Hoje pela manhã, na aula da pós graduação em filosofia clínica, a profª Marisa Niederauer trabalhou com a turma o texto "Fora de contexto", de autoria de Martha Medeiros publicado em 01-08-2012 na coluna que leva seu nome no Jornal Zero Hora de Porto Alegre/RS. O tema em discussão era ética e a filosofia clínica, e a idéia central é orientar nossas ponderações sempre a partir de um contexto amplo, evitando os "recortes" que por vezes nos levam a interpretações equivocadas. Muito bom, e para mim vale a pena a reflexão.
Força e virtude amigos!
André Topanotti, Criciúma 04 de Agosto de 2012.
Por: Martha Medeiros
A grande maioria de jornais e revistas traz hoje uma sessão que é das mais
populares: são as frases destacadas de políticos, artistas, empresários e demais
notáveis. A pessoa deu uma longa entrevista e dela é pinçada uma pequena
declaração que vai para o hall das “frases da semana”. Quem não lê? Todo mundo
lê e adora.
Algumas frases são fortes, outras divertidas, há as ridículas, as burras, as geniais. Mas todas, absolutamente todas correm o risco de estar descaracterizadas. Porque aquilo que é subtraído do contexto ganha projeção, para o bem ou para o mal. E isso, por si só, é uma forma sutil de manipular o leitor.
Em tudo há um contexto. No seu pedido de demissão, na sua defesa dos animais, na sua confissão para o padre, no seu desabafo para o analista, na sua briga de casal, na sua campanha política, até na escolha da roupa que você vai vestir pela manhã. Cada atitude, cada escolha, cada argumentação, cada lamúria está vinculada a uma série de outras coisas que orbitam em volta do assunto principal. Não existe “não vem ao caso”. Tudo vem ao caso.
A namorada, depois de aprontar muito, diz que você é o homem da vida dela. Essa frase, sozinha, reconstitui relações, mas e o contexto todo, onde fica? Seu chefe considera você um ingrato por desligar-se da empresa de uma hora para a outra, mas e a quantidade de sapos que você engoliu por meses, não explica?
Algumas frases são fortes, outras divertidas, há as ridículas, as burras, as geniais. Mas todas, absolutamente todas correm o risco de estar descaracterizadas. Porque aquilo que é subtraído do contexto ganha projeção, para o bem ou para o mal. E isso, por si só, é uma forma sutil de manipular o leitor.
Em tudo há um contexto. No seu pedido de demissão, na sua defesa dos animais, na sua confissão para o padre, no seu desabafo para o analista, na sua briga de casal, na sua campanha política, até na escolha da roupa que você vai vestir pela manhã. Cada atitude, cada escolha, cada argumentação, cada lamúria está vinculada a uma série de outras coisas que orbitam em volta do assunto principal. Não existe “não vem ao caso”. Tudo vem ao caso.
A namorada, depois de aprontar muito, diz que você é o homem da vida dela. Essa frase, sozinha, reconstitui relações, mas e o contexto todo, onde fica? Seu chefe considera você um ingrato por desligar-se da empresa de uma hora para a outra, mas e a quantidade de sapos que você engoliu por meses, não explica?
Você é considerado um sequelado por descer pelo elevador do
prédio de calça laranja, blusão pink e óculos de lentes verdes, mas alguém
levará em consideração que você é um artista performático? Você diz para o
analista que seu pai a ignora, e o analista precisa acreditar em você, mas
jamais lhe dará alta até que descubra o contexto. O contexto é soberano, o
contexto é revelador, o contexto não pode ser ignorado, assim na vida, assim na
imprensa. Como destacar uma ironia sem contextualizá-la? A ironia soará
grosseira. E aquele que ao ser entrevistado para a TV estava visivelmente
brincando, mas que por escrito pareceu estar falando sério? E o comentário dito
no entusiasmo do momento, sem compromisso, que ganha ares de profetização?
Falou, imprimiu, já era.
Explicar o contexto exige tempo, exige dedicação, exige compromisso, e está tudo em falta: tempo, dedicação, compromisso. Quer-se o bombástico de deglutição fácil. Quer-se o vexame público, o mico, a constatação constrangedora, a genialidade de pronta-entrega, quer-se o impacto imediato, sem olhar para os lados. O contexto são os lados ignorados.
Eu leio essas “frases da semana”, você também lê. Mas, na falta da contextualização, não percamos o critério. Acreditemos com um olho fechado e outro bem arregalado.
Explicar o contexto exige tempo, exige dedicação, exige compromisso, e está tudo em falta: tempo, dedicação, compromisso. Quer-se o bombástico de deglutição fácil. Quer-se o vexame público, o mico, a constatação constrangedora, a genialidade de pronta-entrega, quer-se o impacto imediato, sem olhar para os lados. O contexto são os lados ignorados.
Eu leio essas “frases da semana”, você também lê. Mas, na falta da contextualização, não percamos o critério. Acreditemos com um olho fechado e outro bem arregalado.
Texto de autoria de Martha Medeiros, publicado no ZH de 01-08-2012.
Muito interessante! Por isso que uma mesma discussão gera observações diferentes, pois depende do contexto em que o observador se posiciona. Tudo é muito relativo...
ResponderExcluirObrigado pela participação Ana!
ExcluirEstamos juntos!
É fundamental fazermos escolhas de acordo com o contexto em que estamos inseridos, muito bem! Abraço! Psicólogo Ederbal
ExcluirHá tantos quadros na parede
ResponderExcluirHá tantas formas de se ver o mesmo quadro
Há palavras que nunca são ditas
Há muitas vozes repetindo a mesma frase:
Ninguém é igual ninguém
Me espanta que tanta gente minta
(descaradamente) a mesma mentira
São todos iguais
E tão desiguais
uns mais iguais que os outros
Há pouca água e muita sede
Uma represa, um apartheid
(a vida seca, os olhos úmidos)
Entre duas pessoas
Entre quatro paredes
Tudo fica claro
Ninguém fica indiferente