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O objetivo deste blog é discutir idéias, expor pontos de vista. Perguntar mais do que responder, expressar mais do que reprimir, juntar mais do que espalhar. Se não conseguir contribuir, pelo menos provocar.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Camelo e a Agulha

Olá...


Interessante como uma mensagem pode ser interpretada de diversas maneiras, quando não sutilmente distorcida pelo foco de quem a deseja conduzir para outro sentido. As religiões, por exemplo, estão repletas de situações que ilustram bem o que pretendo tratar neste texto. Uma amostra é o surgimento constante de denominações religiosas que divergem na maioria dos casos por detalhes doutrinários que para alguns leigos chegam a ser imperceptíveis quando não irrelevantes frente ao desafio de tratar algo tão amplo e complexo como a espiritualidade do homem e sua relação com Deus. Ao visitar Israel no início deste ano uma das minhas curiosidades era conhecer a tal agulha pela qual Jesus declarou que não seria capaz de passar um camelo, e que na referida parábola ilustra a dificuldade do homem rico em alcançar o Reino de Deus por causa do apego as coisas materiais, da fortuna, do dinheiro. Em filosofia clinica este método de abordagem é chamado de vice-conceito, onde se usa um exemplo alternativo como um filme, um 'causo', uma ilustração para explicar determinada mensagem.

Voltando a falar sobre a viagem a Israel pude conhecer a agulha. Trata-se de varias fendas que existem nas muralhas de Jerusalém por onde os soldados atiravam as flechas e derramavam óleo quente sobre os inimigos que tentassem invadir a fortaleza durante as batalhas. Realmente não existe nenhuma possibilidade de um camelo passar pela agulha. Observando a altura onde eram abertas as fendas da agulha, me peguei argumentando comigo mesmo: Qual o propósito de um camelo ser levado àquela altura para passar pela fenda da agulha? A meu ver, o mesmo proposito que Deus teria de deixar alguém de fora de seu Reino: Nenhum! Para mim, creio que esta interpretação de que o dinheiro leva o homem para o inferno e o distancia de Deus, esteve por muito tempo a serviço de interesses ligado ao poder e a manipulação das massas, com o intuito de "conformar" os desamparados em suas necessidades, enaltecendo a pobreza que segundo este pensamento aproxima a criatura de seu criador.

Certa vez ouvi de um respeitado religioso que "texto sem contexto é pretexto para heresia." Para este estudioso interpretar um determinado texto ou versículo bíblico sem analisar todo capitulo e o contexto onde o mesmo encontra-se, pode induzir alguém ao erro pela omissão de informações. Voltando ao texto do camelo e a agulha, após usar esta comparação, relatada no evangelho de Mateus capitulo 19 verso 25 o próprio Jesus faz a seguinte declaração nas linhas do verso 27: “Isto é impossível aos homens, mas a Deus tudo e possível”. Observando então todo o contexto do ensinamento proposto nesta parábola percebo que Cristo chama a atenção para que o homem não apegue-se aos bens materiais, mas logo em seguida reforça a condição de que tudo e possível a Deus e que todos são chamados ao seu Reino e tratados de forma igual perante Deus. É comum que a leitura deste texto encerre-se no verso 25 e na condição em que o rico é mandado para o inferno e para o céu irão os pobres e desafortunados desta terra. Por conta desta visão muitas pessoas veem com preconceito o papel do empresário, do homem bem sucedido na comunidade, e a miséria é cultuada como método sacro de purificar a consciência da sociedade hipócrita, das mazelas causada pelo capitalismo fútil e selvagem que esta mesma sociedade venera. Ora, ate onde consigo entender, Deus não deveria fazer acepção de pessoas! Porque faria entre o rico e pobre? Em outras sociedades a riqueza é vista como sinal de que Deus esta abençoando o homem, e este por sua vez esta usando bem e multiplicando os talentos que Deus lhe conferiu. Lembrando que esta é minha percepção.

Para chegar a este entendimento precisei abrir mão de meus dogmas, sair de onde estava, ir a mundo de Jesus e perceber a realidade de onde Ele estava e seu contexto. Quantas vezes interpretamos conteúdos de algumas mensagens da maneira como nos é conveniente? Quantas vezes colocamos 'no inferno' amigos, conhecidos e pessoas com opiniões diferentes da nossa por conta de pré-conceitos que apenas ouvimos e simplismente repetimos, às vezes por conveniência, para ficar do lado da maioria e sem qualquer tipo de análise? Para mim, creio que a reflexão e a busca pelo entendimento amplo e exaustivo de fundamentos e valores de nossa vida é um dos caminhos para ver o próximo com mais respeito e alargar o entendimento da identidade única e exclusiva de cada homem. Quando declaro que sei 'algo' e delimito o fim das coisas, me afasto daquilo que é eterno e infinito. Quando digo 'não sei, pode ser...' abro minha mente e coração para receber aquilo que muitos creem ser impossível e insondável. Para mim, vale a pena tentar.

Por: André Topanotti - Criciúma/SC - 09/05/2012

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