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quinta-feira, 3 de maio de 2012

O pai mandado

Olá... 



Eu leciono na universidade e minha mãe no ensino médio então é comum que vez por outra o assunto lá na família acabe nos "causos" de sala de aula. Em meio às diversas histórias e algumas constatações, algo nos fica evidente: A relação aluno e professor mudou muito nos últimos anos. Lembro muito bem dos tempos de guri, de um dia que cheguei em casa reclamando de uma professora e minha mãe, na época ainda uma destas "guerreiras do lar", advertiu-me severamente e disse para obedecer e respeitar a professora. Depois daquele dia, nunca mais tive coragem de reclamar de alguma professora ou professor para meus pais. Tenho em minha lembrança e talvez você também se lembre de algumas “tias” mais disciplinadoras que davam umas palmadas com uma régua de madeira nos bagunceiros, e para os colegas “impossíveis” de se manter em silencio a técnica era o "joelho no milho" no canto da sala. Já no segundo grau ou ginásio como era chamado o ensino médio, o personagem marcante era certo professor de inglês que jogava giz nos dorminhocos e o apagador nos tagarelas. Que dizer então do diretor?! Deus, quando ele aparecia no corredor era como se todos tivessem visto alguma fera felina. Entretanto a grande maioria de nós sobreviveu a todos estas intempéries emocionais de nossos docentes, peculiares na educação dos anos 70, 80 e início de 90. Não que eu concorde com as técnicas, mas reforço que casos como estes existiram, e foram superados. 


Sei também que nesta mesma época muitas crianças eram vítimas de maus tratos, outras tantas forçadas ao trabalho infantil e até exploradas sexualmente, como ainda hoje acompanhamos pela mídia. Percebo que evoluímos neste sentido, graças a algumas ações desenvolvidas por instituições governamentais e ONG´s que tiram da rua muitas crianças e protegem muitas outras em situações de vulnerabilidade social. Considero este um sinal de avanço das relações humanas na nossa dita sociedade organizada, porém alguns efeitos colaterais desta mudança também podem ser percebidos. Sob o consentimento de alguns pais, não é raro certos filhos-alunos ameaçarem seus professores em plena sala de aula na frente dos colegas usando o nome do "Conselho Tutelar".Quando se fala em exigir desempenho escolar a metralhadora destes pais, em alguns casos se volta contra a instituição e seus profissionais. Alguns pais que pretendem "comprar" a educação de seu filho precisam a meu ver ter a consciência que a instituição de ensino transforma o aluno a partir do conhecimento. Educação para mim é papel da família, reforçando o papel do professor, acompanhando as tarefas e trabalhos do seu filho-aluno em casa. Mas que dizer do pai que precisa ser cobrado pela escola para realizar também o seu papel?! Relatos de educadores conhecidos dão conta de que algumas escolas desenvolveram sistemas de controle para que os pais acompanhem o desempenho escolar de seus filhos em casa, algumas motivadas também por conta do histórico de desentendimentos entre estas instituições e seus ditos "pais e alunos-clientes". Talvez enredadas pela visão capitalista na qual está sendo tratada a educação em nosso país, as escolas depois de agremiar muitos "alunos-clientes" passam para situação de refém da própria filosofia mercantil, sendo pressionada pelos contratantes do serviço a "passarem de ano" alunos que não tem condições de serem aprovados, seja por desempenho técnico e muito comum pela indisciplina e mau comportamento. 

Em minha opinião educação não se terceiriza nem cabe à relação cliente x fornecedor para o aluno e professor em sala de aula. A filosofia clínica trata deste tema quando estudamos os papéis existenciais. No papel de cliente o pai ou aluno pode sim ter alguns direitos do ponto de vista negocial com a instituição de ensino, porém não a ponto de comprometer e secularizar o papel fundamental do professor e da escola que é transformar crianças, adolescentes e jovens em cidadãos através do conhecimento. Acompanhar com mais responsabilidade e maturidade o estudo dos filhos, desempenhando um papel maduro e adulto na relação filho/aluno X pai/educador X escola/professor, pode ser em minha opinião, um caminho para não ser o "pai mandado" da história. Para mim, vale a pena tentar.


Por: André Topanotti - Criciúma/SC - 03/05/2012.

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