

Na foto ao lado está Jorge Bergoglio, no portenhíssimo “subte” (metrô) da linha A em 2008. Meia década antes de ser Francisco.
Direto. Outsider. Este é Jorge Bergoglio, um portenho do bairro de Flores que poucos dias antes de tornar-se o papa Francisco em Roma pegava o metrô em Buenos Aires como qualquer habitante da capital argentina. Ao aparecer na sacada da basílica de São Pedro, em seu primeiro discurso mostrou outra característica – o humor – ao afirmar que os cardeais “haviam ido buscá-lo no fim do mundo”, em alusão aos confins meridionais onde está localizada a Argentina.

Nas horas seguintes ficaram claras outras características do novo santo padre, quando os telespectadores em todo o mundo viram o anel de prata (em vez de ouro) na mão. No peito, uma cruz de prata escurecida pela ferrugem. Nos pés, os sapatos pretos portenhos que levou à Roma com seu clergyman de jesuíta e que agora despontam por baixo dos brancos hábitos de sumo pontífice.

Leitor do autor russo Fiódor Dostoyevski, fã e amigo do escritor argentino Jorge Luis Borges, Bergoglio, é adjetivado de “sóbrio” e “frugal” por seus mais fiéis colaboradores. No entanto, seus inimigos preferem defini-lo como “calculista”, “frio”, “traiçoeiro” e “autoritário”.

Aqueles que o conhecem bem sustentam que só mostra intensa paixão quando fala de Fiodor Dostoyevski, seu escritor preferido. “É um jesuíta até a medula. Ele fala pouco. Ouve o dobro do que fala. E pensa o triplo do que ouve”, disse ao Estado um ex-embaixador argentino em Roma. O diplomata sustenta que jamais desejaria ter Bergoglio como inimigo. Com ironia, explica: “Quem vive, como Bergoglio, só à base de frango cozido e verduras, só pode ser um cara perigoso…”.

Mas, para os argentinos, Bergoglio é o novo ídolo. As pesquisas indicam que mais de 75% dos habitantes do país simpatizam com ele, inclusive os integrantes de outras religiões e os ateus. Sua imagem é vendida em posters, figurinhas e stickers.

Bergoglio é idolatrado pelo clero jovem argentino que aprecia sua proximidade com o povo. Quando morava na cidade, o cardeal mantinha conversas com os portenhos enquanto se deslocava em metrô ou ônibus. Seus admiradores afirmam que o fazia “para estar perto do povo”. Os críticos sustentam que era “puro populismo”.

Os parlamentares da esquerda, que se confrontaram com freqüência com Bergoglio por questões como a legalização do aborto, o definem como “o pior dos inimigos, porque é um inimigo muito inteligente”. No entanto, o cardeal também os desconcerta ao realizar furiosos ataques contra o neoliberalismo.
Fiódor Dostoyevski, escritor russo, é o autor preferido do novo papa.

GESTOS - O sociólogo Alberto Quevedo, da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso) ressalta que nos últimos meses que Francisco fez uma série de pequenos gestos muito bem calculados, desde pagar a conta do hotel após ser eleito papa; alternar o italiano e o latim em sua primeira missa; e sua decisão de se locomover em um jipe branco em vez do papa-móvel blindado utilizado por seus dois antecessores.

Diversos vaticanólogos afirmaram nos últimos meses que estes gestos de Francisco poderiam debilitar o poder simbólico da Igreja Católica, já que aproximam o papa da população. No entanto, Quevedo argumenta que a estratégia utilizada por Bento 16 de “aproximar-se de Deus e afastar-se do mundo terrenal foi um fracasso. O problema é que o catolicismo disputa o terreno com figuras do cristianismo que tentam estar com o povo na Terra sem tanta solenidade na doutrina”.

QUÍMICO E JESUÍTA – Filho de um imigrante italiano, o ferroviário Mario Bergoglio e de uma neta de imigrantes da Itália, Regina Sívori, Jorge Mario Bergoglio nasceu no dia 17 de dezembro de 1936 em uma área conhecida como “Bonorino”, dentro do bairro de classe média de Flores, em Buenos Aires. Foi batizado no natal daquele ano. Dos quatro irmãos que teve, uma ainda está viva, Maria Elena Bergoglio, que decidiu não viajar ao Brasil ver seu irmão durante a JMJ para não atrapalhar sua atarefada agenda.

Desde criança, foi torcedor fanático do time de San Lorenzo, fundado por um padre no início do século. Mas nunca pôde aspirar a jogar futebol além da praça do bairro. Seu físico, quando adolescente, era franzino. Aos 20 anos, passou por uma operação que implicou na retirada de uma porção de um de seus pulmões.

Sua juventude transcorreu em Flores e nos bairros vizinhos, onde saía com os amigos e apreciava dançar o tango. Ele ainda ouve os tangos de Carlos Gardel, Julio Sosa, Ada Falcón e Azucena Maizani (a quem administrou a extrema-unção em 1970).

Em 1957 formou-se como técnico químico. De forma quase simultânea Bergoglio entrou como noviço para a Companhia de Jesus, ordem caracterizada por sua obediência e disciplina ascética que historiadores preferem definir como militar. Em 1969 foi ordenado sacerdote, aos 33 anos. Aos 36, em 1973 já era o comandante dos jesuítas na Argentina.

Nos anos que se seguiram – o período 1976-83, a ditadura militar argentina –, é um período da vida de Bergoglio com controvérsias. O jornalista investigativo argentino Horacio Verbitsky, do jornal ”Página 12″, sustenta que ele colaborou ativamente com a última ditadura (1976-83), delatando os jovens sacerdotes, que foram seqüestrados pelos militares. No entanto, dois referenciais mais à esquerda de Verbitsky, o frei brasileiro Leonardo Boff e o Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, negam as acusações e sustentam que Bergoglio não delatou sacerdote algum. Na contra-mão, teria ajudado discretamente vários perseguidos políticos a escapar do país.

Nos anos 80 Bergoglio foi estudar na Alemanha. Ao voltar à Argentina teve uma atividade acadêmica e pastoral low profile. No entanto, em 1992, o poderoso cardeal Antonio Quarracino o convocou para ser seu bispo auxiliar em Buenos Aires. “É um jesuíta sereno e preciso. Ele tem uma capacidade e uma velocidade mental fora do comum”, comentou na época.

CARDEAL - Após ter consolidado seu espaço dentro da Argentina Bergoglio deu um salto internacional em 2001, quando ocupou o posto de relator-geral do Sínodo dos Bispos em Roma.

Em dezembro daquele ano Bergoglio viu como milhares de pessoas passavam marchando na frente da catedral para ir na direção da Casa Rosada protestar. Era o final do governo do presidente Fernando De la Rúa e o surgimento da maior crie econômica e social da História da Argentina. Na época – e em 2002 – Bergoglio foi crucial para evitar a fome de dezenas de milhares de pessoas ao criar uma rede de refeitórios populares para alimentar os empobrecidos argentinos.

Embora fosse o cardeal portenho, Bergoglio só começou a ser uma figura conhecida de forma nacional pelos argentinos quando a partir de 2003 manteve uma série de confrontos com o casal Néstor e Cristina Kirchner, que governaram a Argentina ao longo da última década. Sem papas na língua, o cardeal não vacilou em criticar a retomada do crescimento da pobreza, a corrupção, a divisão da sociedade e a falta de tolerância política.

PAPÁVEL - Em 2005 Bergoglio ficou mais conhecido quando passou a ser um dos papáveis da América Latina. Mas, na ocasião Bergoglio ficou em segundo lugar, com 40 votos, sendo superado por Joseph Ratzinger, que foi entronizado Bento XVI.

Bergoglio permanecia cotado como “papável” para um eventual novo conclave. Mas, em 2010 sofreu um duro revés político quando o Parlamento argentino aprovou um projeto de lei do Partido Socialista (mas respaldado pelo governo da peronista Cristina Kirchner) de casamento entre pessoas do mesmo sexo. Bergoglio, na véspera da votação, deixou de lado seu estilo sóbrio e, perdendo as estribeiras de uma forma ostensiva (o conservador jornal “La Nación” até criticou o ato do cardeal) desferiu um furioso sermão contra o projeto, que foi aprovado com ampla maioria. Muitos integrantes do clero acharam que esta derrota implicaria na perda de pontos como “papável” em um seguinte conclave.

PECULIARIDADES - Ao ser entronizado como o papa Francisco, Bergoglio, além de se transformar no primeiro latino-americano (e habitante de todas as Américas) a ocupar o trono de São Pedro, também quebrou a restrição – implícita – de que um jesuíta seja transformado em papa. Desde que foi criada, há quase cinco séculos, a Companhia de Jesus jamais havia conseguido que um representante seu chegasse a líder da Igreja Católica, principalmente pela oposição de outras congregações que temiam seu crescimento. É também o primeiro papa não-europeu desde Gregório III, nascido na Síria em 690 e santo padre entre 731 e 741.

É também o único papa da História declaradamente fanático do futebol o primeiro que admite dotes de dançarino em sua juventude (gostava de dançar tango), além de ser o primeiro que escreveu um livro em conjunto com um rabino (Abraham Skorka, com quem preparou “Sobre o Céu e a Terra”).
 

sábado, 3 de agosto de 2013

OS ATRIBUTOS DE DEUS, OS MÉDICOS CORRUPTOS E O PASTOR MALAFAIA

O discurso teológico dogmático da religião hebraica/cristã – não do Cristo filho de Maria, “o mais doce, o mais amoroso (…) que nos liberta da dominação dos sacerdotes e de toda idéia de culpa, punição, recompensa, juízo, morte e o que vem depois da morte; esse homem que trouxe a boa nova”, como mostrou Deleuze/Nietzsche – trata da superioridade de Deus em relação ao homem, fugaz mortal, onde mostra seus três atributos: Onisciência, Onipotência e Onipresença. São atributos por demais elevados para um simples mortal. Só Deus pode contê-los e praticá-los. Todavia, esses três atributos são as grandes cobiças dos desesperados mortais e servem de acordo com o usuário disangelista – o que carrega a má notícia –, para seus propósitos mais torpes revelando o quanto de sua insegurança, medo e insignificância.
É comum nesse mundo dos tristes mortais, alguns ditos homens e mulheres lançarem mão de dois desses atributos impulsionados pela fantasia e delírio sintomático de quererem se tomar por Deus. É comum encontrar em todos os territórios imóveis estas personagens se arvorando onipotentes e onipresentes. Mostrando-se superiores – quando não são – e dotados do dom da ubiquidade quando são reles indivíduos bem territorializados. Mas que querem ser confundidos com Deus em sua Onipotência e Onipresença.
O caso dos médicos corruptos apresentado pela TV do Sílvio Santos, SBT, que este Blog Intempestivo publicou ontem, onde, em reportagem, desfilam médicos assinando o ponto em um hospital, e logo depois partindo para outro sítio, exemplifica essa síndrome da onipresença. Médicos ocupam, no mesmo tempo, vários lugares diferentes. Um complexo de Deus irrefutável que nos leva a indagar, em que lugar real encontram-se esses médicos? Só há uma forma de responder e um momento. É quando eles recebem seus salários. São seus salários que comprovam suas presenças. São seus salários que, indubitavelmente, confirmam que esses médicos encontravam-se nos seus locais de labuta ( e que labuta). São seus salários, bons salários, que o colocam no topo da classe médi(ca)a, e os permitem na sociedade de consumo fazer uso deles. Mas, para aumentar seus desesperos, como diz o filósofo francês Deleuze, “alguns médicos ganham muito, mas não sabem gastar”.
E sabe por que não sabem gastar? Porque não conseguem atingir o mais importante atributo de Deus: a Onisciência. Esses médicos são sempre restritos de inteligência. Não sabem que o comprar no capitalismo é uma forma de repressão ao desejo. Sem onisciência, também carregam uma linguagem que é sempre a mesma de sua classe, sua família, e seu grupo. Nada além semioticamente. Suas inteligências restritas servem apenas para conservar os limitados conhecimentos. Ser onisciente é um ato inatingível para eles. Degenerados do instinto humano, por isso são corruptos, muitos deles são também prepotentes, arrogantes, imaginando ter atingido o maior grau de onipotência que faz com que os outros fiquem aos seus pés. Principalmente os mais desvalidos. Mas esses complexos de Deus não são somente ideais perseguidos por esses médicos. 

Outros profissionais também são acometidos da mesma anomalia. Um bom exemplo recente foi o oferecido pelo pastor Malafaia. O onipotente pastor, que se julga salvador das almas duas vezes, por se acreditar pastor e psicólogo, segundo informações soltas pelo mundo midiático, em sua nobreza-teológica-moral, pediu para que seus fiéis não denunciassem os pastores corruptos. Uma prova inconteste de corrupção sem qualquer possibilidade de salvação teológica. Ora, Malafaia, mostra uma conhecida estratégica de administrar os pecados. Não denunciando os pastores corruptos, os fiéis terão abatimentos em seus pecados e penas, e de quebra sua igreja fica fortalecida. Um juízo que bem pode ser tratado por Malafaia, mas que não tem efeito algum, visto que o pastor, por não ser dotado de onisciência, não pode entender que o ato de mentir praticado pelos fiéis não pode livrá-los do pecado que eles mesmos sabem que estão cometendo. E que nenhum Malafaia pode salvá-los do juízo de Deus.
Como diz o filósofo Sartre: ”Se eu minto para alguém, mesmo que esse alguém não saiba que é mentira, todavia eu sei que estou mentindo”. Ainda mais, em um país em que a palavra corrupção passou a ser a moeda mais valiosa para tornar suspeitos em não suspeitos e não suspeitos em suspeitos, de acordo com os interesses dos inimigos. Nunca dantes, na história do Brasil, se estereotipou uma palavra como se estereotipou a palavra corrupção. Hoje até corrupto usa essa palavra em seu próprio benefício. Como é o caso da TV Globo com sua fraude no fisco.
É claro que o Deus dos três atributos sabe que se trata de um quadro clínico clássico de megalomania, essa tentativa de reles mortais, por reflexos, pretenderem seus atributos. Por isso, Ele não dá a menor pelota. Ele sabe que esse quadro por si mesmo mostra a dor desses pobres e infelizes mortais que carregam servidão a insegurança, o medo e a insignificância. Até que os vermes venham por fim ao desespero de terem existido em dupla ilusão.

Fonte: www.afinsophia.com

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

TRT AUTORIZA USO DE FILMAGEM PARA DEMISSÃO

Dois funcionários de uma empresa de segurança e transporte de valores não conseguiram reverter na Justiça a demissão por justa causa, baseada em filmagens. Ao registar o cotidiano deles, sem que soubessem, o empregador flagrou os trabalhadores cometendo vários atos considerados reprováveis. Apesar de a filmagem ter ocorrido sem autorização, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) do Espírito Santo considerou lícitas as provas produzidas e, ainda que os dois fossem dirigentes sindicais com estabilidade no emprego, manteve a justa causa. Os vídeos anexados no processo mostram os vigilantes fazendo uso de celular enquanto dirigiam veículos da companhia, bem como utilizando o telefone da empresa de forma indevida. Ainda há imagens que comprovam a utilização do veículo de trabalho para ir à sorveteria e gravações de uma conversa sobre a possibilidade de utilização da estabilidade provisória para alcançar vantagens pessoais. Também foram registrados comentários indevidos relacionados à empresa e à Justiça do Trabalho. Por fim, filmaram os empregados fazendo uma varredura no veículo para encontrar o aparelho de filmagem, junto com outra pessoa que não pertencia à empresa.
 
Com a posse desse material, a companhia resolveu demitir os funcionários por justa causa e entrar com inquérito para apuração de falta grave dos vigilantes. Na Justiça, em primeira instância, o juiz considerou as provas obtidas como ilícitas.
 
Porém, a 2ª Turma do TRT da 17ª Região foi unânime ao conhecer o recurso d a empresa e admitir o uso das provas obtidas com a filmagem. Por outro lado, rejeitaram recurso dos trabalhadores que pediam indenização por danos morais por terem sua privacidade violada ao serem filmados sem seu consentimento.
 
Segundo a decisão, como não havia outra maneira de monitorar os ocorridos dentro do veículo durante as atividades externas, isso justificaria “a instalação de vídeo monitoramento, GPS, de outros dispositivos de segurança, até por se tratar de empresa de segurança patrimonial”. Por fim, manteve a justa causa por ter havido quebra de fidúcia (confiança). Isso porque os dois funcionários, ao serem filmados fazendo uma varredura no veículo da empresa, permitiram a participação de terceiros estranhos, para localizar as câmeras.
 
Para o advogado que defendeu a empres a Pedro Andrade, da Rossi e Sejas Advogados, a decisão traz um importante precedente. Até porque a jurisprudência majoritária do TRT do Espírito Santo tem sido no sentido de não admitir essas provas, caso o empregado não tenha ciência da câmera. “A finalidade maior dessas filmagens era a segurança dos próprios funcionários durante a atividade. Porém, essas provas obtidas não poderiam ser descartadas”, diz.
 
A advogada trabalhista Juliana Bracks, do Bracks & von Gyldenfeldt Advogados Associados, também entende que a decisão é correta. “Não existe privacidade no ambiente de trabalho, desde que isso não invada a intimidade”, afirma. Para ela, seria possível instalar câmeras em todos os locais onde poderiam estar fiscais dentro da empresa. As exceções seriam as cab ines de banheiros e vestiários. Segundo a advogada, o ideal seria avisar que os funcionários estão sendo filmados. “Porém, isso não é motivo para considerar as provas ilícitas.” 
 
Fonte: Valor Economico
 
Fonte Valor Econômico

DEUS ESTÁ MORTO?

Querido leitor, que você esteja bem. Você já se deu conta de que Deus não comanda mais a vida de muitas pessoas como comandava na Idade Média? E que grande parte da humanidade não consulta mais Deus para tomar suas decisões? Deus está vagando por aí, mas, na realidade, ele é apenas uma autoridade invisível.Para mim, por ora, analiso que quando Nietzsche diz que “Deus está morto, nós o matamos”, ele não está pregando o ateísmo. Ele apenas está constatando a perda da força da religiosidade naquele tempo, lugar, relação e circunstância. A força da religiosidade é você conferir a uma entidade o poder sobre você.

O que provavelmente Friedrich Nietzsche queria dizer é que as pessoas não são tão crédulas como elas se dizem ser. E que muitos ficam esperando que Deus faça por eles ou por nós algo que é de nossa responsabilidade e não de Deus. Passam a ser objetos, deixam de ser sujeitos. Você possivelmente deve conhecer pessoas que ficam invocando Deus até para ajuda-lo a pagar a parcela do crediário que, por sua desorganização, agora quer transferir para Javé a responsabilidade.

Nietzsche, no seu livro Assim falou Zaratustra, ele fala do “além homem”, ou seja, que o homem não é apenas o que muitos naquele contexto afirmavam ser. “Deus está morto, nós o matamos”. Quantas pessoas que você conhece hoje, que se diz religiosa, consulta Deus para tomar suas decisões? Poucas? Naquela época muitas, porém, ali estava se iniciando um movimento que questionava sobre a autoridade de Deus e foi isso que Nietzsche constatou.

Vamos a alguns exemplos sobre o que Nietzsche escreveu: Um deles é na arte. Basta você observar a arte medieval e verá que na Idade Média a arte era sacra e na Idade Moderna a arte migra para o surrealismo. Ou seja, sai a teologia e entra a poesia.



Outro exemplo é a ciência medieval, que era baseada na teologia e reinava sobre ela. Hoje, nas universidades modernas, constata-se que a teologia quase desapareceu e que o foco são as matérias técnicas, engenharia, medicina, direito.

A perda da força da religiosidade é a perda da força de Deus. Para Nietzsche, aquele Deus da Idade Média está definhando e morrendo, é questão de tempo.
 
Diferente da religiosidade, a religião está aí com uma vitalidade até incompreensível, mas fora do mundo da ciência, das fábricas, das usinas, das armas, do dinheiro, dos bancos, da propaganda, da venda, da compra, do lucro. É compreensível que poucos pais sonhem com a carreira sacerdotal para seus filhos.
O grande filósofo, teólogo e psicanalista, Rubem Alves, escreve que para perguntas como: “Deus existe? A vida tem sentido? A morte é minha irmã?” a alma religiosa só pode responder: “Não sei. Não sei”. E continua o filósofo: “Não sei, mas desejo ardentemente que assim seja e me lanço inteiro porque é mais belo o risco ao lado da esperança que a certeza ao lado de um universo frio e sem sentido...”. Eu comungo com Rubens Alves.

Para Nietzsche, Deus está morto, e isso era assim para Nietzsche. E para você, Deus está morto?

Beto Colombo