Depois que iniciei os estudos
da pós-graduação em filosofia clínica passei a me conter um pouco antes de
falar, sendo talvez melhor ouvinte e pelo menos mais tardio em emitir opiniões,
consequentemente menos 'tagarela'. E olha eu era um 'tagarela' de naipe maior.
Quando se tratava de emitir uma opinião eu sempre tinha a minha "meio
prontinha". Sabe aquela resposta que você ouviu de alguém em determinada situação
e gostou dos argumentos expostos? Então, daí por diante, sem muito questionar
ou aprofundar os argumentos, tomava pra mim a resposta e saia a repeti-la
'pelas ruas'. Isto é comum na formação dos pré-conceitos, dos quais as religiões
são especializadas em fabricar. Pré-conceito é um dos elementos da estrutura de
pensamento de um indivíduo, e pode criar pontos cegos em nosso olhar em direção
ao próximo, determinantes para distorcer o que este próximo realmente é, ou que
pode vir a ser.
Uma discussão que ouvi dia
destes foi sobre o atendimento comercial em nossa cidade e região. A crítica
era uníssona aos vendedores do comercio que ficam praticamente nas calcadas das
lojas a espreita do primeiro olhar interessado para então atacar sua vítima
consumista como se fosse uma presa. "Mal se consegue respirar e logo tem alguém
te disputando para atender. Não há como ficar a vontade..." disse
uma das pessoas que estava na discussão, quando de pronto outra interpelou: “É por
isto que eu gosto de comprar em grandes lojas de departamento, a gente mesmo se
atende e não tem vendedor nenhum incomodando. Eu entro e saio e ninguém me
aborrece.” Noutra oportunidade, como bom tagarela, provavelmente
concordaria com as críticas que estava ouvindo e acrescentaria ainda minhas
experiências negativas neste sentido, pois não muito diferente dos demais
também tinha esta percepção, porém existem pelo menos alguns outros aspectos a avaliar
nesta relação, e seus infalíveis reflexos.
O primeiro vem de outro
conceito que podemos considerar, tomando o cuidado é claro de não generalizá-lo
para novamente cair em erro: Num treinamento sobre gestão e liderança eu ouvi
de um renomado palestrante a seguinte expressão: “Comportamento gera comportamento”.
Naquela oportunidade o objetivo do palestrante era ilustrar a responsabilidade
que o líder tem em dar exemplo a seus liderados e como o seu exemplo tem poder
de “conduzir” e influenciar no comportamento de sua equipe. Acabei por fazer uma
relação inevitável com o caso em questão: Quem condicionou aquele comportamento
nos vendedores? Foram seus “patrões” ou seus clientes? Quem é o “líder” nesta
relação? De quem provém a maior parte da remuneração deste profissional do
comércio? Uma pausa provocativa para que o silêncio lhe responda.
A meu ver, o próprio sistema consumista
provocou a situação descrita acima. A concorrência e a disputa comercial
chegaram a tal ponto que muitas vezes se faz qualquer coisa para chamar a
atenção do cliente e em contrapartida este cliente torna-se cada vez mais
exigente e detalhista, tornando a relação extremamente mecânica e superficial,
para não dizer fria e impessoal. O fato de muitos preferirem se “auto servir”
em grandes magazines é um sinal de que este modelo de relacionamento com o
cliente está desgastado e um bom profissional de vendas no comércio poderá em
pouco tempo tornar-se uma função em extinção. Esta mudança no hábito de consumo
é o segundo aspecto que percebo ser importante considerar: O modelo self-service.
Este também será (se já não está sendo) alvo de críticas quando o cliente se
sentir “solitário” dentro de uma loja cheia de pessoas e sem ninguém que o
ajude. Provavelmente perguntaremos: Para onde foram os vendedores? Ou não... Podemos
chegar à conclusão que está melhor se auto atender. Daí, que se preparem e procure
outra profissão muitas das pessoas que hoje atendem no comércio. Duro não?! Nos
cenários que apresentei o que precisamos ter em mente é que o sistema de
consumo é que será o implacável juiz da relação entre vendedores e consumidores
“compulsivos”. A esperança é que estou descrevendo apenas algumas hipóteses, e
que na verdade outras tantas mais ainda podem ser estudadas. Em uma sociedade
em constante mudança, acredito que somos parte desta mudança e parte também dos
problemas que a mudança precisa resolver. Para mim, vale a pena pensar, avaliar
e depois de muito refletir, ainda assim estar aberto para discutir um pouco
mais.
Tenha e faça uma ótima semana!
Por André Topanotti - Criciúma/SC - 10/06/2012
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