Eu leciono na universidade e minha mãe no ensino médio então é comum que
vez por outra o assunto lá na família acabe nos "causos" de sala de
aula. Em meio às diversas histórias e algumas constatações, algo nos fica
evidente: A relação aluno e professor mudou muito nos últimos anos. Lembro
muito bem dos tempos de guri, de um dia que cheguei em casa reclamando de uma
professora e minha mãe, na época ainda uma destas "guerreiras do
lar", advertiu-me severamente e disse para obedecer e respeitar a professora.
Depois daquele dia, nunca mais tive coragem de reclamar de alguma professora ou
professor para meus pais. Tenho em minha lembrança e talvez você também se
lembre de algumas “tias” mais disciplinadoras que davam umas palmadas com uma
régua de madeira nos bagunceiros, e para os colegas “impossíveis” de se manter
em silencio a técnica era o "joelho no milho" no canto da sala. Já no
segundo grau ou ginásio como era chamado o ensino médio, o personagem marcante
era certo professor de inglês que jogava giz nos dorminhocos e o apagador nos
tagarelas. Que dizer então do diretor?! Deus, quando ele aparecia no corredor
era como se todos tivessem visto alguma fera felina. Entretanto a grande
maioria de nós sobreviveu a todos estas intempéries emocionais de nossos
docentes, peculiares na educação dos anos 70, 80 e início de 90. Não que eu concorde com
as técnicas, mas reforço que casos como estes existiram, e foram superados.
Sei também que nesta mesma época muitas crianças eram vítimas de maus
tratos, outras tantas forçadas ao trabalho infantil e até exploradas sexualmente,
como ainda hoje acompanhamos pela mídia. Percebo que evoluímos neste sentido,
graças a algumas ações desenvolvidas por instituições governamentais e ONG´s
que tiram da rua muitas crianças e protegem muitas outras em situações de
vulnerabilidade social. Considero este um sinal de avanço das relações humanas
na nossa dita sociedade organizada, porém alguns efeitos colaterais desta
mudança também podem ser percebidos. Sob o consentimento de alguns pais, não é
raro certos filhos-alunos ameaçarem seus professores em plena sala de aula na
frente dos colegas usando o nome do "Conselho Tutelar".Quando se
fala em exigir desempenho escolar a metralhadora destes pais, em alguns casos se volta contra a instituição e seus profissionais. Alguns pais que pretendem
"comprar" a educação de seu filho precisam a meu ver ter a
consciência que a instituição de ensino transforma o aluno a partir do
conhecimento. Educação para mim é papel da família, reforçando o papel do
professor, acompanhando as tarefas e trabalhos do seu filho-aluno em casa. Mas
que dizer do pai que precisa ser cobrado pela escola para realizar também o seu
papel?! Relatos de educadores conhecidos dão conta de que algumas escolas
desenvolveram sistemas de controle para que os pais acompanhem o desempenho
escolar de seus filhos em casa, algumas motivadas também por conta do histórico
de desentendimentos entre estas instituições e seus ditos "pais e alunos-clientes".
Talvez enredadas pela visão capitalista na qual está sendo tratada a educação
em nosso país, as escolas depois de agremiar muitos "alunos-clientes"
passam para situação de refém da própria filosofia mercantil, sendo pressionada
pelos contratantes do serviço a "passarem de ano" alunos que não tem
condições de serem aprovados, seja por desempenho técnico e muito comum pela
indisciplina e mau comportamento.
Em minha opinião educação não se terceiriza nem cabe à relação cliente x
fornecedor para o aluno e professor em sala de aula. A filosofia clínica trata
deste tema quando estudamos os papéis existenciais. No papel de cliente o pai
ou aluno pode sim ter alguns direitos do ponto de vista negocial com a
instituição de ensino, porém não a ponto de comprometer e secularizar o papel
fundamental do professor e da escola que é transformar crianças, adolescentes e
jovens em cidadãos através do conhecimento. Acompanhar com mais
responsabilidade e maturidade o estudo dos filhos, desempenhando um papel
maduro e adulto na relação filho/aluno X pai/educador X escola/professor, pode
ser em minha opinião, um caminho para não ser o "pai mandado" da história.
Para mim, vale a pena tentar.
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