Diante de algumas situações do dia a dia, é interessante ter a percepção de como 'congelamos' alguns conceitos internalizados e os reproduzimos às vezes sem traduzi-los para a dimensão que realmente estamos. Atrevo-me aqui em 'brincar' com a definição de distancia. A geometria em sua linguagem corrente define distância como a medida da separação de dois pontos, entre dois objetos ou pessoas. Penso sobre esta definição e me surge uma questão: E entre duas pessoas, podemos aplicar também o conceito geométrico de distancia? A meu ver sim, porém apenas do ponto de vista material. Penso que quando entramos na dimensão subjetiva das emoções, lembranças e da imaginação os pontos físicos e estáticos desaparecem e nossas referencias de medida esvaem-se como a agua entre os dedos das mãos. Para alguns a distancia não os separa de outras pessoas, ou até mesmo de lugares ou coisas.
Tive esta sensação quando num dia ao compartilhar por e-mail outro artigo com alguns amigos, por surpresa recebi outros e-mails como resposta, e dentre estes um me chamou atenção: O e-mail do Altair, popularmente conhecido como 'Cabeça'. Este meu amigo e ex-colega de trabalho de forma saudosa escreveu da saudade que sentia daquela equipe de amigos da qual trabalhamos juntos, e questionava por que muitos amigos se afastam por causa da distancia?! Na mesma hora respondi a ele: A distancia é subjetiva amigo! Explico: No instante em que recebi, 'processei' e comecei a responder a mensagem do 'Cabeça' lembrei instantaneamente de uma cena do filme 'Cruzada', onde o personagem 'Balian', interpretado por Orlando Bloom, argumentava em favor de sua falecida esposa, sentenciada ao inferno por um religioso, por que ela teria tirado a própria vida após ter perdido seu filho no parto. Interpelado, o personagem argumentou: 'Como pode estar no inferno se ela não sai das minhas lembranças?' Bastaram me ficar alguns segundos em silencio, para que as imagens destes meus amigos viessem em minha mente, e de repente estavam todos eles ali, em meu imaginário, mas bem na minha frente.
A filosofia clinica chama este movimento de deslocamento longo, que se baseia na capacidade do individuo de imaginar-se longe no tempo, ou trazer fatos do seu passado distante para perto de si. Este aspecto da estrutura do pensamento pode para algumas pessoas, proporcionar momentos de refrigério, de saudosismo ou até de nostalgia. Alguns ao contrario podem sentir-se desconfortáveis ao relembrarem momentos difíceis ou ruins de sua historicidade. A minha experiência neste caso foi muito positiva, pois o convívio com esta turma da qual escrevo trata-se de uma boa lembrança, de um tempo muito bom, de amigos que pareciam irmãos, de dias que pareciam que não tínhamos problemas. Na verdade para mim a maioria dos problemas só existe no momento presente. Após superados ou dissolvidos permanece aquilo que é positivo. Ao lembrar estes amigos me veio à imagem nítida do Altair 'Cabeça' rindo e fazendo piada com o Marcos 'Sabão', que por sua vez imitava o 'seu' Zeca Rech e fingia rasgar os relatórios de auditoria na frente do chefe, tudo pra fazer os outros rirem. Quanto o mais poderíamos lembrar a respeito do nosso passado se conseguissemos focar os olhos de nosso imaginário nos momentos positivos e agradáveis de nossa memoria. Para mim, poder revisitar o dia de ontem e deixar a lupa que aumenta os defeitos e as limitações do outro no dia presente, pode ser uma maneira interessante, para quem sabe, reatar relacionamentos quebrados, aceitar algumas diferenças, reaproximar-se de alguém que foi ou é querido, nem que seja na lembrança e por alguns segundos. Este pode ser o primeiro passo para alcançar outros níveis de maturidade e lidar com a distância daqueles que amamos ou com as ausências indesejadas forçadas pela história e natureza da vida. Para mim, vale a pena tentar.
Por André Topanotti - Criciúma/SC - 28/04/2012.