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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

domingo, 10 de junho de 2012

VENDEDOR COMPULSIVO

Depois que iniciei os estudos da pós-graduação em filosofia clínica passei a me conter um pouco antes de falar, sendo talvez melhor ouvinte e pelo menos mais tardio em emitir opiniões, consequentemente menos 'tagarela'. E olha eu era um 'tagarela' de naipe maior. Quando se tratava de emitir uma opinião eu sempre tinha a minha "meio prontinha". Sabe aquela resposta que você ouviu de alguém em determinada situação e gostou dos argumentos expostos? Então, daí por diante, sem muito questionar ou aprofundar os argumentos, tomava pra mim a resposta e saia a repeti-la 'pelas ruas'. Isto é comum na formação dos pré-conceitos, dos quais as religiões são especializadas em fabricar. Pré-conceito é um dos elementos da estrutura de pensamento de um indivíduo, e pode criar pontos cegos em nosso olhar em direção ao próximo, determinantes para distorcer o que este próximo realmente é, ou que pode vir a ser.

Uma discussão que ouvi dia destes foi sobre o atendimento comercial em nossa cidade e região. A crítica era uníssona aos vendedores do comercio que ficam praticamente nas calcadas das lojas a espreita do primeiro olhar interessado para então atacar sua vítima consumista como se fosse uma presa. "Mal se consegue respirar e logo tem alguém te disputando para atender. Não há como ficar a vontade..." disse uma das pessoas que estava na discussão, quando de pronto outra interpelou: “É por isto que eu gosto de comprar em grandes lojas de departamento, a gente mesmo se atende e não tem vendedor nenhum incomodando. Eu entro e saio e ninguém me aborrece.” Noutra oportunidade, como bom tagarela, provavelmente concordaria com as críticas que estava ouvindo e acrescentaria ainda minhas experiências negativas neste sentido, pois não muito diferente dos demais também tinha esta percepção, porém existem pelo menos alguns outros aspectos a avaliar nesta relação, e seus infalíveis reflexos.

O primeiro vem de outro conceito que podemos considerar, tomando o cuidado é claro de não generalizá-lo para novamente cair em erro: Num treinamento sobre gestão e liderança eu ouvi de um renomado palestrante a seguinte expressão: “Comportamento gera comportamento”. Naquela oportunidade o objetivo do palestrante era ilustrar a responsabilidade que o líder tem em dar exemplo a seus liderados e como o seu exemplo tem poder de “conduzir” e influenciar no comportamento de sua equipe. Acabei por fazer uma relação inevitável com o caso em questão: Quem condicionou aquele comportamento nos vendedores? Foram seus “patrões” ou seus clientes? Quem é o “líder” nesta relação? De quem provém a maior parte da remuneração deste profissional do comércio? Uma pausa provocativa para que o silêncio lhe responda.



A meu ver, o próprio sistema consumista provocou a situação descrita acima. A concorrência e a disputa comercial chegaram a tal ponto que muitas vezes se faz qualquer coisa para chamar a atenção do cliente e em contrapartida este cliente torna-se cada vez mais exigente e detalhista, tornando a relação extremamente mecânica e superficial, para não dizer fria e impessoal. O fato de muitos preferirem se “auto servir” em grandes magazines é um sinal de que este modelo de relacionamento com o cliente está desgastado e um bom profissional de vendas no comércio poderá em pouco tempo tornar-se uma função em extinção. Esta mudança no hábito de consumo é o segundo aspecto que percebo ser importante considerar: O modelo self-service. Este também será (se já não está sendo) alvo de críticas quando o cliente se sentir “solitário” dentro de uma loja cheia de pessoas e sem ninguém que o ajude. Provavelmente perguntaremos: Para onde foram os vendedores? Ou não... Podemos chegar à conclusão que está melhor se auto atender. Daí, que se preparem e procure outra profissão muitas das pessoas que hoje atendem no comércio. Duro não?! Nos cenários que apresentei o que precisamos ter em mente é que o sistema de consumo é que será o implacável juiz da relação entre vendedores e consumidores “compulsivos”. A esperança é que estou descrevendo apenas algumas hipóteses, e que na verdade outras tantas mais ainda podem ser estudadas. Em uma sociedade em constante mudança, acredito que somos parte desta mudança e parte também dos problemas que a mudança precisa resolver. Para mim, vale a pena pensar, avaliar e depois de muito refletir, ainda assim estar aberto para discutir um pouco mais.


Tenha e faça uma ótima semana!



Por André Topanotti - Criciúma/SC - 10/06/2012



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