Querido leitor, paz! Hoje vamos refletir sobre Deus e o cristianismo. O artigo de hoje vem sendo protelado há alguns meses. Parte de mim dizia para escrever e outra parte dizia para não escrever, mas, enfim, depois de uns bons meses, decido escrever. Como o leitor sabe, escrever diariamente sobre questões filosóficas, econômicas, teológicas, enfim, sobre questões gerais, sem dar um conselho, um direcionamento, tudo isso é uma tarefa desafiadora. E tenho tentado nesses quase dois anos do programa Como o Mundo me Parece. E, na grande maioria das vezes, conseguido lograr êxito. Eu acho. Tenho observado durante todo este tempo que quando toco no tema espiritualidade e acabo entrando na religiosidade, menciono, é claro, o mestre Jesus Cristo. Pouco ou quase nada de ponderações. Mas que em outras ocasiões, quando também menciono outros iluminados como Krishna, Maomé, Buda, dentre outros, aqui, somente aqui, quando não falo do cristianismo com exclusividade, recebo críticas pesadas. Confesso que isso me mexeu muito e procurei refletir sobre a questão sem fazer o mesmo jogo de alguns de meus interlocutores, que é jogar com o preconceito.
Minha reflexão mais aguda continuou até a semana
passada, quando acalmei minha alma ao me deparar com um livro esclarecedor cujo
título é instigante: refiro-me ao livro “Deus não é Cristão”. Escrito pelo
arcebispo da Igreja Anglicana da África do Sul, Desmond Tutu, o livro “Deus não
é Cristão” é uma boa fonte aos homens de boa vontade, a perceber que Jesus é
verbo, não substantivo. Desmond Tutu está longe de ser um líder cristão
convencional, já que sua presença na mídia é constante, mas não dirigindo
programas evangelísticos de TV ou vendendo bíblias e livros. Sua imagem e sua
história estão ligadas as lutas pacíficas por igualdade social e racial, pela
dignidade do ser humano, pela tolerância e, é claro, pela paz, causa que lhe
valeu o Prêmio Nobel da Paz em 1984. Tutu não tem medo de gerar debates em torno
de um tema tão delicado, pois, para ele, há uma insistência milenar do ser
humano em se arvorar como “dono da verdade”. Quando escreve que Deus não é
cristão, o arcebispo, que é cristão, faz questão de ressaltar que a obra não se
trata de um livro contra o cristianismo, e sim, uma forma franca de demonstrar
que é possível identificar manifestações da misericórdia e do amor divino em
todo o mundo, em diversas religiões e líderes iluminados.
Em outras palavras,
Deus não é patrimônio único de cristãos, muçulmanos, budistas, judeus ou fiéis
de quaisquer credos, mas uma realidade incontestável em toda atitude de graça.
Mesmo que o filho não siga as orientações do pai e que até não reconheça o
criador como pai, o filho vai ser sempre filho. Ou um é mais filho que o outro?
Faço minhas as palavras de Desmond Tutu, como privatizar, como deixar exclusivo
algo que é universal? Afinal de contas, boa parte da humanidade não tem Cristo
como mestre e outra parte sequer ouviu falar na sua vida, nos seus milagres. Ao
rezar “meu Deus”, talvez pudéssemos refletir mais profundamente sobre o “nosso
Deus”, “o Pai nosso”, pois em sua causa ainda se faz guerras, matou-se milhões
de pessoas e se justificou a exploração econômica como a escravidão quando se
dizia que o negro não tinha alma. Deus não tem chancela, não tem agremiação, não
tem país. Deus é a união de todos os “Eus”, por isso De Eus, por isso Deus. Que
tenhamos sabedoria para respeitar as diferenças e que estas nos levem cada vez
mais ao Pai, embora existam muitas moradas na sua Casa. É assim como o mundo me
parece hoje.
E você, o que pensa sobre a exclusividade de Deus?
Por: Beto
Colombo - Artigo veiculado na Rádio Som Maior FM no dia 22/06/2012 e no Jornal A Tribuna no dia 23/06/2012.
Acho que é muito típico do cristianismo e também humano, se apoderar da exclusividade de conceitos como verdade e Deus. É presunçoso demais para o cristão ou para qualquer um, presumir que apenas o seu ângulo de visão é o correto ou verdadeiro. Em nome dessa arrogância, se comete crimes como o autor do texto menciona.
ResponderExcluirSe Deus é Cristão, se Deus é brasileiro, se Deus é gaúcho... isso só tenta reduzir Deus a um rótulo ao qual o conceito de Deus é muito maior e até desconhecido por nós. É uma espécie de bairrismo - "O meu bairro é melhor que o seu!" - e isso se repete em escalas maiores como religião e nacionalidade. É olhar do pequeno e limitado, e não se permitir olhar do macro, do maior e do conjunto.
Parabéns pelo comentário Anderson. Muito legal, ao qual também sou partidário, sem diminuir é claro, a experiência que o próprio Deus nos dá, de relacionamento com Ele. Estas experiências nos deixam indubitavelmente ligado à Ele, tendo então que admitir sua inexorável existêcia, que está acima de todas as coisas, inclusive de nossa pífia razão para poder compreender. Ainda bem!
ResponderExcluirpaz, força e virtude amigo!