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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

CURRICULUM MORTIS

Estive participando recentemente de um congresso e tive a oportunidade de ouvir Domenico de Masi, renomado sociólogo italiano, falando sobre as grandes macrotendências do mundo até 2020. Sobre estas tendências posso falar um pouco mais em outros artigos, neste porém pretendo abordar uma em especial. Antes preciso falar um pouco sobre Domenico de Masi: Nascido em Rotello, na província de Campobasso no sul da Itália no dia 01/fev/1938, residiu em Nápoles, Milão e Roma e aos dezenove anos já escrevia para a revist a Nord e Sud artigos de sociologia urbana e do Trabalho. Aos 22 anos lecionava na Universidade de Nápoles e mais recentemente assumiu o posto de professor de sociologia do trabalho na Universidadede La Sapienzia de Roma. Escreveu diversos livros, alguns deles tidos como revolucionários, entre eles se destacam: "Desenvolvimento Sem Trabalho", "A Emoção e a Regra", "O Ócio Criativo" e "O Futuro do Trabalho". Posto isto foi reconfortante ver um homem com a experiência de vida e 'tempo de estrada' como Domenico se apresentando com tal vigor, disposição e uma lucidez fantástica, discorrendo com tanta propriedade sobre o comportamento do homem sua sociedade, cultura e tendencias. Algum tempo atrás nunca imaginaria que um dia iria me imaginar 'envelhecido', mas durante a palestra daquele 'mestre vivido' eu me peguei pensando: Quero envelhecer como 'esse cara'. Não que Domenico chame a atenção por seu físico “conservado”. Falo de sua mente, uma “cabeça” jovem, aberta ao saber. Aqueles que puderam ouvi-lo naquele congresso viram-no brincando e galanteando sua tradutora de uma forma respeitosa, leve e descontraída, mas que provavelmente nenhum garotão de menos de duas décadas de vida saberia como falar a uma mulher. Coisas que só o tempo e a experiência ensinam a um homem sábio. Ouvindo Domenico falar eu percebi o quanto e notável você olhar para o passado e perceber o que o tempo fez em nós e a nossa volta, olhando pelas marcas daquilo que se foi deixado. Domenico de Masi escreveu sua mensagem de forma muito simples porem marcante na minha memoria pessoal. Falou naqueles 120 minutos de projeções futuras, contou historias do passado e como isto interferiu no nosso comportamento de hoje.

Quando Domenico falou sobre competências e carreira foi interessante à expressão que usou: "Curriculum Mortis"  (curriculo do que morreu) fazendo um ajuste ao termo currículum vitae (curriculo da vida - profissional, neste caso) referindo-se a necessidade de atualização constante que o mercado de trabalho exige hoje do profissional moderno. Pense bem: Aquilo que é colocado no curriculo para o selecionador de pessoas relata o que no passado foi vivenciado como experiência do profissional, os cursos que este cidadão realizou e sua formação acadêmica. São informações importantes sim, mas que é relato do passado. Agora quem garante que as competências de ontem são as mesmas que o mercado de trabalho exige hoje, ou mais desafiador ainda: que continuará a exigir no amanhã?! Por esta razão precisamos nos questionar "dioturnamente" se realmente nosso currículo está vivo ou se está morrendo. A propósito, quando foi a data de conclusão da sua faculdade mesmo? Quando foi o último curso que você fez? Por acaso está esperando a empresa pagar um outro curso pra você? Será que o seu curriculo não está indo pra UTI não? Cuidado!



Daí é que volto a Domenico de Masi: Penso quais as competências que este homem brilhante de 84 anos desenvolveu ao longo de sua carreira para mesmo depois de décadas como pesquisador, professor, sociólogo e escritor, tornar-se um dos mais requisitados palestrantes e conferencias do mundo? Se você olhar ao seu redor, consegue ver pessoas como Domenico em seu dia a dia? Minha percepção é de que somos carentes de referências como a deste ilustre professor, ou ainda Oscar Niemeyer que aos seus 104 anos de idade atravessou o último século revolucionando a arte moderna com suas criações em formas arrojadas, renovando-se em inspiração a cada nova obra. Podemos observar, sentar aos pés destes mestres e ouvi-los atentamente pois não há, pelo menos para mim, melhor lição de sabedoria do que aprender não com os nossos erros, mas com os erros e acertos dos outros. Para tanto recomenda-se o exercício do "ouvir humilde", aberto ao novo aprendizado. Quem sabe esta pode ser uma maneira de mantermos realmente o nosso "curriculum vitae", quero dizer, mantermos a nossa "experiência bem viva"!

Pense nisto e faça uma excelente quarta feira!


Por André Topanotti - 06/06/2012 - Arapongas/PR

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