
Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito
sofrer pedras e setas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja; Ou
insurgir-nos contra um mar de provações e em luta pôr-lhes fim? Morrer... Dormir:
não mais.
Erroneamente algumas pessoas usam a expressão para vincular a situação a um
pensamento existencial de alguém que está a pensar sobre si, sua origem ou
futuro destino. Engano: Hamlet precisa tomar uma decisão entre ter determinada
consciência e assumir os riscos pelo conhecimento adquirido, ou não, “dormir” e
apenas deixar o mundo decidir por si. Na imaginação popular a fala é
pronunciada por Hamlet segurando a caveira de Yorick, embora
as duas ações estejam longe de si no texto da peça. Também é importante
dizer que Hamlet não está sozinho no palco: Ofélia, Polônio e o
Rei, outros personagens estão escondidos na cena, e ainda existe a dúvida debatida por diversos editores sobre
o fato de Hamlet ver ou não o Rei e Polônio. Caso ele realmente o esteja vendo,
talvez tenha pronunciado "indiretas" através de suas metáforas.
Por este motivo trago ao momento uma situação cotidiana que me
desconcertou dia destes: Depois que publiquei no blog o artigo “O Silencio do Diretor”,
texto em que abordo a redução do "eu" em papéis existenciais como “gerente”,
“diretor”, o profissional de sucesso, recebi uma crítica de um amigo próximo. Ele perguntou-me: “Por que quando tu mandas o email pra mim tu assinas com teu cargo
embaixo?” Respondi dizendo que aquela identificação é padrão dos e-mails
da empresa e ela aparece assim que começamos a digitar o email. Ele continuou me
provocando: “Cuida, porque como tu mesmo escreveste dia destes, você não é só
aquilo que você se identifica no email.” Então... Entendi que eu não
sou o tal coordenador de RH que me identificava no email. Na verdade hoje eu “estou”
coordenador, por tomar uma decisão de junto com outras pessoas fazer parte
daquele determinado time. Amanhã ou num futuro próximo posso deixar a empresa. Exemplo de que apenas "estamos" ocorre quando algumas pessoas são demitidas e sentem que perderam o sobrenome. É comum quando liga-se para algum estabelecimento comercial e depois da identificação do nome, a telefonista questiona: "seu fulando" da onde?... Fica então aquele silêncio... A empresa passou a ser o sobrenome do "fulano". Será que eu "sou" este que se identifica pelo cargo?

Força e virtude amigos!
Por André Topanotti, Criciúma/SC, 28/08/2012.