Olá...
Interessante como uma mensagem pode ser interpretada de
diversas maneiras, quando não sutilmente distorcida pelo foco de quem a deseja
conduzir para outro sentido. As religiões, por exemplo, estão repletas de situações
que ilustram bem o que pretendo tratar neste texto. Uma amostra é o surgimento
constante de denominações religiosas que divergem na maioria dos casos por
detalhes doutrinários que para alguns leigos chegam a ser imperceptíveis quando não
irrelevantes frente ao desafio de tratar algo tão amplo e complexo como a
espiritualidade do homem e sua relação com Deus. Ao visitar Israel no início
deste ano uma das minhas curiosidades era conhecer a tal agulha pela
qual Jesus declarou que não seria capaz de passar um camelo, e que na referida parábola
ilustra a dificuldade do homem rico em alcançar o Reino de Deus por causa
do apego as coisas materiais, da fortuna, do dinheiro. Em filosofia clinica
este método de abordagem é chamado de vice-conceito, onde se usa um
exemplo alternativo como um filme, um 'causo', uma ilustração para explicar determinada mensagem.
Voltando a falar sobre a viagem a Israel pude conhecer a
agulha. Trata-se de varias fendas que existem nas muralhas de Jerusalém por
onde os soldados atiravam as flechas e derramavam óleo quente sobre os inimigos
que tentassem invadir a fortaleza durante as batalhas. Realmente não existe
nenhuma possibilidade de um camelo passar pela agulha. Observando a altura onde
eram abertas as fendas da agulha, me peguei argumentando comigo mesmo: Qual o
propósito de um camelo ser levado àquela altura para passar pela fenda da
agulha? A meu ver, o mesmo proposito que Deus teria de deixar alguém de fora de
seu Reino: Nenhum! Para mim, creio que esta interpretação de que o dinheiro
leva o homem para o inferno e o distancia de Deus, esteve por muito tempo a serviço
de interesses ligado ao poder e a manipulação das massas, com o intuito de
"conformar" os desamparados em suas necessidades, enaltecendo a
pobreza que segundo este pensamento aproxima a criatura de seu criador.
Certa
vez ouvi de um respeitado religioso que "texto sem contexto é pretexto
para heresia." Para este estudioso interpretar um determinado texto ou versículo
bíblico sem analisar todo capitulo e o contexto onde o mesmo encontra-se, pode induzir alguém ao erro pela omissão de informações. Voltando ao texto do camelo e
a agulha, após usar esta comparação, relatada no evangelho de Mateus capitulo
19 verso 25 o próprio Jesus faz a seguinte declaração nas linhas do verso 27: “Isto
é impossível aos homens, mas a Deus tudo e possível”. Observando então
todo o contexto do ensinamento proposto nesta parábola percebo que Cristo
chama a atenção para que o homem não apegue-se aos bens materiais, mas logo em
seguida reforça a condição de que tudo e possível a Deus e que todos são
chamados ao seu Reino e tratados de forma igual perante Deus. É comum que
a leitura deste texto encerre-se no verso 25 e na condição em que o rico é mandado para o
inferno e para o céu irão os pobres e desafortunados desta terra. Por conta desta visão muitas pessoas veem com preconceito
o papel do empresário, do homem bem sucedido na comunidade, e a miséria é
cultuada como método sacro de purificar a consciência da sociedade hipócrita, das mazelas causada pelo
capitalismo fútil e selvagem que esta mesma sociedade venera. Ora, ate onde consigo entender, Deus não deveria fazer acepção
de pessoas! Porque faria entre o rico e pobre? Em outras sociedades a riqueza
é vista como sinal de que Deus esta abençoando o homem, e este por sua vez esta
usando bem e multiplicando os talentos que Deus lhe conferiu. Lembrando que esta é minha percepção.
Para chegar a este
entendimento precisei abrir mão de meus dogmas, sair de onde estava, ir a mundo de Jesus e perceber a
realidade de onde Ele estava e seu contexto. Quantas vezes interpretamos conteúdos
de algumas mensagens da maneira como nos é conveniente? Quantas vezes colocamos
'no inferno' amigos, conhecidos e pessoas com opiniões diferentes da nossa por
conta de pré-conceitos que apenas ouvimos e simplismente repetimos, às vezes por conveniência, para ficar do lado da maioria e
sem qualquer tipo de análise? Para mim, creio que a reflexão e a busca pelo
entendimento amplo e exaustivo de fundamentos e valores de nossa vida é um dos
caminhos para ver o próximo com mais respeito e alargar o entendimento da
identidade única e exclusiva de cada homem. Quando declaro que sei 'algo' e
delimito o fim das coisas, me afasto daquilo que é eterno e infinito. Quando
digo 'não sei, pode ser...' abro minha mente e coração para receber aquilo que muitos creem ser impossível e insondável. Para mim, vale a pena
tentar.
Por: André Topanotti - Criciúma/SC - 09/05/2012
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